Os dados do estudo “Dossiê: Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transexuais Brasileiras” mostrou que o Piauí registrou assassinatos de duas travestis em 2023. As vítimas Paloma Silva e Samara Cibele foram brutalmente assassinadas. As informações são da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e foram divulgadas na segunda-feira (29).
O levantamento aponta que a idade média das vítimas foi de 30,4 anos, e no ranking dos locais com mais mortes a pessoas trans e travestis, o estado ocupou a 17º posição. O maior número de casos de violências ficou com São Paulo, que registrou 19 mortes; seguido do Rio de Janeiro, com 16 registros; e do Ceará, com 12 casos.
No total, o Brasil teve 136 assassinatos contra travestis e mulheres trans/transexuais e nove contra homens trans e pessoas transmasculinas, totalizando 145 mortes. Além de nove suicídios, por questões de invisibilidade dessa população. A mais jovem assassinada tinha apenas 13 anos de idade.
O ano de 2023 estabeleceu uma média de 12 assassinatos por mês, com aumento de 1 caso a cada 31 dias, em relação a 2022, quando houve 131 casos. Esse número representa um aumento de 10,7% dos assassinatos.
Conforme o levantamento, cerca de 65% aconteceram fora das capitais dos estados, em cidades do interior. A Antra destaca que a publicação do dossiê tem o intuito de erradicar as diversas formas de violência contra a população trans no país.
A secretária de Articulação Política da Antra, Bruna Benevides, afirma que as trocas de informações pretendem assegurar o direito à vida de pessoas trans.
“O dossiê lança luz sobre o problema sistemático que acontece no Brasil, e a gente precisa assumir o compromisso para garantir que a população trans pare de ser assassinada, temos esse desafio”, diz Bruna, que é responsável pela coordenação e análise de dados para produção do dossiê.
Veja ranking
Localidade dos assassinatos
A maior concentração de assassinatos foi observada na Região Sudeste (37% dos casos); seguida pelo Nordeste (36%); Sul (10% dos assassinatos); Norte (9%); e a região Centro-Oeste (7%).
Os crimes ocorrem majoritariamente em locais públicos (60%), principalmente, em via pública, em ruas desertas. Dos 40% restantes, em locais privados, a residência da vítima aparece com o local onde mais houve casos, além de motéis, unidades de saúde e ainda residências de terceiros.
A maior parte dos assassinatos ocorreu no período noturno, com 62% dos casos brasileiros. Em 2023, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil também identificou 5 assassinatos de travestis/mulheres transexuais brasileiras no exterior, sendo 2, na Itália; 2, na Espanha; e 1, no Paraguai.
Perfil
Dentre as 145 pessoas trans assassinadas no ano passado, 34 casos não tinham informações sobre a idade das vítimas. Se considerados apenas os 111 casos com identificação da idade, 90 das vítimas tinham entre 13 e 39 anos, o que representa 81% do total.
Sobre o contexto social em que viviam as vítimas, a prostituição é a fonte de renda mais frequente. O estudo chama a atenção para o fato de 57% dos assassinados serem de travestis e mulheres trans que atuam como profissionais do sexo, consideradas mais expostas à violência direta, mais estigmatizadas e marginalizadas.
No último ano, dentre os casos de homicídios em que foi possível identificar a raça da vítima, a Antra observou que, pelo menos, 72% das vítimas eram pessoas trans negras (pretas e pardas).
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