
O corpo de Antônio Bispo dos Santos, o Nêgo Bispo, será sepultado na roça da comunidade quilombola em que viveu, a Saco-Curtume, da cidade de São João do Piauí (PI). A informação foi divulgada pela família.
O velório vai acontecer nesta segunda-feira (04), na residência onde morava na comunidade. Já o sepultamento acontece às 17h.
Sobre a roça, nas redes sociais, Nêgo Bispo uma vez postou: “A roça de quilombo é um propósito de envolvimento e compartilhamento, inspiração nas cosmologias politeístas afroconfluentes e acontece editando e reeditando os modos de existências historicamente compartilhadas nas trajetórias das vidas afroquilombolas e afropindoramicas!”
Daniele Cantanhede, na postagem sobre a escolha da roça para o sepultamento, comentou que Negô Bispo será “semente”.
“Será semente para Terra que lhe deu frutos. Que lhe deu o de comer. Tua Terra te deu. Tua Terra te quer. Mestre, e nem precisou da academia para ser. Teu povo te fez gigante e te fará imortal”, postou.
História e legado
Escritor, pensador, professor e ativista social, Nêgo Bispo foi um dos maiores intelectuais quilombolas do país. Ele nasceu em 10 de dezembro de 1959, no então povoado Papagaio, atual município de Francinópolis.
Nêgo Bispo atuou na Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ/PI) e na Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).
A CONAQ declarou que a contribuição dele será lembrada e reverenciada por gerações. “Sua contribuição inestimável para a compreensão e preservação da cultura e identidade quilombola será lembrada e reverenciada por gerações.”
Escritor de livros e artigos, ele destacou em seus textos a história de resistência do povo negro e defendeu o conceito de contracolonialismo.
Os livros “Quilombo, Modos e Significados” e “Colonização Quilombos: Modos e Significados”, e documentário “O Jucá da Volta”, em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), são alguns que ganharam grande repercussão do meio acadêmico.
HOMENAGENS
O presidente da República, Lula (PT), comentou sobre a morte de Nego Bispo. “O Brasil perdeu um importante intelectual quilombola. O piauiense Nego Bispo foi autor de livros, poemas e artigos, além de um ativista social importante das comunidades tradicionais que constituem parte importante da nossa identidade. Meus sentimentos aos amigos e familiares por essa perda”, escreveu no Twitter/X.
O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, ex-governador do Piauí, disse que o movimento quilombola, o Piauí e o Brasil perdeu “uma voz que ecoou em nossos corações e nos ensinou muito”.
O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, também lamentou a morte de Nêgo Bispo: “Um importante pensador brasileiro e ativista quilombola”, e que deixará “um legado inesquecível para a cultura nacional”.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também se pronunciou sobre a morte de Bispo. “Eu vou falar de nós ganhando, porque pra falar de nós perdendo eles já falam. Um dos maiores pensadores da nossa época ancestralizou. Nego Bispo fez a passagem e deixou aqui um legado enorme para o pensamento negro brasileiro. Um abraço a toda sua família e amigos”.
“Sua passagem é uma perda irreparável para a luta negra e contracolonial. Seu legado continuará vivo e sua voz jamais se calará! Vá em paz!”, escreveu a deputada federal Dandara Tonantzin (PT-MG).
O governador do Piauí, Rafael Fonteles, escreveu: “O Piauí perdeu uma das maiores referências da luta quilombola no país. Morador do Quilombo Saco-Curtume, em São João do Piauí, Nego Bispo usou seu saber ancestral para escrever artigos, poemas e livros que ficam como um importante legado para todos nós. Meus sentimentos à família e aos amigos, e que Deus o receba em seu descanso eterno”.
O pastor e deputado federal Henrique Vieira (Psol-RJ) também se pronunciou. “Perdemos um dos maiores pensadores da nossa época. Nego Bispo fez a passagem e deixou aqui um legado enorme para o pensamento negro brasileiro. Um fraterno abraço a toda sua família e amigos.”