"Entendi as minhas peculiaridades", conta jovem diagnosticada com autismo aos 22 anos

O Dia Mundial da Conscientização do Autismo é celebrado neste domingo (2) e tem o objetivo de difundir informações para a população sobre a condição espectro.

Dara Costa é enfermeira e recebeu o diagnóstico de TEA aos 22 anos – Foto: Instagram

Isadora Cavalcante e Luana Fontenele
isadora.cavalcante@tvclube.com.br

“Muito confuso! Mas ao mesmo tempo foi uma sensação de reencontro, de finalmente entender as minhas peculiaridades”, inicia o relato da enfermeira Dara Costa que, de forma tardia, recebeu o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos 22 anos.

O dia mundial da conscientização do Autismo é celebrado neste domingo (2) e tem o objetivo de difundir informações para a população sobre a condição espectro. A condição neuroatípica que, apesar de ser identificada em sua maioria na infância, apresenta vários graus, e seu reconhecimento pode passar despercebido se não for dada a devida atenção.

Ao Portal ClubeNews, Dara conta que sempre apresentou dificuldades sociais.

“Não conseguia explicar ou entender por que tinha tanto receio a toque físico; porque certos barulhos me incomodavam, como explicar que eu conseguia ouvir o barulhinho que o tecido de veludo fazia? Assisti os mesmo filme todos os dias, ouvir a mesma música a mais de dez anos. Não consegui expressar meus sentimentos”, relata a enfermeira.

Agora, aos 24 anos, ela conta que diagnóstico ajudou a melhorar sua qualidade de vida. “Após o diagnóstico, comecei acompanhamento com psicólogo e melhorei muito minhas interações sociais. Hoje, consigo ir em um restaurante e provar sabores novos, não me incomodo com barulhos externos, consigo até abraçar as pessoas sem tanta dificuldade”, destacou.

O esclarecimento pessoal é essencial para a quebra do estigma, que existe no inconsciente popular, que o autismo é apenas severo e não tratável.

“Quero que as pessoas percebam que o diagnóstico não nos impossibilita de termos independência, que posso ser autista, e também ser formada, que posso casar e ser mãe, as possibilidades são infinitas e cada dia e uma conquista nova”, completou Dara.

COMO TER O DIAGNÓSTICO?

A Neurologista e Neuropediatra Dra. Marcela Avelino, explica que para o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista é necessário uma avaliação clínica especializada, preferencialmente com apoio multiprofissional, permitindo a análise adequada de todos os padrões e possibilidades que expliquem determinadas ações ou atitudes da pessoa avaliada.

“O diagnóstico é exclusivamente clínico e tem critérios definidos e aceitos mundialmente. Pode ser embasado ou auxiliado pelas informações de avaliação neuropsicológica e de uma equipe multiprofissional (psicólogo, terapeuta ocupacional, psicopedagogo, além de professores e familiares). Mas o diagnóstico é puramente clínico. Os exames solicitados (tomografia, ressonância, eletroencefalograma, etc.) são utilizados para diagnóstico diferencial, ou seja, afastar outras causas; ou para investigar comorbidades, condições que podem vir associadas ao TEA, como epilepsia, outras alterações do comportamento, transtornos de fala e etc. “, destaca.

A Dra. Marcela Avelino afirma ainda que não há qualquer tipo de exame, seja ele sanguíneo, de imagem ou genético, que feche o diagnóstico do TEA.

Os sinais e sintomas que fazem o diagnóstico, estão dentro de dois grupos principais. Um relacionado à iniciativa e compreensão das relações sociais, e outro a padrões mais rígidos e restritos de atividades e funcionamento.

Diante disso, algumas das principais características da socialização de pessoas dentro do espectro autista são:

  • Dificuldade de contato ocular sustentado;
  • Baixo interesse pelas pessoas da mesma faixa etária e círculo social;
  • Pouca interação social. Pode haver maior foco em objetos que no compartilhamento com outras pessoas;
  • Dificuldade em comunicação não verbal, como atraso em apontar, mandar beijo e dar tchau;
  • Dificuldade em estabelecer conversas e compartilhar interesses com outros.

No quesito padrões mais rígidos e restritos de atividades, o autismo pode se manifestar como:

  • Movimentos repetitivos (estereotipias), como andar de um lado para o outro, andar na ponta dos pés, girar em círculos, sacudir as mãos ou o tronco, alinhar objetos;
  • Repetir sons e palavras, mesmo sem intenção comunicativa;
  • Hiperfoco ou interesses restritos em determinados temas ou tipos de objetos;
  • Dificuldades sensoriais, como para tolerar ou se acostumar com barulhos habituais; tocar determinadas texturas;
  • Incomodar-se facilmente com odores;
  • elevada tolerância a dor;
  • Dificuldade em perceber alterações de temperatura;
  • Seletividade alimentar;
  • Rigidez de pensamento e necessidade de seguir certos “rituais”.

Mas para além de observar alguns desses sinais, é preciso buscar o diagnóstico para que o indivíduo dentro do espectro autista possa ser compreendido como tal, aumentando sua qualidade de vida. Para isso, a neuropediatra afirma a importância de se evitar um diagnóstico tardio.

“Ainda existe muito preconceito dentro do tema Transtorno do Espectro Autista. Um peso muito grande acompanha o diagnóstico. Temos que lembrar que estamos falando de um espectro. Então, temos formas de apresentação diferentes. E, independente de aceitar ou não um diagnóstico, o melhor cenário é identificar e tratar atrasos e dificuldades o quanto antes, para que se tenha um melhor desenvolvimento. Não podemos esquecer que o acesso a profissionais qualificados para o diagnóstico e tratamento também é complicado no nosso país. É preciso facilitar esse acesso para que tenhamos melhores resultados em todos os níveis (individual, social e financeiro)”, afirma a neuropediatra.

E se tratando de um diagnóstico feito tardiamente, Dra. Marcela destaca a importância para que se tenha o autoconhecimento, assim como aconteceu com a enfermeira Dara Costa.

“Fazer o diagnóstico também faz com que a pessoa se compreenda. Em especial para as crianças maiores, adolescentes e adultos, mas também para seus familiares e círculo social. Consequentemente diminuindo sintomas de ansiedade e depressão, facilitando a inserção social, o funcionamento acadêmico e no meio de trabalho. Fazer o diagnóstico permite tratar adequadamente, tratar precocemente e mudar a evolução no sentido de melhor adaptação e melhor funcionalidade, com otimização de custos individuais e sociais”, conclui a médica.

Neste domingo (2), A Associação de Amigos dos Autistas do Piauí (AMA), em parceria com a Secretaria de Estado para Inclusão da Pessoa com Deficiência (Seid) e o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conede) a 10ª Caminhada Azul em Teresina. A concentração será a partir das 15h, na Ponte Estaiada.

Estagiário sob supervisão da jornalista Malu Barreto

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