Especial: Dia de Finados e o luto de quem perdeu alguém para a Covid

Especialista dá dicas de como vivenciar o luto saudável

“Luto é cuidar da dor e pegar a saudade no colo”, diz psicóloga. (Foto: arquivo Agência Brasil)

Lucy Brandão
lucy@tvclube.com.br

O dia oficial do luto, 2 de novembro, ganhou ainda mais significado em meio à pandemia de Covid-19, quando o mundo registra mais de 5 milhões de mortos. Pelo segundo ano seguido, o Dia de Finados é ainda mais doloroso para quem perdeu alguém muito querido para o coronavírus. Mais do que um número nos dados estatísticos, são pessoas que perderam a vida, que eram mães de alguém, pais, avós, irmãos e amigos queridos.

A psicóloga especialista em luto, Patrícia Moreira, alerta para a necessidade de vivenciar esse momento de tristeza da maneira saudável.

“Cuidar do luto é admitir que está doendo, permitir ser cuidado e falar sobre a saudade, a raiva, o choro e tudo relativo ao luto. É antes de tudo cuidar da dor e pegar a saudade no colo”.

Patrícia explica que para algumas pessoas faz muito sentido visitar cemitérios ou ir a missas, reuniões em família, outras pessoas fazem homenagens nas redes sociais. “Mas para outras pessoas nada disso faz sentido. Está tudo bem também não realizar alguns rituais sociais. O mais importante é fazer aquilo que faz sentido para você e que pode ajudar neste momento difícil”, indica a profissional.

Dor da perda
Além do ritual e da saudade, em muitas pessoas fica a marca de não poder se despedir como antes da pandemia. “Fica aquele vazio de não ter visto uma última vez, de não ter dito aquele ‘eu te amo’, é muito doloroso”, desabafa a comunicadora Raisa Magalhães, que perdeu o pai em maio de 2020, logo no início da pandemia de Covid-19, quando até os velórios eram proibidos.

Ela conta que, além da dor de perder o pai, foi um período difícil em que não era permitido visita-lo no hospital, a família não pôde vê-lo quando recebeu a notícia da morte e nem mesmo teve a chance de fazer um velório adequado.

Essa dor a aposentada Carmem Sousa também conheceu de perto. Ela perdeu a mãe Maria Luiza, de 81 anos, para a Covid. “Essa pandemia levou não só os nossos amores, pessoas que amamos, mas também a oportunidade de nos despedir com leveza. Dói muito não tê-la aqui. E dói também não ter conseguido enterrar minha mãe em uma cerimônia bonita, queria enchê-la de flores, botar o vestido mais bonito, mas não consegui. Ela estava em um saco”, conta.

(Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Viver o luto
Um aspecto importante do dia 2 de novembro é que as pessoas, oficialmente, revivem memórias relativas a perda, de acordo com a psicóloga Patrícia Moreira. “Esse dia faz ampliar a saudade das pessoas amadas. É um momento de muita dor para a maioria dos enlutados. Grande parte sente reações de luto como se fosse o próprio dia da morte. Mas essas reações são esperadas”, afirma.

A psicóloga explica que o luto como uma resposta emocional após uma perda significativa é um momento que precisa ser vivido. “É importante perceber as emoções que se apresentam. Se permitir chorar, ficar triste mas compartilhar isso com alguém. Expressar as emoções relativas a esse sofrimento”, indica a profissional.

Patrícia indica ainda que as pessoas relembrem os bons momentos com aqueles que já se foram, contem histórias e revivam a saudade do ponto de vista positivo. “Tente responder: que marca essa pessoa amada deixou em sua vida? O que foi marcante? O que essa pessoa gostava de fazer? É isso que vai trazer sentido neste escombro de dor emocional. Cuide de si e continue escrevendo sua história mesmo com a ausência física dessas pessoas”.

É assim que a jornalista Raisa Magalhães pensa e tenta seguir em frente. “Ouvi alguém falar uma vez que a gente precisa acreditar que todas as pessoas que se vão continuam à nossa volta e que, de alguma forma, elas estão olhando a gente, de algum lugar. Eu sempre vou acreditar muito nisso pois seria doloroso demais ter que imaginar o mundo sem você, pai. Te amo!”.

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