Sincretismo e tradições: Xangô, São João Batista e as fogueiras de Junho

Lendas, histórias e tradições envolvendo o dia 24 de junho

Isadora Cavalcante e Carlienne Carpaso
carliene@tvclube.com.br

Mãe Núbia de Xangô abriu as portas da Casa das Almas de Vó Cambinda e Pai Tapindaré, ao Portal ClubeNews, e conversou sobre Xangô, São João Batista e as fogueiras do mês de junho.  Entre eles, o sincretismo religioso e as histórias que envolvem o orixá da justiça, o nascimento do santo e o fogo até chegar nas tradições do dia 24 de junho.

A relação do orixá e o santo surgiu na época da escravidão no Brasil como “mecanismo de sobrevivência e resistência” das religiões de matriz africana. Na religião católica, a mãe de João Batista, Isabel, disse a sua prima Maria, mãe de Jesus, que iria acender uma fogueira para anunciar o nascimento de seu filho. A fogueira, todo dia 24 de junho, é em homenagem ao dia que São João nasceu.

“Imagine que você chegou (ao Brasil) da África com a referência do fogo de Xangô e vê que, no dia 24 de junho, tem fogo para todo lado. Então, posso dizer que Xangô é São João. Eu posso cultuar ao meu orixá e tocar meu atabaque. Eles vão achar que estou cultuando São João e não vão me matar. O sincretismo religioso do catolicismo com religiões africanas surgiu disso”, destacou Mãe Núbia.

Mãe Núbia de Xangô – Foto: Isadora Cavalcante /Portal ClubeNews

Fogo de Xangô: uma das lendas do orixá

Uma das lendas diz que Xangô era um rei. Quando o seu povo tinha desavenças, ele surgia para equilibrar a energia e fazer valer a lei.  Essa entidade é conhecida como o orixá da Justiça.

Conta uma das histórias que Xangô brigou com Ogum por conta de outra orixá e pediu ao Exú uma magia para ficar mais forte. “Então foi feita uma porção que o fez soltar bolas de fogo pela boca. Acabou que ele vence Ogum com uma pedra de fogo. Por isso, nós dissemos que o ponto de força de Xangô é uma pedreira”, contou Núbia.

Ela explica que Xangô é representado como um guerreiro forte com um machado de dois lados. “Por que dois lados? Porque Xangô é o deus da justiça, e a justiça não enxerga um lado, ela só é justa”.

As pedras são símbolos de Xangô – Foto: Carlienne Carpaso/Portal ClubeNews


O encontro com a Umbanda 

Núbia é professora de engenharia da Universidade Federal do Piauí. Antes, ela era uma pessoa que se dizia “agnóstica” até que o seu orientador de doutorado a convidou para fazer uma visita à casa de Umbanda na qual frequentava. Ela, que vivia entre os números e desacreditava em incorporações, sentiu uma energia diferente ao visitar o terreiro ao lado do amigo.

“Nesse dia minhas pernas ficaram dormentes. Eu chorava desenfreadamente sem saber o porquê, era como se fosse um choro de limpeza”, contou a mãe de santo.

Depois disso, Núbia iniciou seus estudos sobre a religião e foi feita mãe de santo na cidade de Codó (MA) com o pai Pedro de Oxum. “Se eu fosse resumir a Umbanda diria que é a religião das minorias, que abraça negros, indígenas, a população lgbtqiapn+; abraça quem chegar, o pobre, o rico. Ela abraça todo mundo”

Para Núbia, descobrir ser filha de Xangô justificou a sua história. “As injustiças que eu via, inclusive na escola quando ficava revoltada e defendia todo mundo. Eu era filha de Xangô e não sabia. Então, tem isso da justiça e equilíbrio”.

Mãe Núbia de Xangô – Foto: Isadora Cavalcante/Portal ClubeNews

O que pedir ao orixá Xangô?

Sobre cultuar Xangô, os umbandistas costumam usar vestimentas em tons de vermelho ou marrom. “Consequentemente, a gente traduz isso nas velas, que também são nas mesmas cores”.

“A gente pede para Xangô um senso de equilíbrio, de justiça, para sermos justos com os demais e vice-versa; que eu não cometa nenhum delito, que eu ande na lei, que eu seja ética”.


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