
Foto: Isac Nóbrega/PR
Um dos problemas macroeconômicos fundamentais é o desemprego. O sujeito desempregado sofre para se manter economicamente e é afligido por males psicossociais amplos. Porém, a situação é ainda mais grave para os “invisíveis”. Como conseguir emprego, se o indivíduo não possui documentação, se não possui moradia, se não lhe dirigem a palavra pelo seu nome?
A quantidade de pessoas em situação de rua aumentou exponencialmente nos últimos anos e, em virtude da precariedade sanitária e de catástrofes naturais como alagamentos, alarga-se e revela uma face bastante sensível do déficit habitacional de nossa sociedade.
O déficit habitacional pode ser compreendido como um indicador que qualifica a qualidade das moradias no Brasil. Não há déficit somente quando não há uma habitação, mas também quando as condições de moradia não são adequadas. A pobreza está diretamente relacionada a este indicador, seja devido à baixa capacidade em abastecer a casa com o que é necessário para uma vida saudável, ou mesmo pelo fato de populações mais pobres tenderem a viver em zonas de risco e com pior abastecimento sanitário. Um estudo realizado por TCP Parners revela que aproximadamente 6,1 milhões de famílias estiveram em condição de déficit habitacional em 2021, muito devido à crise econômico sanitária agravada pela Covid-19.
Comumente em tempos de crise, busca-se medidas estratégicas para retomar o nível de emprego e garantir simultaneamente dignidade aos mais pobres e perspectivas positivas de demanda no mercado. A crise da Covid-19 revelou um elemento novo: milhões de brasileiros não possuem nem ao menos documentação, muito menos acesso a contas bancárias, o que dificulta significativamente que consigam empregos. Dados do IBGE de 2015 apontam que cerca de 3 milhões de brasileiros não possuem nenhum documento, enquanto informações de 2021 apontam que cerca de 16 milhões de adultos no Brasil são “desbancarizados”.
Estas pessoas, tratadas como invisíveis, são marginalizados inclusive dentre o público-alvo de políticas de geração de emprego. Como mensurar a população potencialmente disponível a trabalhar se não há registros civis ou bancários sobre estas pessoas? Grande parte destas pessoas vive em condição de rua e precisa mais urgentemente que lhes sejam garantidas condições dignas de cidadania, com documentação e moradia própria, para que então possam ter condições de buscar empregos formais. Esta temática é muitas vezes marginalizada em discussões econômicas, porém se torna cada vez mais latente em virtude da crise econômico sanitária (covid-19 e alagamentos) a qual estamos expostos.
Para agravar ainda mais a situação, enchentes em todo o país têm atingido milhares de famílias, principalmente mais pobres que vivem em áreas de risco. A questão sanitária mais uma vez revela-se intimamente próxima de questões econômicas. É preciso urgentemente tratá-las dentro de um escopo comum e compreender a superação da pobreza como um fenômeno amplo.
Garantir dignidade ao povo brasileiro é fundamental para podermos pensar em superar esta crise, e isto perpassa garantir moradias dignas e emprego. Chuvas fortes ocorrem em todo o mundo e estamos todos sujeitos a novos vírus, porém se há condições sanitárias e de moradia adequadas para todos, obviamente os danos assumem ínfimas proporções.
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