
Ao cair uma chuva forte em Teresina – com ventania, raios e trovões – as piores lembranças são despertadas na mente do professor Francisco Henrique, pai da pedagoga Wana Sara, que morreu afogada após ser arrastada por quase 3km em um bueiro.
Um ano após perder a filha de forma trágica, Francisco conta que toda forte chuva o faz lembrar do dia 4 de fevereiro de 2022, quando o carro em que Wana dirigia foi arrastado para um bueiro próximo da obra de uma galeria no cruzamento da Rua Eustáquio Portela com a Avenida Homero Castelo Branco, na zona Leste da capital.
“Tenho medo de andar na chuva. Se for pequena, não me incomoda, mas quando é forte com ventania, me bate a lembrança, uma tristeza. Fico perguntando a Deus o porquê disso ter acontecido”, conta o pai, em entrevista ao Bom Dia Piauí, nesta sexta-feira (3).
O pai disse que até hoje aguarda por justiça e indenizações. A obra em que Sara teve o carro arrastado é de responsabilidade da Prefeitura de Teresina. Ele lembra que antes e depois de Wana, outras pessoas morreram devido às áreas alagadas em locais próximos de bueiros e galerias.
“(Sobre) as autoridades, vejo que estão fazendo descaso com esses acontecimentos. Uma vida para eles não vale nada”? A vida de uma pessoa não vale nada? Depois desse acontecido com ela, teve outros casos”, conta.
Planos interrompidos
O viúvo Diogo Procópio conta que viveu sete anos ao lado de Wana, a contar do primeiro contato, passando pela época e namoro até o casamento. Ele fala que Wana tinha o sonho de ter filhos.
Diogo viajava a trabalho para o Sul do Piauí quando a tragédia aconteceu, no ano passado. “Eu viajei no dia do acontecido. Eu não ia viajar, iria viajar no outro dia do acontecido. Eu fui a trabalho para Floriano. Cheguei lá falei com ela, normalmente, e dormi. Acordei, no outro dia, já com a notícia”.
Diogo conta que passou por tratamento psicológico para lidar com a perda do amor da sua vida. “Eu não conseguia nem trabalhar”, lembra dos primeiros meses sem a esposa.
“O sentimento que tenho hoje é de que parece ter sido ontem; embora a rotina tenha sido afetada e mudada, foi um pedaço da minha vida inteira. É tristeza”.
Indenizações
A família aguarda o parecer do Ministério Público do Piauí para dar andamento ao pedido de indenização.
“A gente vai acionar os responsáveis. Estamos esperando o parecer da promotoria para ter uma noção do que pode ser feito civil e criminalmente quem são os responsáveis. Procurar respostas. Responsabilizar quem tem culpa disso. A gente só quer o mínimo para ter paz”, diz o viúvo.
Local do acidente
Ao fim do inquérito policial, a Polícia Civil do Piauí indiciou dois engenheiros da construtora e um fiscal da Superintendência de Ações Administrativas Descentralizadas Leste (Saad Leste) da Prefeitura de Teresina.
Um boletim do Corpo de Bombeiros foi incluso no inquérito apontando que, antes da morte de Wana Sara, outros três motoristas tiveram seus carros arrastados pela água da chuva na Avenida Homero Castelo Branco. Os outros condutores sobreviveram. Por isso, a polícia aponta negligência do poder público.
A equipe da TV Clube esteve na Rua Eustáquio Portela, onde a pedagoga teve o carro arrastado há um ano. O ponto onde ela caiu dentro do bueiro ainda está em obras, e a parte de escavação está suspensa devido às chuvas. Outras obras em paralelo no local está em andamento.
“Após o final de fevereiro para março, nós vamos abrir duas frentes de trabalho para andar mais rápido. Ainda tem muita obra pela frente, mas já teve uma melhora significativa: a questão de alagamento, de ficar empossada na (avenida) Homero, não fica mais, em questão de 10 a 15 minutos a água já desce, entra pelas ‘bocas de lobo’ e vai para as galerias”, diz Marcelo Sena, engenheiro da Saad Leste.
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