Nada para o povo e tudo para a banca: onde está o governo federal?

Em meio ao desemprego, o lucro dos principais bancos privados cresce quase 35% em um ano

Enquanto alguns aludem ao crescimento da economia brasileira em 2021, na casa dos 4,5%, como algo positivo e indicador da retomada da normalidade, o lucro exorbitante nos mercados financeiros dá indícios dos reais caminhos do país. Em meio ao desemprego, incerteza política e uma nova aceleração de surtos pandêmicos, o lucro dos principais bancos privados cresce quase 35% em um ano, aproximando-se de 70 bilhões de reais. Afinal, por que são tão afortunados?

Não é novidade que em meio a crises econômicas há elevação dos níveis de desigualdade de renda em função da acentuação da precariedade das classes populares, em muito dependentes do emprego ou de benefícios públicos para manutenção de sua qualidade de vida. Com a alta do desemprego, salários caem junto com o poder de barganha dos trabalhadores e ocorre um empobrecimento do povo. Porém, o que também não é novidade é que em meio a crises há um enriquecimento dos mais ricos, seja por seu poder econômico ou mesmo pela influência política e sua capacidade de ditar os rumos da crise.

Em maio de 2020, quando se desenhavam as estratégias para lidar com a crise pandêmica no país, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou não valer a pena fornecer auxílios financeiros a pequenos empresários. Segundo o ministro, seria mais fácil ganhar dinheiro apoiando grandes companhias e possivelmente iria “perder dinheiro” apoiando pequenos empreendimentos. Ignorando o fato de que mais de 50% dos empregos formais no país serem gerados por empresas de pequeno porte, deu indícios claros da estratégia política do governo federal afastada das classes populares e mais próxima da elite do país.

A crise dos pequenos empresários evidenciou fragilidades das classes média e baixa e a necessidade de suporte técnico e político adequado por parte do governo federal. Como agravante, inexplicável em termos de estratégia econômica, a elevação da taxa básica de juros para a casa dos dois dígitos, 10,75%, inviabilizou a captação de créditos necessários à manutenção das atividades econômicas dos pequenos empreendimentos, bem como reduziu a demanda por seus produtos e serviços oferecidos, o que agravou a crise e empobreceu grande parte do país.

Ora, então por que foram adotadas estas medidas? Apoiar grandes companhias e elevar os juros foram “erros” na estratégia do governo federal? Não é possível que tentaram acertar e se equivocaram, pois os nuances políticos são complexos e distantes de nossa realidade cotidiana. Porém, é claro que estas medidas “equivocadas” não foram de todo mal para alguns setores, muito pelo contrário.

A elevação dos juros indicou uma possibilidade extremamente rentável e segura para grandes grupos financeiros, que preferiram aplicar na dívida pública à ofertar à sociedade civil, além de elevarem o preço de seus ativos, sob o guarda chuva do Banco Central.

Por outro lado, a fragilidade de pequenas empresas e o empobrecimento da população elevou os níveis de endividamento e logo criaram mais obrigações de dívidas em relação aos bancos.

O maior banco do país somou mais de 1 trilhão de Reais em sua carteira de créditos em 2021, com crescimento do lucro líquido em aproximadamente 25 bilhões de Reais em relação a 2020. Os três maiores apresentaram o maior lucro nominal da história, superando os já exorbitantes 51 bilhões lucrados no primeiro ano da pandemia.

E o crescimento de 4,5% do PIB? Ora, crescimento em relação à 2020, ano atípico com baixíssima atividade econômica, não é de fato expressivo e é um dos menores crescimentos se comparado aos países ricos e emergentes. Com a alta dos juros e inexistência de políticas estratégicas de distribuição de renda, talvez possamos ter um novo recorde brasileiro em 2022, um novo lucro exorbitante dos gigantes financeiros, sem qualquer benefício ao país. Esperamos que ao menos as políticas econômicas federais não contribuam com isso.

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