
Emanuel Pereira*
emanuelpereira@tvclube.com.br
Sete de fevereiro, Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas. A data foi criada em homenagem àqueles que defendem os índios, especialmente o guerreiro Guarani Sepé Tiaraju, líder da Revolta dos Sete Povos das Missões contra o Tratado de Madrid, pela Lei N° 11.696/2008.
A importância desta causa é percebida quando o Brasil inteiro ficou comovido com a situação do Povo Yanomami, em Roraima. Essa situação revelou o quanto os povos nativos ainda precisam lutar para garantir direitos básicos, como a alimentação.
Sobre esta pauta, o Portal ClubeNews entrevistou Socorro Braga, historiadora piauiense e especialista em cultura indígena. Ela avaliou a luta, as conquistas e as dificuldades dos povos originários no Piauí e no Brasil.
HISTÓRICO
Segundo a historiadora, desde o século XVI, os europeus desenvolveram políticas de demarcação de terras para os indígenas. No entanto, estas iniciativas não eram favoráveis aos povos.
“Essas políticas obedeciam aos interesses econômicos e sociais da época. Havia a política exterminacionista, que pretendia dizimar os índios, vistos como empecilhos à exploração colonial. Assim acontece até hoje com a exploração dos garimpeiros na Amazônia”, disse.
Socorro também destaca que o primeiro movimento político efetivo de indígenas brasileiros ocorreu em 1980, durante a Ditadura Militar.
“Comunidades enviaram estudantes indígenas para Brasília, onde foi criada a União das Nações Indígenas (UNI), despertando a atenção de militares que presidiam a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). A partir de então, o movimento indígena iniciou no país”, pontuou.
POVO YANOMAMI
Em janeiro deste ano, foi revelada a situação de vulnerabilidade dos índios Yanomamis, em Roraima. Imagens de crianças e adultos doentes e desnutridos deixaram perplexa a maioria dos brasileiros. Para a historiadora, isto é caracterizado como um genocídio, fomentado pela própria máquina estatal.
“Ao ver tudo isso, senti profunda tristeza e indignação porque os Yanomamis são donos daquelas terras, mas são tratados com descaso pelos governantes. Direitos básicos, assegurados na Constituição Federal, estão sendo violados, especial os direitos ao território, à cultura e à dignidade da pessoa humana”, frisou.
Dignidade é algo que os Yanomamis e todos os indígenas precisam resgatar. Socorro Braga ressalta, mais uma vez, que esta violação aos povos originários é uma herança do colonialismo europeu.
“A violência cometida de forma reiterada contra Yanomamis e outros povos é o retrato cruel do que sempre sofreram desde a chegada dos europeus. O desrespeito aos seus direitos começou pela incapacidade dos colonizadores valorizar a riqueza cultural dos índios”, declarou.
CULTURA E LUTA DOS POVOS INDÍGENAS
Andar descalço pela casa e tomar banho diariamente são alguns dos costumes que os brasileiros adquiriram da cultura indígena. Mesmo assim, muitas pessoas ainda possuem uma visão preconceituosa dos hábitos e costumes dos nativos.
A historiadora Socorro Braga diz que a cultura indígena não ficou estagnada no século XV. Os nativos acompanharam toda a evolução da sociedade para ocupar novos espaços, como as universidades.
“O Brasil desconhece a sociodiversidade nativa e a sua própria identidade. Nenhuma cultura fica parada no tempo. Os índios acompanham as mudanças e reelaboram seus comportamentos, conforme suas necessidades. Agora, eles têm protagonismo na literatura, na política e em qualquer profissão que tenham interesse”, falou.
Em relação à luta dos povos indígenas, ela avalia como um cenário paradoxal, pois, ao tempo em que houve conquistas de direitos, a xenofobia e o extermínio dos nativos ainda permanecem.
“Acredito que não temos muito a comemorar, principalmente em função do massacre de muitos indígenas, embora existam avanços na área política, com muitos indígenas eleitos para ocupar cargos legislativos. É preciso continuar com o movimento político para garantir melhores condições de vida às comunidades”, afirmou.
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*Estagiário sob supervisão da jornalista Carlienne Capaso
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