
A palavra sororidade combina as palavras “irmã” e “solidariedade”; e seu conceito abraça a ideia do “juntas somos mais fortes”. Pensando nisso, surge o projeto “Sororidade nas Ruas”, idealizado pela defensora pública, Ana Clara Castro, que distribui kits de higiene pessoal a mulheres em situação de rua.
“Sempre tive vontade de tentar ajudar as pessoas de uma forma mais efetiva. Algumas situações foram me marcando ao longo da vida, como uma vez que uma senhora me pediu um absorvente na rua e vi outra mulher tomando banho na praça. Queria, de alguma forma, ajudar mulheres”, disse a jovem ao Portal ClubeNews.

Ana conta que o pontapé do projeto começou durante a pandemia (da Covid), quando surgiu a oportunidade de unir o tempo livre com “a percepção da necessidade daqueles que precisavam ‘ficar em casa’, mas não tinham ‘casa'”.
“Nossa primeira ação foi em 01 de maio de 2020, quando chamei uma amiga, arrecadamos poucas coisas e saímos distribuindo para mulheres no Centro da cidade; desde então, fazemos entregas de kits de higiene no Centro da cidade de 15 em 15 dias”.
Como funciona o projeto?
Inicialmente, a ideia era levar kits de higiene, sobretudo absorventes, apenas para as mulheres. Contudo, Ana percebeu que era difícil chegar nas mulheres sem passar pelos “homens”. Eles são a maioria e sempre abordavam as voluntárias pedindo os produtos.
“Elas [moradoras em situação de rua] relatavam que eles pegavam os kits delas. Então, decidimos fazer kits de higiene para eles também. Além disso, sempre tentamos colocar algum lanche junto. Temos um grupo composto de, em média, 40 voluntários. Antes fazíamos uma ‘busca ativa’, mas ultimamente o número de pessoas em situação de rua aumentaram e, às vezes, os kits nem são suficientes”, destacou a defensora pública.
Ações que marcam
Ana Clara cita que já foram mais de 60 ações ao longo desses anos. “Todas às vezes que eu vou é como se eu aprendesse algo, sempre algo diferente me toca. Algumas vezes volto com a sensação de que eu estou conseguindo fazer alguma coisa na vida daquelas pessoas, mas em outras volto com a sensação de impotência”, confessa
Além da ajuda com os kits, o projeto também busca levar humanidade àqueles que vivem em situação de rua. “Recentemente, recebemos de um deles um bilhete com um poema e isso me tocou bastante, talvez porque nele ele tenha dito o que, talvez, todos eles queiram dizer”, contou a jovem.
Confira o poema abaixo:
Lençol de Papelão
No meu mundo, onde a noite é mais fria,
uma eterna agonia é dormir com a solidão
No meu mundo, onde o próprio mundo é uma contradição
No meu mundo, onde o crack e o álcool são tão presentes quanto ratos e baratas
não existe um abraço ou aperto de mão
Neste universo paralelo de olhos altivos,
preconceito e violência,
a porta aberta é sempre a dependência
Vivendo marginalizado por pessoas sem coração
Queria amar e ser amado
Eu queria estar ao lado de um ombro amigo
Mas eu vejo vários inimigos
Terror e ilusão
nos meus pesadelos de todo dia
Na rua escura e fria
No meu lençol de papelão
– Autor: Leo Punk (pessoa em situação de rua)