7 de julho de 2025

Falta de médicos patologistas: um problema de saúde coletiva

Opinião do Leitor

Publicado em 05/09/2022 13:00

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Médico patologista em análise laboratorial – Foto: divulgação/redes sociais

Assim como para muitos acadêmicos de medicina, a patologia cirúrgica não era uma especialidade médica que atraia meu interesse nos tempos de faculdade. Mas, a convite do meu pai, Dr. Raimundo Gerônimo, um dos pioneiros da patologia piauiense, fui conhecer a área mais de perto e o resultado não poderia ser outro: um encantamento completo. Hoje, com 22 anos de profissão, minha preocupação não está mais em qual carreira médica seguir, mas na falta de colegas profissionais da especialidade que eu escolhi.

O problema é grave e de alcance nacional. Somos poucos profissionais no Brasil e, especialmente, no Piauí. Dos 3.445 médicos patologistas atuando em todo o país, apenas 22 estão no nosso estado, sendo 18 em plena atividade profissional. Enquanto a proporção nacional é de um patologista para cada 61,5 mil habitantes, a piauiense é de apenas um profissional para cada grupo de 149,5 mil pessoas.

Como os dados evidenciam, estamos frente a um grande problema: o comprometimento de diagnósticos médicos em decorrência da falta de médicos patologistas.

Adicionalmente, por conta da carência de patologistas, há um vasto espaço no mercado de trabalho. Em razão disso, vemos uma concentração de profissionais nas maiores cidades brasileiras, principalmente nos grandes centros urbanos do eixo Sul-Sudeste. Na ponta, no entanto, as pessoas continuam adoecendo e precisando de diagnósticos rápidos para o início imediato de um tratamento, o que aumenta sobremaneira as chances de cura.

Nossa população está envelhecendo mais e melhor. Se, por um lado, isso reflete um importante e desejado progresso social; por outro, pressionará ainda mais os serviços de saúde, tanto público quanto privado; e precisamos estar preparados para atender a todos, assim como nos ensina o Juramento de Hipócrates. O problema, portanto, é de todos e, assim sendo, precisa ser enfrentado pelos diversos atores que compõem o nosso sistema de saúde – universidades, sociedades médicas, poder público e operadoras privadas dos planos de saúde.

É preciso que a sociedade debata políticas para reverter este cenário e garantir que a população tenha acesso a diagnósticos rápidos e precisos. Uma importante solução inicial seria: reajustar as tabelas de serviços da patologia cirúrgica, de maneira a deixar a carreira mais atrativa para os jovens profissionais; fomentar o interesse pela patologia durante a graduação em medicina, apresentando as possibilidades de atuação da especialidade, sua dinamicidade científica e importância para a efetividade dos tratamentos de saúde. A patologia é um importante pilar da medicina, valorizá-la é garantir a qualidade dos serviços de saúde.

Geronimo Jr. – Foto: divulgação/redes sociais

 

 

Gerônimo Júnior (@geronimojrlapac) é médico patologista, secretário-geral adjunto da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

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