8 de junho de 2025

SOS Mulher: a cada duas horas e meia uma mulher é vítima de agressão no PI

Bruno do Carmo

Publicado em 05/03/2024 19:30

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Dona de casa, Maria Albertiza, vítima de violência doméstica (Foto: Reprodução/Tv Clube)

A cada duas horas e meia uma mulher foi vítima de violência no Piauí, no ano de 2023. Os dados, da Secretaria de Segurança Pública do estado, mostram que 271 casos foram registrados a cada mês.

A educadora popular e doutora em Educação, Ana Célia de Sousa Santos, explica que a violência à mulher é uma situação que vai além da relação do cônjuge. É um impasse que perpassa as relações de poder, de dominação entre os corpos inseridos na sociedade, seja ela nas famílias, nos lares brasileiros, no mercado de trabalho, etc.

Ana destaca que todo o problema está centrado na concentração de poder dos homens diante das mulheres, dos papéis definidos dentro da sociedade, resultando no machismo estrutural.

“Nós temos vários determinantes que condicionam as nossas relações, um deles é o machismo, e hoje nós dizemos machismo estrutural, porque ele estrutura as nossas relações, independente de ser a relação entre o casal homem e mulher, ele vai estruturar as relações na sociedade, por exemplo, ele estrutura as relações dentro da família, nas instituições escolares, nas igrejas e nas relações das pessoas, definindo o comportamento ou o papel que ambas as pessoas vão exercer na sociedade. E ele vai se estruturando na medida em que os homens passam a ter mais poder diante das mulheres, e as mulheres acabam nessa relação se submetendo a esse poder”, diz.

Doutora em História Social, Iraneide Silva e doutora em Educação, Ana Célia de Sousa Santos (Foto: Reprodução/Tv Clube)

Iraneide Soares da Silva, doutora em História Social, também discorre sobre as perspectivas de estruturação de poder entre gêneros na sociedade. A especialista reflete que, apesar do alto número de casos no estado, podemos observar que, a partir do momento em que uma mulher detém certo tipo de autoridade, elas irão ditar como deve ser a relação entre as pessoas, mas, ainda, precisamos falar sobre “o dono, o dono da casa, o dono da esposa, aquele que prover”, pois todo esse pensamento enraizado socialmente tem evidenciado essas violências.

Ainda de acordo com Ana, esse fato pode ser constatado por meio da presença de mulheres em lugares de destaque social. Porque as mulheres estão muito mais presentes, por exemplo, na ciência, nas universidades, e estão muito mais escolarizadas hoje.

A dona de casa, Maria Albertiza, é um dos exemplos. Ela contou em entrevista à Tv Clube que viveu situações de violência durante 21 anos, quando estava casada, e por pouco, não teve a vida ceifada pelo ex-companheiro.

Albertiza relata que estava em casa passando roupas quando o companheiro chegou descontrolado, quebrando os móveis do local, puxou-lhe os cabelos e com uma marreta em mãos tentou lhe matar. O Ronda Cidadão chegou a ser acionado, mas os vizinhos foram os responsáveis por salvarem sua vida, após intervirem na situação.

“Ele foi preso no dia 31 de dezembro de 2016. Eu estava aqui (em casa) só, eu estava passando uma roupa quando ele chegou, ele quebrou foi tudo, ele tentou me matar, ele só não me matou por causa da vizinha aqui”, desabafa.

Após o trauma, a vítima pondera que começou a trabalhar o amor-próprio, conheceu um novo amor, conquistou um emprego e afirma que não se conhece como a mesma pessoa.

“Eu acho que hoje eu vejo foto minha de 15 anos atrás, eu não me reconheço, tipo, a aparência em si em tudo, em tudo, tudo, tudo, tudo que eu vou fazer. Tudo ficou melhor. Eu conheci meu marido em 2018. Porque sempre há uma pessoa que realmente te respeita e te trata com atenção, com carinho, com tudo. É só que eu faço isso. Arranjei o emprego, passei a trabalhar, arranjei os patrões muito bons. E pronto, a vida fluiu”, diz.

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