Quando uma criança ou adolescente presencia uma situação de violência, principalmente quando a própria mãe é agredida, elas podem sofrer uma série de impactos emocionais, psicológicos e até mesmo físicos, necessitando de um acompanhamento profissional para atenuar o trauma e não perpetuar o ciclo de violência. A psicóloga Karla Bonfim, contou sobre o impacto da violência, e do feminicídio na vida dos filhos das vítimas.
Segundo a especialista, os traumas de uma infância marcada por violência no ambiente doméstico podem provocar queda no rendimento escolar, desencadear a baixa autoestima e até outros distúrbios. Os prejuízos atingem várias áreas do desenvolvimento da criança, como o social, emocional, psicológico, e também traz prejuízos na área da educação e da saúde.
“Psicologicamente essa criança vai ter uma predisposição para ter uma ansiedade, uma depressão, um isolamento. Ela também vai adquirir uma insegurança, medo. Na escola também vai refletir com prejuízo no rendimento escolar, a falta de concentração, também uma perca da memória, a procrastinação, ela vai ter dificuldade para fazer as atividades, vai começar algo e não vai concluir” contou a psicóloga.
Em entrevista a Tv Clube, a Ana(nome fictício) relatou como a violência doméstica impactou na sua vida, e na de sua filha, que chegou a presenciar alguma das agressões,e em um dos episódios, a menina tinha apenas 8 anos.
“Ela (filha) disse que na hora que começou a briga, ela disse que colocou a mão no rosto e não olhou mais. Só depois que eu tava caída no chão, que ele já tinha fugido, ela ficou do meu lado. Ela não queria sair do meu lado, de jeito nenhum” disse.
Ana contou que passou por dois relacionamentos abusivos, e que no começo o seu ex-companheiro não demonstrava ser violento, foi um processo gradativo, o que dificultou ainda mais a quebra do ciclo, que para Ana, durou 6 anos.
“Ele foi ficando aos poucos violento, as culpas sempre eles colocam culpas de coisas que dão errado, ou na vida deles, ou na vida doméstica, ou no dia-a-dia, na rotina. Eles projetam a culpa toda na mulher, e isso fragiliza muito a gente, ataca nossa autoestima, ataca nossa percepção de si mesmo” disse.
Como proteger as crianças?
Em diversos casos, as crianças são utilizadas como “iscas”, onde o individuo aproveita as visitas, para agredir a ex-companheira, e para proteger essas crianças, a lei brasileira tem avançado. A lei 14.713 de 2023 proíbe a guarda compartilhada de filhos nos casos em que é constatado o risco de violência doméstica ou familiar.
“Recentemente a gente teve alteração da lei em relação à lei da guarda compartilhada que em casos de violência doméstica, ou suspeita de violência doméstica, a gente tem a impossibilidade de ter a guarda compartilhada. Então, obrigatoriamente, ela fica com a guarda unilateral, que é uma maneira de proteger a saúde da criança, tanto a saúde física, como a integridade também psicológica dela” frisou a advogada, Ana Leticia Arraes.
Com esse suporte, muitas mulheres conseguem forças para romperem o ciclo da violência.
O rompimento do ciclo de violência
Romper um ciclo de violência é um ato de coragem, de autodefesa e também de proteção para os filhos. No mês da mulher, elas são encorajadas a tomar essa decisão, que é difícil, mas necessária para que a mulher possa seguir seu caminho de forma livre e independente.
“A gente se sente um pouco arrependida de não ter quebrado esse ciclo antes, mas que a pessoa não tenha medo de quanto antes buscar sair, quebrar, esse ciclo de violência. Por que é importante a mulher quebrar esse ciclo? Porque essa violência vai refletir no comportamento dos seus filhos, os seus filhos vão normalizar a violência e as outras gerações também vão perpetuar essa violência” finalizou Ana.
Em caso de violência, denuncie:
Disque 180
Central de Atendimento à mulher
Disque 190
Polícia Militar
Aplicativo Salve Maria
Disponível nas lojas de aplicativos