8 de julho de 2025

Evento sobre pessoas trans em Teresina sofre ataque no mês da visibilidade transgênero

Kelvyn Coutinho

Publicado em 15/01/2023 11:00

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Participante do evento e mãe de uma criança trans, Amanda Pitta também sofreu ataques. (Foto: Rede Clube)

Kelvyn Coutinho*
kelvyn@tvclube.com.br

Janeiro é o mês da visibilidade de pessoas travestis e transexuais. Apesar disso, o evento R(e)xistências Trans, promovido pelo Teresina Shopping, sofreu ataques transfóbicos nas redes sociais na última semana.

Além de comentários criticando o evento, muitos ataques foram direcionados aos participantes, como a produtora de moda Amanda Pitta, que foi convocada para uma roda de conversa para compartilhar a sua experiência como mãe de uma criança trans.

“Estava conversando com uma amiga, quando olhei em um grupo que faço parte, com mães de crianças e adolescentes trans, e uma das mães, que inclusive é daqui de Teresina, disse que o shopping tinha feito a postagem falando do evento e que estava tendo muito ‘hate’ [comentários negativos]. Eu entrei em pânico, fiquei com muito medo, não consegui ler os comentários. A amiga que estava comigo leu e começou a ‘printar’, porque muitos comentários tinham discursos de ódio”, contou Amanda.

Entre os comentários transfóbicos, muitos pediam boicote ao shopping e ataque ao evento, enquanto outros expressavam violência, com xingamentos e associação de pessoas trans a doenças, como HIV.

“É uma grande maioria de pessoas desinformadas. A minha filha é uma criança. Eu não exponho ela, não deixo mostrar imagem dela, minhas redes sociais não são abertas por isso. Em momento algum nenhuma das minhas falas citam o nome da minha filha, justamente porque eu tenho medo dela sofrer esse preconceito nos ambientes que ela frequenta, a minha preocupação é que ela tenha a infância, adolescência e uma vida normal”, comentou Amanda.

As ofensas e ataques nos comentários do evento refletem uma dura realidade a que pessoas trans são expostas diariamente. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em 2021, o Brasil foi, pelo 13º ano consecutivo, o país onde mais pessoas trans foram assassinadas.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Piauí (OAB-PI), advogado Tiago Vale, teve acesso aos comentários e destacou que os autores podem ser penalizados.

“Transfobia é você expressar um ódio pela pessoa transgênero, de várias formas, como está sendo propagado nesses comentários, com ameaças, agressões psicológicas. Essas pessoas utilizam a internet como se fosse uma terra sem lei, como se não fosse possível identificar as pessoas que cometeram esse tipo de crime. O Supremo Tribunal Federal, em 2019, decidiu que a transfobia é crime, se aplica a lei de racismo, ou seja, a sociedade sabe que está sendo cometido um crime e estão fazendo isso de forma clara nesses comentários”, frisou o advogado.

Curador da exposição, Grax Medina lamentou os ataques e afirma que o evento seguirá normalmente. (Foto: Rede Clube)

A curadoria da exposição classificou os ataques transfóbicos como inadmissíveis e afirma que a programação do evento seguirá normalmente até dia 31 de janeiro.

“Ficamos ainda mais indignados por conta disso estar acontecendo em janeiro, que é o mês da visibilidade trans, já que o dia nacional é dia 29 de janeiro. Ficamos muito tristes, porque todas essas rodas de conversa, essas exposições, essas movimentações que acontecem no Brasil nessa data são feitas para combater a transfobia, combater o preconceito contra nós, pessoas trans, e é muito triste saber que existem pessoas com a mente fechada, quadrada, que não conseguem diferenciar o que é sexualidade e o que é identidade de gênero”, lamentou Grax Medina, curador da exposição.

Amanda Pitta declarou que vai continuar lutando contra o preconceito e que rodas de conversa como a que ela participou são o momento oportuno para partilhar experiências e desafios de pessoas trans, que querem apenas a liberdade de ser quem são.

“As pessoas confundem a minha palestra que eu falo sobre gênero com sexualizar crianças, como se fosse uma palestra para crianças, ensinando crianças a serem trans ou então falando de sexo para crianças. Na realidade, é para falar sobre a minha experiência materna, sobre como foi que eu lidei com a transexulidade da minha filha, como foi que eu consegui, até hoje, fazer com que ela tivesse uma vida normal, com que os direitos dela fossem respeitados. Quanto mais você falar, mais isso pode aliviar a vivência de outras famílias”, concluiu.

*Estagiário sob supervisão da jornalista Malu Barreto.

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