Cidade literária: conheça Teresina a partir de seus livros; uma capital, muitas memórias

Obras literárias falam desde o ano de 1852 aos tempos atuais e constroem a memória da cidade.

Foto: Carlienne Carpaso

Edificada entre dois rios – o Parnaíba e o Poti, as ruas, as pontes, as praças e os moradores de Teresina formam cenários para escritores, historiadores, jornalistas e poetas que declaram o amor à capital piauiense ao longo desses 169 anos de fundação. Uma Teresina guardada na memória e eternizada nos livros. Obras literárias que falam desde 1852 aos tempos atuais e que constroem a memória da cidade.

Lucídio Freitas, José de Arimathea Tito Filho (A. Tito Filho), Clodoaldo Freitas, Hindemburgo Dobal Teixeira (H.Dobal), Assis Brasil, Fontes Ibiapina, Abdias Neves e Oton Lustosa são só alguns dos nomes que presentearam a cidade e os seus moradores com escritos.

Com eles, é possível ver o tempo passar a cada página e imaginar as transformações estruturais, políticas, culturais, sociais e econômicas das últimas décadas. Ao versarem sobre a cidade, esses escritores tornam a literatura um rico acesso para compreendê-la. Nos livros, você conhece uma cidade narrada, capaz de lhe acompanhar em uma agradável leitura, do nascer do sol ao entardecer.

Cidade, história e literatura

O Portal ClubeNews traz a você, caro internauta, uma seleção de livros sobre Teresina a partir de obras literárias, com indicações do presidente da Academia Piauiense de Letras, o jornalista e escritor Zózimo Tavares.

Além de conhecimento e informação, essas leituras o transportam para diversos cenários e contam a respeito da fundação, de como surgiu o nome da cidade e o título de “Cidade Verde”. Você vai passear pelo roteiro de surgimento das ruas, das belezas naturais, dos sabores e da batalha do povo teresinense para erguer uma cidade planejada.

É possível, por meio de tantas linhas, se divertir com as histórias do calor; apreciar a saudade em forma de poesia de quem precisou deixar a cidade; saber curiosidades, como a chegada do telefone, do sorvete e do avião ou de como era a diversão e os encontros noturnos antes da era dos aplicativos de mensagens.

Os livros também denunciam as mazelas sociais, com senso crítico, e retratam problemas diários que permanecem mesmo com o passar dos anos.

Presidente da Academia Piauiense de Letras, Zózimo Tavares – Foto: Carlienne Carpaso/Portal ClubeNews

“Vamos dar a essa conversa o título de ‘Teresina através das letras’. Separei livros que a gente pode encontrá-la em todas as suas fases, desde a sua fundação até os dias de hoje; são livros de ficção, de jornalismo e de história. Esses são os livros que a gente tem que ter na cabeceira para conhecer mais e amar mais nossa Teresina. Essa lista não se esgota, mas é uma que sempre tenho na minha mesa quando quero pesquisar sobre Teresina. A bibliografia é muito mais vasta”, comenta Zózimo Tavares.

 

  • História de Teresina, por Clodoaldo Freitas. 

Inicialmente, um folhetim publicado entre março de 1911 e abril de 1912, História de Teresina ressurge ilustrado, comentado e, como todo clássico, atual. A obra de Clodoaldo Freitas proporciona ao leitor um passeio pelos primeiros 60 anos da cidade, a contemplar as instituições e os artefatos urbanos voltados à religiosidade, ao lazer, à instrução, ao comércio, à administração e à filantropia. A segunda edição da obra, que agora se encontra disponível, foi organizada e comentada pelos historiadores Teresinha Queiroz e Ronyere Ferreira, em 2020.

 

  • Roteiro Sentimental e Pitoresco de Teresina, por H. Dobal.

Uma Teresina por meio das crônicas está presente nesse livro do poeta H.Dobal, que é muito conhecido na poesia, mas também possui texto marcante na prosa. No centenário de Teresina, em 1952, escreveu o “Roteiro Sentimental e Pitoresco de Teresina”, que só veio a ser publicado em 1992, pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves, no formato de um álbum. “O livro revive uma Teresina provinciana com seus costumes e manias, com ironia e lirismo”.

 

  • Teresina Meu Amor e Cronista da Cidade Amada, por A. Tito Filho.

O livro “Cronista da cidade amada”, do professor A. Tito Filho, ex-presidente da Academia Piauiense de Letras, foi lançado em 1992 pela Fundação Monsenhor Chaves. “É um livro de historietas breves e perfis de pessoas conhecidas na cidade”, conta Zózimo. A.Tito Filho também tem o livro “Teresina Meu Amor” com crônicas repletas de curiosidades e citações de outros poetas que falam do carinho pela cidade, pode-se até falar em um “pequeno diário pessoal”. Ele é conhecido como o cronista mais apaixonado por Teresina.

 

  • Meia-vida, por Oton Lustosa.

Lançado em 1999, com edição relançada em 2016 pela Academia Piauiense de Letras (APL), o “Meia-vida”, do escritor e acadêmico Oton Lustosa, é “um romance urbano que traz a cidade como a gente praticamente conhece hoje em dia, com a vida no Centro, vida das pessoas comuns, uma Teresina mais contemporânea”. Ele faz parte da coleção centenário da APL.

 

 

 

  • Teresina – um olhar poético, organizado por Salgado Maranhão

O livro “Teresina: um olhar poético” foi organizado pelo poeta Salgado Maranhão e publicado pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves em 2010, com rico material fotográfico. “Nesse livro, vários poetas da cidade, do passado e do presente, mostram Teresina poeticamente”, conta Zózimo Tavares. Essa obra possui 139 páginas com ilustrações da fotógrafa piauiense Margareth Leite.

 

  • Rua da Glória, por Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro.

Carlos Augusto Monteiro, literato e geógrafo, em “Rua da Glória: rumo à cidade nascente”, fala sobre Teresina de 1850 a 1896.  O livro, que tem quatro volumes, foi lançado em 2015 pela editora da Universidade Federal do Piauí. O título faz referência ao nome da rua em que o autor nasceu e viveu até os 18 anos. Ele reúne crônicas e narrativas com imagens e documentos históricos sobre o modo de vida dos personagens que viveram na cidade no período provincial.

 

 

  • O Piauí no Século 20 – 100 fatos que marcaram o estado, por Zózimo Tavares.

Esse é um roteiro pelo “Piauí do século XX, que conta os 100 fatos que marcaram o estado de 1900 a 2000”. A obra está na 5ª edição e é recomendada pelo professor Manoel Paulo Nunes, ex-presidente da Academia Piauiense de Letras, como uma espécie de “Almanaque de Teresina”. A obra é repleta de fotografias históricas.

 

  • Teresina, por Paulo Gutemberg. 

Em uma perspectiva mais moderna, com muitas imagens históricas e icônicas da cidade, tem-se o livro “Teresina”, do jornalista e historiador Paulo Gutemberg. Ele conta como a cidade nasceu e seus aspectos urbanos com seus primeiros dramas sociais, como a questão ambiental. A edição é de 2004, lançada pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves pela Lei A. Tito Filho.

 

  •     Teresina, subsídios para a história do Piauí, por Monsenhor Chaves.  

Joaquim Raimundo Ferreira Chaves, o Monsenhor Chaves, foi um dos mais importantes historiadores piauienses. O livro “Teresina, subsídios para a história do Piauí”, com primeira edição de 1952, traz os primeiros documentos da vida da cidade, da vida religiosa e das fases históricas da cidade. Com edição também em 1994 pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves, que leva o seu nome.   

 

 

  • Um manicaca, por Abdias Neves.

O livro “Um manicaca”, de Abdias Neves, é de 1910. “É um livro que retrata Teresina literariamente naquele momento. Teresina aparece muito pouco em romance, aparece mais na poesia e na crônica. Esse é um dos principais, do começo do século XX. O livro descreve uma cidade com os seus costumes da época”.

 

  • Palha de arroz, por Fontes Ibiapina. 

Outro romance que retrata os anos 40 em Teresina, mas com lançamento em 1968, é o “Palha de Arroz”, de Fontes Ibiapina, advogado, juiz e escritor.  Esse livro retrata os incêndios nas casas de palha, nos bairros pobres vizinhos ao centro urbano. Ele reconstitui a cidade daquele tempo. “Romance que deve ser conhecido por todos”, defende Tavares. Fontes faz uma reflexão sobre o pobre e sua condição de pobreza em Teresina na metade do século XX.

Novos poetas

O professor e historiador Vinicius Cardoso acrescenta mais nomes à nossa lista de livros. Ele conta que os poetas são “cronistas” do nosso dia a dia, do cotidiano da capital e, ao falar dos “novos poetas de Teresina”, Cardoso conta que a obra deles está recheada de passagens da capital.

“Cito a Renata Flávia com o seu livro ‘Mar grave’. Uma juventude que ocupa espaços, às vezes, marginalizados, principalmente o Centro da cidade, e escreve de forma lírica sobre isso. Que faz termos uma visão de como pensam eles, como eles veem as pessoas desses locais, enfim, um espaço virtual criado que pode dizer muito sobre o real”.

Escritora Renata Flávia – Foto: Arquivo Pessoal

Mar Grave (2018)  é  uma coletânea de poemas e, assim como sua sequência, o Lustre de Carne (2019), traz a vivência escrita como caminho do corpo e da cidade. Dividido em três partes: obsidiana, histeria e voragem. Essas palavras do feminino, segundo Renata Flávia, unem poesias escritas pelo caminho e seria impossível escrever poesia sem ver a cidade que ela percorre.

“Ao contrário do que muito se fala das faltas de Teresina, percebo, graças à visão também de outros poetas daqui, os detalhes que distinguem a minha cidade. É no percorrer de suas praças e das suas memórias, muitas vezes secretas, que o charme da cidade se revela. Teresina exige que para vê-la é preciso buscar seus segredos. E muito desses segredos estão na nossa literatura”, defende Renata Flávia.

Literatura é arte, inspiração 

Para o professor e escritor, doutorando em História do Brasil, Ronyere Ferreira, que é um dos organizadores da segunda edição do livro de Clodoaldo Freitas, a “literatura é arte, inspiração, afetividade, uma maneira de significar a sociedade, o outro e suas experiências, de construir alteridade, de compreender nossa pequenez perante a complexidade da realidade”.

“Mergulhar na literatura piauiense é ir ao encontro com a nossa história, com os nossos costumes, com as nossas tradições, com os caminhos que nos trouxeram até aqui. Conhecer as obras de Clodoaldo Freitas, Abdias Neves, Jônatas Batista, O. G. Rego de Carvalho e Assis Brasil, apenas para citar alguns autores de diferentes gerações, é um gesto de se olhar no espelho, de se permitir a perceber outras maneiras de organização social, de relações pessoais e de sujeitos em pleno exercício de suas possibilidades de existir”, diz Ronyere Ferreira.

O professor reforça que, “em tempos marcados pelo silenciamento, a literatura piauiense oferta narrativas leves, criativas e potentes, que contribuem para compreender o passado e o presente”.

 

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