18 de outubro de 2025

Presa por engano, candidata perde o Enem e fala da injustiça sofrida em Teresina

Editora
Publicado em 27/11/2021 13:03

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A estudante Maria da Penha dos Santos foi presa por engano em Teresina (Foto: arquivo ClubeNews)

A estudante Maria da Penha dos Santos sofreu na pele por diversas vezes a dor da injustiça ao ser retirada da sala em que fazia a primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médico (Enem), no último domingo (21), em Teresina, ao ser confundida com outra pessoa e sair presa de dentro da escola. Ela estava na companhia da filha e do marido, que também faziam a prova na mesma sala. “Eu fui passando invisível. Um erro após o outro”, conta.

Por um momento, Maria da Penha achava que estava sendo levada pelos policiais por conta de uma bombinha de ar – já que sofre de asma – e levou para a sala de aplicação da prova.

Ao questionar a prisão, ela foi informada que o motivo era o cumprimento de um mandado de prisão em aberto – expedito pelo Tribunal de Justiça do Ceará. De fato, o nome dele e da mãe eram os mesmos, mas o nome do pai era diferente. Ela tentou se defender, mas foi ignorada, disse em entrevista exclusiva à TV Clube.

“Eu disse que não era eu, que o mandado não era para mim. Que em hipótese nenhuma eu cometi um crime, de nenhuma natureza. Ainda mais um que me levasse a ser tirada da frente da minha filha, do meu marido, que eles ficaram na sala, sem saber absolutamente o que tinha acontecido porque eles não podiam sair”.

Em busca pelo processo judicial,  a equipe da TV Clube descobriu que o mandado em aberto seria contra uma mulher natural de Petrolina, Pernambuco, pelo crime de “denunciação caluniosa”.

Depois de ser presa, Maria da Penha  foi levada para o Instituto de Medicina Legal (IML) para fazer o exame de corpo de delito (procedimento comum em prisões para garantir a integridade física da pessoa presa).  Depois, foi encaminhada para a Central de Flagrantes, onde ficou em uma cela.

“Naquele momento eu era outra pessoa, tratada como outra pessoa. Eu era tratada como uma criminosa”.

A aluna foi presa enquanto fazia a prova do Enem em Teresina (Foto: SSP-PI)

O advogado amigo da família, Éfrem Cordão, ao saber da prisão, foi até a Central de Flagrantes e tentou fazer com que o erro fosse desfeito, mas somente na audiência de custódia conseguiu convencer a magistrada.

“Não é possível que a pessoa tendo se identificado, mostrando que não era o mesmo pai, não era ouvida. Isso talvez seja por conta da cor da pele por se tratar de uma mulher negra. O direito básico da pessoa é ser ouvida”, denuncia.

O delegado Willame Morais conta que o único dado pessoal que não correspondia ao mandado de prisão era o nome do pai.

“Nós ao identificarmos o mandado de prisão da Maria da Penha constava o nome dela, o nome do pai, da mãe, não constava mais nenhum outro dado pessoal de identificação. A Polícia abordou a aluna, solicitou que mostrasse uma identificação, ela mostrou a carteira de identidade. Essa carteira de identidade tinha o nome do pai, da mãe, RG, CPF. O CPF que constava na carteira de identidade era o mesmo CPF encaminhado pela Polícia Federal. O único dado que não batia era o nome do pai, que era divergente”, explica o delegado

A filha, Yarla Santos, fala do desespero quando a mãe saiu da sala, sem saber o motivo da ausência. “A partir do momento que ela saiu da sala de aula, me prejudicou porque eu não conseguia ler as questões, assimilar nada porque o pensamento estava nela. E a dúvida: qual seria o motivo?”

A família mora na zona rural Leste de Teresina.  Maria da Penha estuda na companhia do marido e da filha, que também são candidatos ao Enem, para cursar Licenciatura em Letras – Inglês. A filha e o marido fizeram a prova. Já ela ficou impedida de continuar com o sonho de ingressar no Ensino Superior neste ano.

“Mulher, mãe solo, negra, pobre. É difícil. É um peso que você tem que carregar, mas se ninguém quiser me ajudar, muito me basta que não me atrapalhe. Se ninguém quiser me impulsionar para a frente; pelo menos não me puxe para trás. Eu tenho coragem, tenho força, vou à luta”.


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