
Maria Letícia Vitória Olmita Moura Brito nasceu com paralisia cerebral – Nível III, passou por diversas cirurgias e hoje, aos 17 anos, finaliza o terceiro ano do Ensino Médio com o sonho de cursar Direito.
Ao Portal ClubeNews, Maria Letícia falou sobre a sua história de vida e a rotina de estudos, incluindo duas edições no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
“Tenho paralisia cerebral, Nível III, devido eu ter nascido prematura de 27 semanas de gestação (6 meses), considerada prematuridade extrema, passei dois meses na UTI neonatal e, lá mesmo, já comecei a fazer fisioterapia”.
A rotina de estudo é intercalada com as idas à fisioterapia. Letícia conta que chega a fazer quatro sessões de duas horas cada por semana. Com a ajuda da família, em especial da mãe, e dos professores, ela consegue organizar o tempo e fazer as atividades escolares.
“Minha mãe é a maior incentivadora, me faz seguir, que eu nunca me sinta inferior a nada e a ninguém, pois o conhecimento adquirido me levaria a qualquer canto do mundo. Isso foi primordial”.
Letícia usa cadeira de rodas para longas distâncias e o andador para curtas distâncias. Aos 15 dias de vida, ela precisou fazer transfusão de sangue. Aos 2 anos, teve sete broncopneumonias. Com 9 anos, passou pela primeira cirurgia, a Rizotomia Dorsal Seletiva, em 12 de dezembro de 2015. Em 2017, veio uma cirurgia no fêmur direito. Em 2018, cirurgias múltiplas ortopédicas em um único dia. Já no ano de 2020, foi a cirurgia do estrabismo.
As cirurgias foram realizadas no Piauí e em Minas Gerais, sempre acompanhadas de fisioterapias. “Agradeço em primeiro lugar a Deus e a minha família por terem feito todo esse esforço para melhorar a minha independência, tornado minha qualidade de vida cada dia melhor”.
Sobre o Direito
Maria trocou o sonho de fazer Pedagogia para cursar Direito. A mudança veio após a mãe, Francisca Olmita, iniciar uma graduação e a filhar ter mais contato com os assuntos jurídicos, principalmente na área do Direito da Família. “Hoje me vejo muito no Direito, trabalhando com a adoção. Eu sempre tive vontade de ajudar o próximo”, diz.
Ela fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos anos de 2021 (aos 15 anos) e 2022 (aos 16 anos), ambas as vezes como treino. Em 2022, ela fez 720 pontos na Redação. E, em 2021, foi 800 pontos. A pontuação chamou a atenção da família e dos professores que, em um site de simulação, mostrou que ela seria capaz de passar em uma universidade pública.
Com isso, o sonho de ingressar no Ensino Superior ficou ainda mais possível. “Para minha surpresa, se eu já tivesse concluído o terceiro ano do Ensino Médio, poderia entrar na UFPI, fiquei surpresa, pois não imaginava”.
O APOIO INCONDICIONAL DA MÃE
A mãe da Maria Letícia conversou com o Portal ClubeNews e relatou que sempre buscou que a filha acreditasse em si mesma, que ela tem potencial, por exemplo, de entrar em uma faculdade. “São 17 anos de tratamento continuo para Letícia ter esses resultados”.
Francisca Olmita conta que as conquistas da filha é uma grande vitória para a família. “Que a história da Letícia seja incentivo para outras mães e filhos. Porque as pessoas com paralisia cerebral têm capacidade de estudar, de ter um futuro, de passar em um concurso”.
Ela conta que são 17 anos de muita luta, pois Maria Letícia precisa de cuidados específicos e contínuos de um grupo multiprofissional. “É muita luta. Abrindo mãe de realizar nossos sonhos para ela ter esses resultados, é uma longa trajetória”.
SOCIEDADE
Letícia também falou sobre o preconceito vivenciado em situações cotidianas. “Para a sociedade sou invisível e a sociedade me enxerga como frágil, incapaz”.
“O preconceito existe e sempre vai existir, a partir do momento que eu saio de casa as pessoas começam a olhar para a minha cadeira de rodas, para o meu andador e acabam esquecendo de olhar para mim, esquecem que existe um ser humano”.
A estudante conta que o olhar preconceituoso das pessoas muitas vezes a fez querer desistir dos estudos e dos seus sonhos, por exemplo. “No entanto, minha família sempre me disse que posso realizá-los, posso ser tudo o que eu quiser e que meu lugar é onde eu quiser”.