Delta do Parnaíba: avanço do mar preocupa especialistas ao por em risco manguezais e aves na região

O avanço do Oceano Atlântico sobre as terras empurra famílias e animais na busca por um lugar mais seguro

Água do Oceano Atlântico avança sobre a terra do Delta do Parnaíba. (Foto: divulgação)

Thálef Santos*
thalefsantos@tvclube.com

Em referência aos 30 anos da ECO-92, conferência intencional em que cientistas alertaram para o perigo do aquecimento global, o Globo Repórter, da TV Globo, visitou três regiões do Brasil para mostrar os efeitos das mudanças climáticas. O Nordeste, mais precisamente o Delta do Parnaíba, no litoral piauiense, foi uma delas. A região enfrenta o avanço do Oceano Atlântico sobre as terras devido o aumento da temperatura global.

Famílias e animais migram cada vez mais no sentido do litoral para o centro da cidade em busca de terra firme para morar. Em 20 anos, o avanço do mar já engoliu 2,5 quilômetros de terra do Delta. Por ano, a água do Atlântico eleva 3 centímetros acima do nível do mar. Isso pode ser considerado um grave problema para os manguezais e para os animais que habitam este ambiente, pois podem ficar sem alimentação.

O Brasil tem as maiores áreas contínuas desta vegetação. Um dos animais que moram neste ambiente é o maraconi: uma espécie de caranguejo.

“Esses caranguejos vermelhinhos são a principal fonte de alimento dos guarás, que é um dos animais que a gente encontra em vasta abundância aqui no Delta do Parnaíba”, explicou João Damasceno, biólogo da ONG Save Brasil.

Já os guarás são pássaros – também de cor vermelha – que dividem moradia nos mangues com os maraconis. Essa espécie de caranguejo é rico em caroteno, substância que imprime a cor vermelho-escarlate nas aves.

Maraconis são a principal fonte de alimento dos guarás — Foto: Globo Repórter
Maraconis são a principal fonte de alimento dos guarás. (Foto: divulgação)

Risco de extinção 

Durante a reportagem, o biólogo da Universidade Federal de Parnaíba (UFDPar) Anderson Guzzi também pontuou a importância do Delta para as aves migratórias.

“São 21 espécies que vêm aqui para o Brasil. Dessas 21, quatro estão em risco de extinção. E, consequentemente, essas aves migratórias dependem dessas áreas de estuário e de mangue. Diminuindo a área, diminui, com certeza, as populações, elas são diretamente relacionadas.

(Foto: arquivo ClubeNews)

Espécies de aves como o maçarico de costas brancas e o maçarico rasteirinho, que utilizam da rota através do manguezal do Delta,  também se encontram ameaçadas. Para se alimentar, as aves aguardam o recuo da maré para capturar animais submersos na areia. Com o alto nível do mar, as espécies chegam a emergir toda a cabeça na água enquanto tentam pegar organismos na areia, explica João Damasceno.

Algumas espécies voam de cinco a sete dias sem parar, e, quando chegam aqui, elas só pensam única e exclusivamente em comer. Se as mudanças, alterações climáticas continuarem no ritmo que estão, então pode haver uma destruição da área de estuário, da área de mangue”, afirma o biólogo da ONG Save Brasil, durante entrevista ao repórter Renan Nunes, da TV Clube – Rede Globo.

Aves se alimentam no Delta do Parnaíba — Foto: Globo Repórter
Aves se alimentam no Delta do Parnaíba. (Foto: divulgação)

Algumas dessas aves têm origem no Ártico e precisam dobrar de peso enquanto estão no Delta do Parnaíba para ter força suficiente para retornar à região de origem. Aliás, não só essas aves saem prejudicadas. Os moradores da região também já tiveram suas casas tomadas pelas águas.

A Ilha das Canárias 

O empresário Hélio Araújo Gaspar nasceu na  Ilha das Canárias há 55 anos. Ele apresentou à equipe de reportagem um mapa do local feito em 1978. Neste mapa, o Delta apresentava um total de 83 ilhas. Deste total, dez ilhas já desapareceram.

O medo é grande né. A maré vai invadindo e nós estamos afastando“, disse Hélio.

O mapa de Hélio. (Foto: divulgação)

A reportagem ainda mostrou a Praia de Macapá, em Luís Correia, onde foi necessária a construção de uma espécie de barreira do mar na tentativa de desacelerar o avanço do mar. Nesse litoral, o avanço alcançou cerca de um quilômetro, o suficiente para expulsar moradores.

“Os registros históricos da comunidade, casas antigas e a história de muita gente está debaixo da água”, conta o biólogo Airton Siqueira. Morador da região, ele conta que a família precisou deixar a casa onde mora. Ele diz ao repórter, da barreira formada, onde era a sua casa. “Nessa direção (ao mar) uns 800 metros pra dentro, era nossa casa e além dela ainda tinha uma faixa de areia extensa”, lembra.

Barragem da praia de Macapá. (Foto: divulgação)
Barragem da praia de Macapá. (Foto: divulgação)
Barragem da praia de Macapá. (Foto: divulgação)
Delta do Parnaíba. (Foto: divulgação)

*Sob supervisão da jornalista Carlienne Carpaso.

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