Festa junina: uma aula de história e gastronomia; Brasil tem influência de pelo menos seis países

Tradição, desde a colonização do Brasil, alimenta os arraiás até hoje

Maria Isabel e bolo de milho, pratos típicos de São João. (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Thálef Santos*
thalefsantos@tvclube.com

Um passeio entre as barracas de comida dos “arraiás” juninos pode render algumas calorias e, aos glutões caipiras mais curiosos, algum conhecimento sobre a formação cultural brasileira e a nossa culinária.

Quem explica é a professora de gastronomia Mariana de Morais Sousa, tecnóloga em Alimentos e Gastronomia, que leciona no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI).

Segundo ela, os quitutes guardam a história de cada cultura que já passou pelo Brasil, com influência até mesmo da China nas comemorações.

A professora Mariana de Morais Sousa na cozinha envolta na bandeira do estado do Piauí. (Foto: arquivo pessoal)

Origem

“Como se sabe, no mês de junho são comemorados vários santos. As festas abrem com festejo de Santo Antônio, depois vem São João e, posteriormente, São Pedro. Mas a maior dela é a de São João por conta das festividades, o ritual da fogueira. […] os pratos típicos, formação das quadrilhas”, declara a professora Mariana.

Ela afirma que as festividades juninas geram a movimentação da população, da economia e da cultura, tanto nas cidades quanto nos estados de modo geral. A professora explica que a tradição dos festejos tem características de várias partes do mundo.

“Nossa cultura hoje é formada por outros povos. Temos influência dos colonizadores (Portugal), africana (dos escravos) e também a nossa influência indígena. As festas juninas chegaram aqui pelos colonizadores, os portugueses que trouxeram esse ritual. Porém, como absorvemos elementos de outras culturas, a tradição foi incrementada e cada estado foi dando novas características”.

Além do tripé cultural (Portugal, África e nativos do Brasil), da herança portuguesa recebemos também a influência de outros países europeus como a França, Espanha e países asiáticos como a China.
Mariana de Morais diz que a dança e a organização da quadrilha são uma característica francesa, enquanto as vestimentas e a dança com as fitas já vêm tanto da Espanha como de Portugal. Os fogos são característicos da China, onde muitos festejos são comemorados com os fogos de artifício.
Reveillón na China com fogos de artifício. (Foto: reproduçã/Vida de Turista)
Brasilidade
“Quando chega aqui no Brasil, cada região vai incrementar conforme as suas características e aqui no Nordeste é muito marcante. Vemos muito a presença do sertanejo, que vem das origens do sertão lembrando a pecuária. Isso também reflete na gastronomia desse período festivo, voltada para o milho com várias receitas: mingau de milho, canjica, pipoca, pamonha”.
Outro prato fomentado na alimentação piauiense é o arrumadinho, que ainda vem acompanhado de uma paçoca ou feijão tropeiro. Os quitutes surgiram conforme o desenvolvimento da nossa cultura. Outra técnica que faz parte da nossa histórica é a secagem da carne para conservar, criando a Carne de Sol. A professora de gastronomia explica como surgiu.
“Antigamente não haviam métodos adequados de conservação e a secagem dos alimentos foi uma técnica utilizada para isso. A partir daí, surgiram várias preparações, como a carne de Sol utilizada na paçoca. O prato tem origem da culinária indígena. Eles pisavam a carne seca, não cozinhada, para facilitar o consumo, mas quando misturaram com a farinha da mandioca perceberam que o sabor ficou diferenciado”.
Paçoca com Carne de Sol. (Foto: divulgação/Sabor Brasil)
Com o tempo a receita foi aperfeiçoada e hoje é muito consumida, não só no Piauí como em outros estados da região Sudeste, segundo Mariana. O destaque do milho também tem uma base histórica e cultural. “Tem origem europeia, onde no mesmo período também se comemorava a colheita do trigo. Ao chegar no Brasil, com a falta do trigo, foi adotada a colheita do milho na comemoração”, conta a professora.
Ela também diz que a farinha de milho pode ser utilizada na produção da paçoca e do feijão tropeiro substituindo a farinha. “Fica um prato cheio, saborosíssimo para esse período”. Quem também não fica de fora do São João e dos pratos piauienses, mesmo fora do período festivo, é a Maria Isabel.
“O prato de Maria Isabel surgiu aqui no Piauí. Para que as mulheres se alimentassem dessa carne (de Sol), que era exclusiva dos tropeiros, digamos assim, as pessoas que realizavam percursos nas regiões do sertão. Elas pegavam os pedaços que sobravam e misturavam com o arroz, surgindo assim a Maria Isabel”, conta Mariana.
Segundo ela, existem vários relatos históricos do prato, mas dizem que o nome vem da filha da cozinheira anônima que criou a receita. Entretanto, também existem outros aspectos históricos que trazem outras versões da origem.
Prato de Maria Isabel. (Foto: GShow)
*Sob supervisão da jornalista Malu Barreto.
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Fonte: Agência Brasil


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