
Rayfran Junior*
MaluBarreto@tvclube.com
O dia da mulher se aproxima, e com ele, a conscientização sobre as violências que mulheres sofrem diariamente com seus namorados ou companheiros. A campanha SOS mulher, promovida pela TV Clube, traz relatos de vítimas de violência doméstica que viveram pesadelos ao lado de seus agressores.
Segundo uma vítima de violência doméstica, que preferiu não se identificar, o início do seu relacionamento era um conto de fadas, mas com o tempo ele se tornou agressivo e violento, chegando até a bater nela na frente de seus filhos.
“No início era maravilhoso, mas aí ele foi mostrando as garras com o tempo. Ele me batia na frente das crianças, ele me ameaçava. Teve um dia que ele me deu um murro na boca e eu desmaiei. Ele dizia muito na frente do meu filho que ia furar meus olhos e que iria me matar”.
No ano passado, o Piauí registrou 3.413 ocorrências de violência doméstica, com uma média de 10 casos por dia. No entanto, a lista é muito maior, uma vez que a maioria das vítimas demora para procurar a polícia ou nem sequer chegam a realizar a denúncia.
Além disso, em muitos casos, a vítima deixa de procurar a ajuda até mesmo dos familiares por medo do julgamento e pela vergonha da situação. “Eu não me sentia confortável para dizer para ninguém. Na minha cabeça, aquilo iria melhorar, ia passar”, disse fulana.
Outro tipo bem comum de violência cometida, é a psicológica. Nessa, o agressor manipula o emocional das vítimas, que raramente percebem o controle que seus parceiros possuem sobre elas.
Segundo a empresária Natalice Barbosa, outra vítima de abusos e violências, é muito difícil reconhecer e perceber que está passando por situações de abusos, devido à paixão sentida pelo agressor. Para ela, atitudes como proibir usar roupa curta, ciúmes excessivos eram vistos como “normais” quando estava dentro do relacionamento.

“No início, quando você está apaixonada, você acha que aquele ciúme excessivo é prova de amor. A gente pensa que vai passar, que vai mudar aos poucos. Se eu sorrisse muito, ele falava “fecha os dentes, porque você está sorrindo tanto?”. Então as mulheres às vezes não percebem, mas a violência começa aí”, disse ela.
A violência psicológica, inclusive, está prevista na Lei Maria da Penha, e pode garantir medidas protetivas para a vítima contra o seu agressor, visto que é uma violência cumulativa e constante, praticada por meio de comportamentos abusivos por parte do agente, que sequencialmente abalam a paz e a tranquilidade da mulher.
“Você não vê, você não sente na pele, mas você escuta. Então é muito pior. Já tinha pedido o divórcio há 5 anos, mas ele não aceitou e eu fui empurrando com a barriga e acabei adoecendo”, conta a empresária.
Natalice revela que desenvolveu depressão e crises de ansiedade durante todo o tempo que continuou casada com seu agressor, até que em 2020, resolveu dar um basta e se divorciar formalmente de seu ex-marido, que faleceu no ano seguinte vítima de Covid-19.
Feminicídio
Em 2023, 28 casos de feminicídios foram registrados no Piauí, com crescimento de 16,67% em comparação a 2022. Além disso, boa parte dos casos acontecem em regiões interioranas do estado, onde não existe organismo de política para as mulheres.
Zenaide Lustosa, secretária de políticas públicas para mulheres, revela que em torno de 70% dos municípios onde houve feminicídio em 2023, não existem organismos de políticas públicas para as mulheres.

“As mulheres se tornam mais vulneráveis pela própria vulnerabilidade e pela situação socioeconômica delas. Em Teresina você tem todos os serviços como o Tribunal de Justiça, você tem o Ministério Público, a Defensoria Pública, você tem uma Secretaria Municipal das Mulheres, e várias instituições que compõem a rede de apoio na capital. Quando você vai para os municípios, isso não acontece”.
Primeiro passo para a liberdade
Romper o ciclo, reconhecer o menor sinal possível de abuso psicológico e físico, pode parecer difícil, mas é o primeiro e grande passo para se livrar de um abismo. Denunciar seu agressor, e melhor caminho para dar continuidade a sua vida de maneira saudável, feliz e sem abusos.
“Depois de muita terapia, de muitos tratamentos. Eu faço acompanhamento psicológico ainda, minha filha também, ainda tem medicação de ansiedade, porque essas marcas ainda continuam na gente. Não é algo que vai passar rápido, mas hoje realmente eu tenho outra vida, hoje eu estou muito mais forte, hoje eu tenho um trabalho que me dá vontade de trabalhar todos os dias, hoje eu tenho uma disposição para ir trabalhar”, finaliza Natalice Barbosa, sobrevivente de violência doméstica.
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