Estudo recente divulgado pelo Mapa da Inadimplência indica que em média 750 mil piauienses estão endividados, aproximadamente 1 em cada 4 cidadãos no estado. Este dado alarmante representa um problema não só para os indivíduos endividados. Ele deve ser encarado como um problema amplo que impacta sobre toda sociedade.
Considerando a taxa de desemprego no estado de aproximadamente 14,9%, existe uma forte demanda reprimida que desestimula inclusive os investimentos e atividades industriais, o que dificulta a retomada do emprego e consequentemente redução dos níveis de endividamento. O que fazer diante deste cenário complexo?
Por outro lado, empresários, principalmente de pequeno porte, relatam constantemente as dificuldades para ofertar mais vagas de emprego em virtude dos altos custos trabalhistas e da baixa previsão de vendas.
A solução imediata que pode vir em mente é a redução dos custos do trabalho, via redução salarial e flexibilização de direitos trabalhistas. Isto foi proposto e institucionalizado em 2017 via Reforma Trabalhista, porém o que se verificou desde então foi uma manutenção de altos níveis de desemprego e um aumento significativo os níveis de inadimplência da população. Paralelamente, o salário mínimo tem sido ajustado somente com base na inflação do ano anterior, sem considerar o crescimento da economia, o que tem reduzido o poder de compra dos trabalhadores.
Por que não conseguimos o êxito a partir da redução dos custos do trabalho, a partir da reforma e com base na mudança do cálculo de reajuste do salário mínimo? É simples, se não há perspectiva de vendas, o empresário não tem interesse em contratar, e se há menor contratação e maior desemprego, a renda disponível às famílias reduz, consequentemente a demanda e as vendas. Desempregados tendem a buscar formas informais de ocupação, com menores remunerações, o que tende a elevar sua inadimplência. É um processo cíclico e a solução não deve vir apenas de um lado.
O principal motor da atividade econômica brasileira, respondendo por aproximadamente 60% do crescimento do produto, é o consumo das famílias.
A redução e flexibilização dos custos do trabalho podem parecer benefícios aparentes para os empregadores, mas são particularmente negativas para eles. Sem vendas, não há novos investimentos, sem novos investimentos, não há crescimento ou aumento do emprego. Sem aumento do emprego, reduz-se a renda e aumenta-se a inadimplência, o que reduz as vendas e lucros.
A valorização do salário mínimo é um direito do trabalhador e um benefício para os empresários, com impactos positivos sobre toda sociedade. Compreender isto de modo amplo é fundamental para que saiamos do contexto de crise que se agravou, “mesmo” após as reformas ocorridas nos últimos anos.
O Piauí é um dos estados mais pobres do Brasil, com problemas fiscais e estruturais já conhecidos, com forte dependência de políticas federais para transferência de renda e das leis trabalhistas nacionais. O alto desemprego e a alta inadimplência no Piauí são um reflexo da fragilidade econômica e tendem a dificultar a retomada da economia do Estado. Elevar o salário básico e retomar direitos trabalhistas é caminho fundamental não só para retomar a dignidade do trabalhador, mas para trazer novamente esperança de prosperidade para a sociedade piauiense.
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