2 de junho de 2025

Nossos dados valem quanto?

Thiago Carcará

Publicado em 20/09/2021 16:11

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Foto: ionsistemas

Grandes corporações da internet têm armazenado durante anos dados de usuários para fins, iniciais, de melhorar o desempenho de seus produtos e serviços na rede de computadores. Neste mesmo sentido, só que há séculos, a informação tem sido uma das maiores armas para dominação e conquistas por todo o globo e, dessa forma, valorizada ao extremo. O poder da informação, portanto, nunca foi questionado, entretanto, o que tem sido questionado nos últimos anos, é o quanto a informação pode influenciar e o quanto vale a informação.

A disputa sobre o acesso à informação no último ano de mandato do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ficou escancarada em prol da proteção de dados no âmbito internacional com o conflito entre o aplicativo Tik-Tok, de origem chinesa, e o Instagram, de origem americana. O motivo maior seria o acesso a informação. Mas que informação é essa tão valiosa a ponto de criar crises internacionais entre grandes nações? Não se trata apenas de nome, CPF, CNPJ, RG e endereço, cujas informações não dizem muitos sobre nós, mas servem, em especial, para criminosos virtuais praticarem extorsão e crimes bancários, o que por si só já gera um grande dano pessoal e público.

O conhecimento sobre o nosso comportamento, o que gostamos, o que compramos, aonde vamos, com quem estamos, qual nosso interesse, qual nossa preferência política. O que pensamos! Essa é a informação que as grandes nações buscam e que as grandes nações querem proteger. Na conjuntura atual, em que bens úteis e necessários à população são produzidos com uso de insumos restritos, o poder da informação determina o mercado global, a geopolítica e a ideologia predominante nas próximas décadas.

Diante de tal valor, imensurável, os países buscam preservar sua soberania das influências externas, tanto por conta das corporações multinacionais que detém acesso informações privilegiadas, quanto das agências de inteligências que buscam fornecer aos governantes mundiais conhecimento sobre o comportamento humano. Tais informações permitem à chamada Industrial Cultural replicar padrões de interesse específico, com intuito de conformar consumidores, usuários e o povo, a se comportar conforme o melhor interesse.

Por isso a importância da Lei Geral de Proteção de Dados, conhecida como LGPD, a qual objetiva proteger os dados sensíveis de toda população brasileira, bem como a troca de informações entres as corporações empresariais. A fama maior criada por tal discussão ascendeu com o documentário intitulado “Privacidade Hackeada” a qual deixou claro como as redes sociais influenciam diretamente nas decisões políticas de um país, haja vista o grande e privilegiado acesso à informações sobre o comportamento e de como acessar “insights” da mente humana com o propósito de despertar interesses políticos específicos.

Diante disto, a LGPD protege dados sensíveis da população brasileira, mas também não restringiu a venda de dados entre corporações, desde que respeitado o interesse do consumidor/usuário em ceder suas informações, assim o maior e melhor interesse continua sendo do cidadão, que pode ou não autorizar o fornecimento de seus dados, sabendo, assim, que o preço a ser pago por tal concessão de informações vai desde ditar comportamentos sociais até influências políticas, que podem influenciar nossa geopolítica e a economia global.

Jamais menospreze o intitulado “Aceito” nos contratos de adesão estabelecidos por aplicativos que buscam, sobretudo, ter acesso aos seus dados, que são sim, valiosos para sua privacidade e para toda nação.

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