7 de julho de 2025

Pobreza urbana e o colapso do transporte público em Teresina

João Victor

Publicado em 07/11/2021 11:00

Compartilhe:

O isolamento social têm sido uma realidade em Teresina nos últimos meses, mas não me refiro à necessidade de distanciamento para redução da disseminação do vírus. O isolamento é expresso pela exclusão do direito de ir e vir na capital piauiense decorrente do colapso do transporte público municipal.

A precariedade da rede de transportes, ao mesmo tempo que conforma uma barreira que limita o acesso dos indivíduos à cidade, intensifica a pobreza e expõe a população ao risco de contaminação por Covid-19 nos ônibus lotados, ao risco de assalto nas paradas de ônibus nas periferias da cidade e até mesmo o risco do desemprego, pelos altos custos de deslocamento de casa ao trabalho.

Se não bastasse as altas recorrentes no preço dos combustíveis, que já supera a marca de R$ 7,20 na capital (quase três vezes mais caro que há 5 anos atrás, em 2016) e o baixo nível de renda da população piauiense (agravado pela crise), a precariedade do sistema de transportes urbanos de Teresina dificulta ainda mais o acesso dos Teresinenses aos espaços urbanos.

O desacordo entre a Prefeitura Municipal de Teresina e o grupo de empresários do setor de transportes coletivos na capital têm custado à população meses de restrição na locomoção urbana. A precariedade do serviço é inclusive um empecilho à retomada da economia na capital, na medida em que restringe a circulação de pessoas e consequentemente limita as transações econômicas.

O problema dos transportes já seria muito grave em tempos “normais” e é ainda mais severo sob o contexto pandêmico. Como manter o isolamento social em um coletivo lotado? A exposição ao vírus nem sempre pode ser evitada e expõe significativamente a população mais pobre, que depende de várias conduções diárias, à desproteção e pobreza sanitária.

Pobreza esta já latente pela deterioração das condições de vida e pelo isolamento forçado sobre a periferia da cidade, cada vez mais distante do centro e do aparato urbano da capital. Os altos custos de transporte e o longo tempo perdido na espera e percurso através dos ônibus coletivos são fatores que dificultam o desenvolvimento humano e econômico, excluindo espacialmente, economicamente e sanitariamente a população mais pobre na capital.

Estas questões afetam a todos e não são restritas à população que usa e depende de transportes públicos. A impossibilidade de acesso aos ônibus implica na elevação da demanda por transportes por aplicativo, no aumento da demanda por transportes privados, o que provoca ainda mais pressão sobre os preços dos combustíveis.

Transportes coletivos são bens coletivos, sociais, urbanos e devem ser preservados. Sua precariedade, principalmente em tempos pandêmicos, simboliza a pobreza do povo teresinense, desprovido do direito básico de ir e vir e nega o próprio Artigo 5 da Constituição Federal, pois, em analogia à George Orwell, poderia dizer que “todos os cidadãos teresinenses são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”.

 

 

 

Leia também: