22 de agosto de 2025

Artigo: Não são as Olimpíadas da Dor

Kyslley Urtiga

Psicóloga
Publicado em 05/10/2023 18:00

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Calor – Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Certa manhã, eu estava em São Paulo indo para FMUSP onde cursei a especialização de sexualidade e estava frio. Eu moro em Teresina, no Piauí. Como estou no Nordeste, costuma fazer calor o ano todo, ultimamente a temperatura pela manhã tem estado entre 30 e 40 graus.

Quando fui até o ponto para pegar um taxi, eu estava com um casaco e ouvi uma garotinha dizer: “Oh meu Deus, está tão frio”, e minha amiga disse a ela: “Não está tão frio. Sou de Porto Alegre. Você acha que isso está frio?”

Temos que parar de comparar a nossa dor e as nossas experiências com as de todos os outros. Cada um de nós experimenta nossas vidas em relação a tudo o que temos acontecendo. Nada está isolado. Então, o que pode não ser tão ruim para uma pessoa, pode realmente ser uma dificuldade para outra.

Temos que deixar as pessoas passarem pelo que estão passando, sem tentar fazer parecer que não é grande coisa, porque há algo pior por aí. Sempre haverá algo pior, isso não significa que o que aquela pessoa está vivenciando não dói ou não é triste ou desconfortável.

Jogamos este jogo de comparação porque:

Queremos ajudar as pessoas a colocar as coisas em perspectiva.
Queremos que eles saibam que o que estão passando não é tão ruim porque poderia ser pior.
Queremos minimizar suas reclamações. Estamos tentando destacar nosso trauma e dor. Queremos ser ouvidos e queremos que as pessoas vejam valor em nossas histórias.

Quando criamos uma hierarquia de dor e diminuímos as experiências das pessoas, nós:

Crie um espaço onde as pessoas se sintam ignoradas e sem apoio.

Impedimos as pessoas de compartilhar, não apenas connosco, mas também com outros.

Faça-os sentir que não vale a pena falar sobre sua dor.

Elimine seu desejo de se expressar.

Ensine-os a replicar nosso comportamento e iniciar ou continuar um ciclo prejudicial.

Quando alguém está lidando com algo ou procurando apoio, não precisa que subestimemos sua experiência. Não é hora de centralizarmos o que passamos. Cada uma de nossas experiências é exclusivamente nossa e precisamos ter permissão para tê-las.


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