
Lucy Brandão
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Com a chegada do novo ano, o portal ClubeNews publica uma série de reportagens especiais com o olhar de especialistas piauienses para 2022. Para o economista Clenilson Cruz, o ano que vem é de muitas incertezas na área que é uma das propulsoras do desenvolvimento do Brasil. “Uma única palavra pode resumir o canário para a economia em 2022: incerteza. O ‘Senhor Mercado’ é muito instável e qualquer alteração, seja por fato econômico ou extraeconômico, pode modificar completamente essa expectativa”, adiantou.
O especialista destaca os fatores que podem interferir no desempenho econômico e melhorar o cenário ou agravá-lo ainda mais. “Entre os [fatores] extraeconômicos, conhecidos até o momento, temos a rápida disseminação do vírus COVID, em sua variante Ômicron, além a incerteza sobre a possibilidades de novas variantes”, explica.
Em 2021 os fatores econômicos como a inflação, que provoca alta dos preços, fez o bolso do brasileiro sofrer. “O brasileiro, de maneira geral, tem sofrido com a redução do seu poder de compra neste ano de 2021 em função da inflação. Isto ocorre principalmente para os de mais baixa renda, que destinam a maior parte de seus recursos para aquisição de serviços essenciais, como alimentação, transporte e moradia (gás e energia), cujos aumentos impactaram significativamente seus orçamentos”, detalha Clenilson.
Já para 2022, o economista enxerga um ano melhor para o bolso dos consumidores. “Para o ano de 2022 a expectativa do BC é que a inflação se estabilize em torno de 5% (seta azul escuro). Isso já seria um alívio. Se não houver nenhum fato superveniente ao longo do próximo ano, é sim, muito provável que essa expectativa se confirme. Contudo, o ‘Senhor Mercado’ é muito instável e qualquer alteração, seja por fato econômico ou extraeconômico pode modificar completamente essa expectativa”.
Especificamente para a economia piauiense, o economista Clenilson Cruz prevê um baixo crescimento em 2022. A explicação, segundo ele, é que o estado é muito dependente de recursos repassados pela União, a exemplo do Fundo de Participação (transferência de recursos realizada pelo governo federal para os estados e municípios).
Confira a entrevista completa com o economista.
Clenilson Cruz – Economista.
(Foto: arquivo pessoal)
Portal ClubeNews: Na área de economia, quais as perspectivas para 2022?
Clenilson Cruz: O ano de 2022 se nos apresenta uma incógnita. Sua descoberta não é fácil. Fatos econômicos e extraeconômicos têm afetado a economia. Entre os extraeconômicos, conhecidos até o momento, temos a rápida disseminação do vírus COVID, em sua variante Ômicron, além a incerteza sobre a possibilidades de novas variantes. Entre os econômicos podemos dividir nossa análise em macroeconômicos e microeconômicos. Entre os macroeconômicos temos a inflação, a redução do PIB e o crescimento do desemprego como os principais. O Banco Central tem atuado para amenizar os efeitos da inflação por meio do aumento dos juros. O problema é que isto tem impacto nas contas do governo, que tem feito manobras fiscais para reduzir uma possível piora no cenário já existente. Na microeconomia, a insegurança do consumidor, a sua redução de renda disponível e do seu poder de compra em função da inflação e desconfiança do empresário em relação ao futuro acabam por limitar novos investimentos. Diante disso, uma única palavra pode resumir o canário para a economia em 2022: incerteza.
Portal ClubeNews: Para o bolso dos brasileiros, a tendência é que a economia se estabilize? Como você vê, de forma geral, aspectos como inflação e poder de compra dos brasileiros para 2022?
Clenilson Cruz: O brasileiro, de maneira geral, tem sofrido com a redução do seu poder de compra neste ano de 2021 em função da inflação. Isto ocorre principalmente para os de mais baixa renda, que destinam a maior parte de seus recursos para aquisição de serviços essenciais, como alimentação, transporte e moradia (gás e energia), cujos aumentos impactaram significativamente seus orçamentos. Contudo, a ação do Banco Central de restringir o crédito, por meio do aumento das taxas de juros SELIC, tendem a reduzir a inflação, desaquecer a economia, e estabilizar os preços não controlados pelo governo. Contudo, neste ano a maior parte da inflação foi provocada justamente pelos preços administrados. Isto pode ser visto na imagem abaixo. Como o próximo ano é de eleição, a expectativa é que os preços administrados tenham seus reajustes “controlados”.
Como podemos observar no Relatório Focus do Banco Central, a expectativa é que a inflação feche o ano de 2021 em 10%. Para o ano de 2022 a expectativa do BC é que a inflação se estabilize em torno de 5%. Isso já seria um alívio. Se não houver nenhum fato superveniente ao longo do próximo ano, é sim, muito provável que essa expectativa se confirme. Contudo, o “Senhor Mercado” é muito instável e qualquer alteração, seja por fato econômico ou extraeconômico pode modificar completamente essa expectativa.
Portal ClubeNews: De forma macro, quais as perspectivas para a economia no Brasil e no Piauí em 2022 – mercado de trabalho, comportamento do dólar, preços administrados pelo governo (a exemplo da gasolina), investimentos em geral e juros?
Clenilson Cruz: Diante do cenário apresentado até aqui, o que se pode esperar para 2022 é uma economia com baixo crescimento, tanto no Brasil como no Piauí, pois o estado cresce muito à reboque da nação e ainda depende muito do Fundo de Participação (transferência de recursos realizada pelo governo federal para os estados e municípios).
A expectativa do PIB é inferior a 1% (seta verde). Dito isso, não se pode esperar muito para a geração de emprego e renda “em massa”, ou seja, contratação para chão de fábricas e em grande número. A tendência é que haja um aumento na contratação de mão de obra especializada, à semelhança do que ocorreu ao longo de 2020 e 2021, especialmente para negócios ligados à internet.
Com o dólar não há, no momento, uma expectativa de alteração no câmbio. Diante de um cenário de estabilidade na Balança Comercial, de uma redução nos Investimentos Diretos no País (IED) – pois o investidor internacional analisa a perspectiva de retorno sobre seus investimentos e, dadas as expectativas, a relação risco/retorno no Brasil não é “boa” – e de uma Dívida Pública, que tende a crescer no próximo ano, especialmente pelo fator “eleições”, o dólar deve “oscilar” entre R$ 5,00 e R$ 6,00 reais.
Já os preços administrados, diferentemente do que aconteceu em 2021, tendem a ter um menor impacto sobre a inflação em 2022. Isso porque “grandes aumentos” já ocorreram neste ano e, considerando que o ano de 2022, é um ano eleitoral, haverá uma “resistência” do executivo em “permitir” novos aumentos, especialmente nos preços relacionados a moradia, como energia. Mesmo a gasolina, que depende muito mais de fatores internacionais, depois de atingir um pico em 2021, tende a reduzir seu preço no próximo ano, dado que a expetativa é que o petróleo brent (petróleo bruto) passe a ser negociado nos mercados futuros a um preço menor que o praticado hoje, especialmente pelo aumento da produção pelos países da OPEP.
Por fim, a análise dos investimentos pode ser dividida em duas partes: investimentos externos, que como vimos anteriormente no Relatório Focus, tendem a se reduzir; e os internos, que devem seguir na mesma direção, pois este sofre o impacto direto do aumento dos juros SELIC, que segundo o Banco Central, devem permanecer em patamares acima de 10%, pelo menos nos primeiros meses de 2022 (seta cinza). Juros maiores encarecem o crédito e, como consequência, reduz o consumo, já que o brasileiro ainda depende muito de empréstimos e financiamentos para adquirir bens e serviços. Menor consumo, menor investimento.
Portanto, à sombra de uma recessão técnica no Brasil, vivida agora no terceiro semestre de 2021, e de um cenário pouco promissor para 2022, e das incertezas das consequências que uma economia globalizada pode gerar em nosso país, espera-se o bom senso das autoridades na condução da política econômica, pois o diagnóstico descrito não pode produzir em nós como sociedade um “fatalismo” generalizado, e sim, um movimento em direção à sua alteração e correção.