
O advogado Jefferson Moura Costa, suspeito de estuprar uma diarista em Teresina, é um velho conhecido da Justiça, não só por ser advogado. Em 2010, ele foi preso pelo crime de homicídio na cidade de Picos, no Sul do estado. Ele aguardava julgamento em liberdade. Já em 2014, o Ministério Público do Piauí solicitou a prisão preventiva do advogado por envolvimento em um acidente de carro que vitimou duas pessoas na Bahia.
O Ministério Público também informou à Justiça que o advogado já chegou a ser preso em flagrante em Teresina por corrupção ativa, desacato e porte ilegal de arma de fogo.
Um parente do cabo do Exército Arione de Moura Lima, morto em 2010, crime pelo qual Jefferson é acusado, lamenta toda a demora pelo julgamento. “Ele acabou causando dor à vida de muitas famílias. Não só dessas vítimas de estupro recente, como a minha própria família”.
“Então, todos esses anos, ele sempre fez algo errado e ainda assim sempre saiu ileso, sempre saiu imune. E não dá pra continuar assim, a gente precisa por um fim nessa história. Ele precisa ser julgado, ele precisa receber uma medida disciplinar por parte da OAB (Ordem dos Advogados do Piauí). A Justiça não pode deixar que alguém dessa natureza com essas atitudes continue impune”, comenta o parente do cabo.
O advogado, de 45 anos, está preso na Penitenciária Irmã Guido. Mesmo com o registro de advogado suspenso preventivamente pela Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Piauí, a defesa alega que ele não deveria estar em um presídio.
“A defesa fez um pedido para que ele seja transferido de forma imediata para uma sala de estado maior, é uma prerrogativa do advogado, que é diferente de cela especial. Se não for possível, que ele fique em prisão domiciliar”, diz Lucas Ribeiro, advogado de Jefferson.
Sobre as acusações, a defesa do advogado relata que aguarda a conclusão das investigações, para que, no momento certo, possa se manifestar.
Em nota, a 5ª Vara Criminal da Comarca de Picos informou que o processo contra Jefferson segue em tramitação. A audiência de instrução e julgamento já ocorreu e atualmente o processo aguarda o cumprimento de diligencias requeridas pela Defesa. Algumas ações estão em atraso em decorrência da pandemia da Covid-19.
Mais denuncias
Depois que o crime contra a diarista repercutiu na imprensa, quatro mulheres, que também se dizem vítimas do advogado, procuraram a Delegacia da Mulher para denunciá-lo pelo crime de importunação sexual.
Em depoimento, uma delas declarou que “ele perseguia, fazia gestos obscenos, se masturbava. Aconteceu várias (vezes) com outras mulheres”.
A delegada Vilma Alves, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM/CENTRO), comenta que o comportamento de Jefferson reforça a postura de quem se sente acima de qualquer punição. “Ele já fez tudo isso e nunca foi preso. A sensação de impunidade dele é maior do que o poder. Só que agora não há a possibilidade que ele seja solto”.
Diarista faz relato
A vítima conta que, quando chegou ao apartamento do advogado, ele comentou que era casado e a esposa não estaria em casa.
“Eu estava lá na minha casa quando a minha sogra me ligou dizendo que tinha um homem que estava precisando de uma faxineira. Quando eu cheguei lá, mais meu esposo, eu desci da moto. A partir daquele momento que eu entrei, que eu fechei a porta, eu senti que ia acontecer alguma coisa comigo”.
A diarista falou sobre o dia do crime. “Quando ele abriu a porta do quarto, ‘tava’ umas camisinhas jogadas pelo chão. Eu fui pro rumo da sala. Ele estava deitado, lendo um livro, se masturbando. Foi daí que eu falei: ‘vou ser estuprada’. (Ele) me agarrou e falou: ‘você não tem mais escapatória, eu te peguei’. Tirou minha roupa e me jogou num colchonete”.
De dentro do apartamento, ela pediu por socorro. Após o abuso, ela foi até a sacada do apartamento. Ao perceber que o advogado estava distraído, pulou para o segundo apartamento. Depois, saiu escalando até pular para o térreo.
Ela pediu ajuda para algumas pessoas, que a ignoraram no primeiro momento. “Os outros vendo eu pedindo ajuda, eles olhavam para mim e falavam que eu estava era drogada, que eu era louca. Me senti só, desprezada”.
A vítima também relata o descaso dos policiais militares que atenderam a ocorrência. “O policial veio com ele, queria botar ele junto comigo, do meu lado, dentro do carro. Eu falei: ‘eu vou sair desse carro’. Esse homem mexeu comigo todinha e vocês vão botar ele junto comigo, do meu lado, sem algema. Aí ele foi no carro dele, dirigindo”.
Sobre o transporte de vítima e suspeito, o major Marcos Lima comentou que a “orientação da Polícia Militar e do 5º Batalhão é a proteção integral da vítima. Nessas ocorrências, nós primamos pelo bem-estar da vítima”.