4 de julho de 2025

Com alimentos em alta, cresce o consumo de itens menos saudáveis e mais baratos

Lucy Brandão

Jornalista
Publicado em 28/08/2022 20:00

Compartilhe:

Preços (Foto: arquivo EBC)

Lucy Brandão
lucy@tvclube.com.br

O consumo de alimentos menos saudáveis como biscoitos, salgadinhos e refrigerantes cresceu no primeiro semestre de 2022 em relação ao mesmo período de 2021. Foi o que mostrou uma pesquisa da Horus, empresa de inteligência de mercado, com base em uma análise de 40 milhões de notas fiscais emitidas por estabelecimentos comerciais do país.

O estudo aponta ainda que essa alta no consumo de produtos industrializados mais baratos, porém com menor valor nutritivo, se deu em todas as faixas de renda. Entre janeiro e junho deste ano, nas classes A e B, as bolachas estiveram presentes em 20,4% dos carrinhos, contra 16,9% no primeiro semestre de 2021. Na classe C, a incidência saltou de 19,2% para 22,4% em um ano. O aumento foi ainda maior nas classes D e E – de 22,7% para 26,4%.

A média de itens comprados e o ticket médio (gasto com o produto) também cresceram nos três grupos e mais intensamente entre as classes C e D, com alta de 10% e 27,2% nessas categorias, respectivamente.

Para a diretora da Horus, Luiza Zacharias, há dois principais motivos que contribuem para o resultado: o alto preço dos alimentos saudáveis e a volta às atividades fora de casa.

“Em um cenário de alta de preços em diversas categorias e de restrições orçamentárias para o consumidor, o biscoito se apresenta como um item associado à indulgência, como uma forma de compensar as dificuldades do cenário atual”, explicou Luiza.

Ainda de acordo com a especialista, o retorno das pessoas a uma rotina fora de casa após o período de isolamento social e a redução das refeições feitas em casa contribuem com o resultado encontrado pela pesquisa. Para o público de renda mais baixa, no entanto, ela acredita que o que tem pesado são os constantes aumentos de preço dos alimentos in natura.

“O aumento de preços atingiu, no primeiro semestre deste ano, muitos produtos de hortifruti: legumes, em especial batata, cenoura e tomate, frutas e verduras, itens básicos que normalmente estavam presentes na mesa do brasileiro. Por conta disso, houve uma redução no consumo desses produtos in natura, que pode ser atribuído a inflação”, explica.

Segundo a nutricionista Flávia Carreiro, é comum as pessoas de baixa renda apelarem para itens industrializados pela facilidade e pelo preço, mas o impacto na saúde pode sair mais caro em médio e longo prazo. “Mesmo que a questão seja preço é necessário escolher alimentos mais saudáveis. O ovo, por exemplo, tem um custo baixo e é mais saudável. O valor nutritivo dele e a saciedade que causa é bem maior que a de salgadinhos”, aconselha.

Enquanto cresce a compra de salgadinhos e refrigerantes, os preços dos alimentos mais saudáveis, como legumes, estão cada vez mais altos e menos presentes no carrinho dos brasileiros. No primeiro semestre deste ano, o preço médio dos legumes subiu quase 50%.

“É um dado alarmante porque você vê que a população está fazendo uma substituição em termos de nutrientes importantes os salgados, biscoitos, a gente sabe que tem baixo poder nutritivo e o que a gente está vendo é que os produtos que estão sendo mais consumidos são nas classes mais baixas e de valor de preços também mais baixos, o que leva indiretamente a você supor que produtos menos nutritivos e que vão na verdade preencher aquele espaço, mas não vão alimentar efetivamente a pessoa”, explica Luiza Zacharias.

 

  Siga o Portal ClubeNews no Instagram e no Facebook.
Envie sua sugestão de pauta para nosso WhatsApp ou Telegram.

Leia também: