Em meio às incertezas da Covid-19 e ao conflito bélico no leste da Europa, o Brasil vive uma crise à parte. Já é notável que a condução macroeconômica do governo federal foi incapaz de estabilizar a inflação e promover a retomada da economia.
Porém, mesmo em meio aos mais de 51% de trabalhadores fora do mercado formal de trabalho, alimenta-se um discurso de que voltamos a crescer devido ao número recorde de microempreendedores individuais (MEI) surgidos em 2021. Muitos destes são pessoas buscando sobreviver diante do desemprego e sob tais circunstâncias, não há empreendedorismo, há urgência para pôr comida na mesa.
A guerra entre Rússia e Ucrânia deve dificultar ainda mais a vida do brasileiro, que deve lidar com combustíveis caros e com a dificuldade da retomada econômica ainda por algum tempo. A Fundação Getúlio Vargas anunciou a estimativa de queda de 1,4% na atividade econômica brasileira em janeiro de 2022.
O resultado não surpreende, tendo em vista a trajetória conturbada recente do país onde menos da metade dos trabalhadores integram de fato o mercado de trabalho. Apesar deste cenário, uma informação recentemente divulgada desperta curiosidade. Em 2021 foram abertos aproximadamente 3,9 milhões de CNPJ de microempreendedores individuais, o que foi divulgado como sinal de recuperação econômica no país.
Quanto a isso, é preciso se manter vigilante. Em momentos de prosperidade, quando há perspectivas crescentes de vendas e novas possibilidades de negócios, é comum o surgimento de novos empreendimentos, o que pode ser sim notado como um termômetro positivo da atividade econômica.
O que acontece no Brasil é o oposto. A ausência de oportunidades formais de emprego leva milhões de brasileiros a buscar alternativas, seja via empregos informais ou como autônomos. A condição de microempreendedores individuais revela sim muitos novos microempresários que utilizam de sua criatividade e olhar estratégico para buscar novos mercados em meio a crise.
Porém, não se pode negar que muitos MEI são trabalhadores que ofertam seus serviços sem a seguridade garantida pelo mercado formal, em condição próxima da informalidade. Não por acaso, a renda do trabalho caiu aproximadamente 10% em 2021.
A chave para a retomada econômica está no estímulo para geração de empregos, e não há estímulo maior que uma demanda pulsante por bens e serviços. Com expectativas positivas em relação ao consumo, novos empreendimentos podem surgir, gerando mais empregos, em um ciclo positivo.
Aí então o número de novos microempreendedores poderia ser animador, pois refletiriam bem mais o espírito criativo do povo brasileiro que a necessidade urgente de pôr comida no prato.
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