
Thálef Santos*
thalefsantos@tvclube.com
Considerado marco para os direitos humanos no Brasil e usado como modelo mundo afora, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 32 anos nesta quarta-feira (13). Após mais de dois anos de pandemia, pesquisadores ainda se debruçam sobre os dados para mensurar os prejuízos em diversas áreas, como evasão escolar, violência doméstica e coberturas vacinais, mas destacam que o estatuto continua a apontar o caminho para a proteção integral das crianças e adolescentes.
Dados de atendimento dos Conselhos Tutelares de Teresina, fornecidos pela Gerência de Direitos Humanos (GDH) da Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Políticas Integradas (Semcaspi), revelam que no ano de 2021 foram registradas 2.134 denúncias de diversos crimes contra crianças e adolescentes.
Neste ano, os dados registrados até o mês de maio de 2022, apontam que 543 casos já foram denunciados. De acordo com o secretário da Semcaspi, Allan Cavalcante, ainda há subnotificações de casos, que não são registrados nos sistemas de atendimento.
DENUNCIE
“A gente imagina que tudo isso faz parte de uma cultura. Às vezes, a pessoa que pode denunciar, fazer alguma coisa, ela se omite em fazer a denúncia, ajudar ou fazer algo”.
Allan Cavalcante lembra que a ação social Maio Amarelo foi uma iniciativa com o objetivo de incentivar as denúncias. Ele conta que durante a pandemia o convívio mais intenso entre os familiares aumentaram esses dados. “Infelizmente a gente percebe que esses abusos, essas denúncias partem do núcleo familiar“.

MEDIDAS
Allan Cavalcante também afirma que o órgão busca reduzir esses casos potencializando serviços de convivência e que as autoridades devem ser notificadas. “Tem sim que denunciar! É importante fazer denúncia para que a gente possa alcançar as pessoas que cometem este tipo de crime”.
Em Teresina, a expectativa é da criação de mais dois Conselhos Tutelares, com previsão de serem instalados neste mês de julho, nas regiões Sul e Leste. “Pelo estudo que fizemos, são as regiões que mais precisam neste momento”, disse Alan.
DADOS VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
(DADOS DA GERÊNCIA DE DIREITOS HUMANOS REFERENTE AO ATENDIMENTO NOS CONSELHOS TUTELARES)2021 – JANEIRO A DEZEMBRO
1ª NEGLIGÊNCIA – 669
2ª EVASÃO ESCOLAR – 234
3ª CONFLITO FAMILIAR – 217
4ª PRIVAÇÃO DE ACESSO AO SERVIÇO PÚBLICO – 209
5ª VIOLÊNCIA FÍSICA – 205
6ª ABUSO SEXUAL – 185
7ª DISPUTA E GUARDA – 130
8ª VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA – 110
9ª ABANDONO DE INCAPAZ – 90
10ª SITUAÇÃO DE RISCO PESSOAL E SOCIAL – 852022 – JANEIRO A MARÇO
1ª NEGLIGÊNCIA – 212
2ª PRIVAÇÃO DE ACESSO AO SERVIÇO PÚBLICO – 59
3ª VIOLÊNCIA FÍSICA – 47
4ª ABUSO SEXUAL – 45
5ª CONFLITO FAMILIAR – 43
6ª VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA – 40
7ª MAUS TRATOS – 31
8ª DISPUTA E GUARDA – 27
9ª SITUAÇÃO DE RISCO PESSOAL E SOCIAL – 20
10ª ABANDONO DE INCAPAZ – 19
POLÍTICAS PÚBLICAS
Para o secretário nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos, Maurício Cunha, a violência é o maior desafio na promoção dos princípios garantidos pelo ECA, problema que precisa ser enfrentado com maior integração dos órgãos responsáveis pela proteção de crianças e adolescentes e empenho das famílias e de toda a sociedade.
“A criança e adolescente são o público no Brasil que mais sofre violência. Posso falar isso com segurança, porque a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos fica no nosso ministério, e a maior parte das denúncias de violação de direitos são de crianças e adolescentes. São o público mais vulnerável. Colocaria esse como o maior desafio, e, dentro disso, o fato de que a violência, em mais de 80% dos casos, é intrafamiliar”, afirma. “No Brasil, morrem mais de 7 mil crianças por ano vítimas de violência, vitimas de agressão. A sociedade é extremamente violenta contra crianças e adolescentes”.
Uma das dificuldades para avançar nesse sentido é garantir orçamento para que essas políticas de fato tenham caráter prioritário. “Como a criança não faz passeata, não vota e não tem sindicato, muitas vezes os governantes se veem pressionados a colocar recursos em outras áreas”, disse Cunha, que diz que os benefícios de priorizar a criança chegam a toda a sociedade.
“O melhor investimento em política pública é a área da criança. Para cada real investido na primeira infância, de 0 a 6 anos, isso retorna sete vezes, a médio e longo prazo, com menos internações, menores índices de repetência, menos adolescentes no sistema socioeducativo”.
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