7 de julho de 2025

Brasil em recessão técnica e a profundidade da crise brasileira

João Victor

Publicado em 05/12/2021 11:00

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O Brasil apresentou queda no PIB no segundo e no terceiro trimestres de 2021, o que configura o cenário de recessão técnica. Puxada pela queda do agronegócio, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no país revela a frágil dependência do país em relação a atividades primário exportadoras.

A aparente contradição, em meio à recessão, está na “redução da desocupação”, decorrente da maior quantidade de brasileiros ocupados em atividades informais e precarizadas. Afinal, de que serve o crescimento econômico e quem se beneficia?

É preciso que se posicione o trabalhador brasileiro no centro estratégico dos objetivos de política econômica no país. É inadmissível que um país tão dependente da produção agrária seja incapaz de garantir um mínimo de acesso à alimentação sua população mais pobre.

Mais do que o resultado econômico ruim dos trimestres, em termos objetivos, é preocupante que o agronegócio, tão determinante no nível de crescimento econômico brasileiro, pouco contribui para o desenvolvimento do país e para a qualidade de vida da população.

Bem se nota ao se observar as prateleiras dos supermercados e o prato dos brasileiros. O Brasil é o segundo maior produtor de carne e isto hoje é quase artigo de luxo no país. Ora, de que adiantaria um resultado positivo das safras e criações no terceiro semestre? Em que estes setores têm contribuído para a vida do trabalhador brasileiro?

É preciso pensar em estratégias que alinhem o potencial econômico do país com as reais necessidades do trabalhador brasileiro, pois de nada valeria um resultado positivo no PIB sem mecanismos de democratização do acesso à riqueza mais básica que é o alimento.

A dependência brasileira da exportação de produtos agrários não é novidade, porém, por muito tempo, coexistiu com um mercado interno pujante fundado na dinâmica do mercado de trabalho. As reformas institucionais adotadas nos últimos anos implicaram no desmonte do mercado de trabalho no país, com redução significativa do grau de formalidade, principalmente em tempos de crise.

Não é surpresa que aumente a cada dia o número de ocupados no país em setores uberizados e desprovidos de seguridade social. Mais que isso, nota-se a dificuldade de trabalhadores migrarem da informalidade para trabalhos formais, o que os configura como “ocupados”, apesar de desprovidos de direitos, e serve de maquiagem para o real desempenho econômico do país.

A redução da desocupação no terceiro trimestre de 2021, coincidente com o cenário de recessão técnica, não é um fato contraditório. É causa direta da precariedade econômica do país. Alimentos mais caros exigem maiores cargas de trabalho, o que pesa sobretudo sobre os trabalhadores informais, que passam a não mais conseguir distinguir o que é tempo livre e tempo potencialmente utilizado para o trabalho.

Ocupados que trabalham por 12, 14 horas por dia e mal conseguem comer carne, que não têm acesso a instrumentos adequados de segurança no trabalho, que não gozam de repouso remunerado ou direitos trabalhistas básicos conquistados nas últimas décadas e agora em retrocesso, não podem ser de fato utilizados como exemplo positivo sobre o desempenho brasileiro recente.

O aumento do nível de ocupados sob tais condições, sob recessão técnica ou não, é alarmante e nos exige reflexão sobre os rumos que tomamos em sociedade. Se os resultados do agronegócio no terceiro trimestre tivessem sido positivo, mesmo recordes, pouco ou nada mudariam nesta realidade e portanto não devem ser considerados o epicentro desta questão. Oficialmente o país entra em recessão técnica, porém a depressão da sociedade brasileira é algo um tanto mais profundo.

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