
Lucy Brandão
lucy@tvclube.com.br
O nível de endividamento médio das famílias brasileiras em 2021 foi o maior em 11 anos. É o que mostra a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Segundo o levantamento, o último ano apresentou recorde do total de endividados, registrando uma média de 70,9% das famílias brasileiras, enquanto dezembro alcançou o patamar máximo histórico para os meses consecutivos, 76,3% do total de famílias. O aumento de famílias com dívidas também foi o maior já observado, revelando que as pessoas estão recorrendo mais ao crédito para sustentar o consumo.
Na comparação com 2020, o Nordeste aumentou o número total de famílias endividadas de 68,2% para 72,7% – acima da média nacional de 70,9%. A quantidade de famílias com dívidas em atraso também subiu de 29,2% para 30,6%. Já a quantidade de famílias que não terão condições de pagar as dívidas caiu de 11,4% em 2020 para 10,5% em 2021.
Endividamento por renda
Já na avaliação por faixa de renda, o endividamento médio das famílias com até 10 salários mínimos mensais aumentou para 72,1% do total. Na faixa de renda superior, acima de 10 salários mínimos, o indicador aumentou ainda mais em relação a 2020, e fechou o ano em 66,0%.
O presidente da CNC, José Roberto Tadros, avalia que, entre as famílias com rendimentos acima de 10 salários mínimos, a demanda represada, em especial pelo consumo de serviços, fez o endividamento aumentar ainda mais expressivamente, em especial no cartão de crédito. “O processo de imunização da população possibilitou a flexibilização da pandemia, refletindo no aumento da circulação de pessoas nas áreas comerciais ao longo do ano, o que respondeu à retomada do consumo, principalmente de serviços”, observa.
Inadimplência teve queda
No caminho oposto dos indicadores de endividamento, no último ano, os números de inadimplência apresentaram queda. De acordo com a pesquisa, o percentual médio de famílias com contas e/ou dívidas em atraso diminuiu 0,3 p.p. na comparação com 2020, chegando a 25,2%. Após iniciar 2021 em patamar superior ao observado no fim do ano anterior, o percentual mensal teve redução até maio, mas passou a apresentar tendência de alta desde então, alcançando 26,2% em dezembro e ficando acima da média anual.
O percentual de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas e/ou dívidas em atraso e que, portanto, devem permanecer inadimplentes também contou com uma redução na comparação com 2020, 0,6 p.p., totalizando 10,5% dos lares no País. Os números indicam que essa parcela de consumidores apresentou movimentos diferentes ao longo do ano. Enquanto, no primeiro semestre, o indicador de inadimplência recorrente oscilou entre baixa e alta, a partir de julho passou a registrar tendência de queda, encerrando o ano em 10% do total de famílias, abaixo da média anual.
A economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, avalia que os números indicam que, ainda que em condições financeiras mais acirradas, os consumidores conseguiram quitar os compromissos financeiros e evitaram incremento da inadimplência até o fim do terceiro trimestre. Nos últimos três meses do ano, no entanto, o indicador de contas em atraso acirrou-se, já indicando tendência de alta para o início de 2022. “Os consumidores seguirão enfrentando os mesmos desafios financeiros da segunda metade de 2021, principalmente inflação, juros elevados e mercado de trabalho formal ainda frágil. Soma-se a isso o vencimento de despesas típicas do primeiro trimestre, que deverá apertar ainda mais os orçamentos domésticos neste período”, estima.
Cartão de crédito é o vilão das contas
Assim como nos anos anteriores, o cartão de crédito foi o tipo de dívida mais citado pelas famílias brasileiras em 2021, por 82,6% das que afirmaram ter dívidas, na média anual. Após queda da participação em 2020, destaca-se que o aumento de participação do cartão no ano passado dentre as modalidades de dívida foi o mais expressivo desde 2010 (+4,6 pontos).
Em segundo lugar, o carnê foi apontado por 18,1% das famílias, e, em terceiro, o financiamento de carro, por 11,6%. Além desses três tipos de dívida, o crédito pessoal também teve aumento de participação média no endividamento em 2021, as demais modalidades registraram queda, incluindo o crédito consignado.