Gilbués, no Vale do Gurgueia, e mais 14 municípios piauienses sofrem com fenômeno da desertificação

Fatores como a criação de gado e a mineração, somadas às mudanças climáticas, resultaram nesse processo de desertificação vivido por Gilbués

 

 

Leito do riacho Gameleiro (Foto: Reprodução)

Wesley Igor Gomes
wesleygomes@tvclube.com

Em referência aos 30 anos da ECO-92, conferência intencional em que cientistas alertaram para o perigo do aquecimento global, o Globo Repórter, da TV Globo, desta sexta-feira (3), visitou três regiões do Brasil para mostrar os efeitos das mudanças climáticas. O Nordeste, mais precisamente o município piauiense de Gilbués, no Vale do Gurgueia, foi uma delas. A cidade enfrenta uma realidade bastante preocupante: a desertificação.

Na área, ao longo de cinco décadas, o leito do riacho Gameleiro teve o seu curso alterado devido às voçorocas, uma das formas mais graves de degradação da terra. A chuva é um dos principais fatores para esse processo. Por o ambiente já estar naturalmente fragilizado, o grande volume de chuvas, em um curto período, tende a abrir crateras, configurando, assim, o fenômeno de desertificação.

“A força da água, aqui, exerce um processo de erosão sobre o solo, que eu chamo de erosão hídrica”, disse o pesquisador da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Dalton Macambira, que é doutor em desenvolvimento e meio ambiente e estuda desertificação há 20 anos.

Município de Gilbués sofre com desertificação (Foto: Reprodução)

Fatores como a criação de gado e a mineração, somadas às mudanças climáticas, resultaram nesse processo de desertificação vivido por Gilbués. Além dela, mais 14 municípios ao entorno apresentam esse problema. Também existem outros três grandes núcleos de desertificação no país: Irauçuba (CE), Cabrobó (PE) e Seridó (RN).

Ciência

Para trazer o verde novamente a região, pesquisas foram desenvolvidas adaptando a técnica de plantar em níveis, conhecida como terraceamento. Utilizada há séculos pelas civilizações andinas, essa prática consegue evitar que as águas das chuvas corressem livre e arrastassem o que tivesse no solo.

Por Gilbués apresentar um solo rico em minerais, contribuindo para a agricultura, a implantação dessas técnicas já tem gerado algumas mudanças. “Você produzia, nessa ‘malhada’ aqui, onde a gente está hoje, sete sacos de milhões. O nosso milho deu 70 sacos. De sete pulou para 70 e tem tudo para ser um grande celeiro agrícola da agricultura familiar se tiver como ajudar a agricultura familiar”, disse o produtor rural Washington Rodrigues.

É do solo que o agricultor José Santos, mais conhecido como Zé Capemba, tira o alimento da família. Ele diz: “A terra precisa de carinho igual gente. A terra é ser vivo também”.

Núcleo de Pesquisa de Recuperação de Áreas Degradadas e Combate à Desertificação

O Núcleo de Pesquisa de Recuperação de Áreas Degradadas e Combate à Desertificação (Nuperade) foi criado para combater e apoiar estudos desse fenômeno. No entanto, atualmente, o espaço permanece abandonado.

O Nuperade possuía um auditório que acomodava mais de 50 pessoas. Toda semana, eram realizadas palestras com especialistas da área e estudantes. O local também continha material e equipamentos para a elaboração de pesquisas que ajudassem a alterar a realidade ocasionada pela desertificação.

Agora, após o saqueamento, a única coisa que preenche uma das salas do Nuperade é a fotografia emoldurada e a placa em homenagem ao professor e idealizador do epaço, Luiz Gonzaga Carneiro,. O núcleo funcionou apenas por dez anos, de 2006 a 2016.

“No mundo, não existe um núcleo de pesquisa e recuperação de áreas degradadas. Só existe um no Brasil, no Nordeste, no Piauí e em Gilbués”, ressaltou Fabriciano Corado, presidente da ONG SOS Gilbués. 

A Secretaria de Meio Ambiente informou que reconhece que o local ficou fechado e sem vigilância, mas que há recursos para retomá-lo e reequipá-lo. A previsão é que as obras comecem ainda neste ano. Ademais, um acordo está sendo fechado com o programa das Nações Unidas para capacitar agricultores da região.

 

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