Finanças para casais: planejamento financeiro ajuda no relacionamento; veja dicas

Mila Gaudencio destaca etapas importantes para instituir a prática do planejamento financeiro a dois

Especialista em educação financeira, Mila Gaudencio, defende transparência sobre as finanças entre o casal (Foto: arquivo pessoal)

Ao iniciar uma relação é normal que o casal converse sobre estilos de vida, hobbies e planos a longo prazo. Algumas destas conversas podem ser decisivas para que as pessoas decidam se querem ou não seguir juntas. Mas tão importante quanto esses assuntos, está outro, bem menos abordado: dinheiro.

Para a economista, educadora financeira e consultora do will Bank, Mila Gaudencio, falar sobre dinheiro ainda é um tabu no Brasil. Isso se reflete em todas as esferas, incluindo a familiar.

“Existe uma barreira cultural que cria uma atmosfera de constrangimento ao se falar sobre a vida financeira. É um assunto de ordem prática, que impacta em absolutamente todas as decisões do dia a dia, e ainda assim as pessoas têm vergonha e minimizam a importância dessa conversa”, contextualiza.

Mila comenta que quanto mais se fala sobre dinheiro, mais fácil é se relacionar com ele. “O número de casais que não conversa sobre finanças, tanto as pessoais quanto as da casa, é assustadoramente alto”, diz.

“Além de gerar conflitos, isso pode promover até endividamento”, diz ela. É o que confirma a pesquisa do IBGE de 2018, que aponta que 57% dos divórcios realizados no Brasil na última década foram motivados por problemas financeiros.

Principais barreiras

A falta de conhecimento e controle sobre as vidas financeiras individuais são motivos que fazem com que os casais evitem falar de finanças.

“A falta de educação financeira muitas vezes faz com que a pessoa perca de vista a importância da organização. Então, se ela não entende a relevância disso para a sua vida pessoal, dificilmente vai entender para a vida familiar”, afirma a educadora financeira.

A especialista relata outro aspecto que costuma influenciar é a percepção de que falar sobre dinheiro é uma forma de invasão de privacidade.

“Quando somos crianças, é muito comum ouvir dos nossos pais coisas do tipo ‘é falta de educação perguntar o salário dos outros’ ou ‘não devemos dizer o quanto se ganha dentro de casa’. Criou-se um mistério tão grande a respeito do dinheiro que ficamos inseguros e desconfiados de partilhar isso até com as pessoas mais próximas, como nossos cônjuges”, explica.

Cédulas de dinheiro. (Foto: Jonas Carvalho/ Portal ClubeNews)

Há ainda um fator bastante comum: a vergonha. Geralmente motivada pela consciência de alguns sintomas de descontrole financeiro, como gastar mais do que ganha ou o hábito de comprar por impulso.

“Neste caso, a pessoa sabe que é um comportamento nocivo, mas não tem as ferramentas necessárias para lidar com ele. Mais do que aprender como poupar e onde aplicar, a educação financeira também é de grande ajuda nesses casos. A ideia é promover um acolhimento pedagógico, entendendo de onde vem esse comportamento e como é possível melhorar”, aconselha.

Como abordar o tema de finanças em uma nova relação?

Segundo Mila, o ideal é que essa conversa aconteça quanto antes. “É preciso saber quais são os hábitos financeiros do parceiro, se são compatíveis com os seus e se fazem sentido para vida que desejam construir juntos”, aconselha.

Mas calma, não é preciso questionar o salário do pretendente logo no primeiro mês de namoro! O assunto pode e deve ser abordado com leveza. Um jeito é perguntar como costuma se organizar para uma viagem e para comprar bens mais caros, se prefere poupar mensalmente ou parcelar no cartão de crédito.

“Outra alternativa é dizer o que você pensa sobre a importância de manter um guarda-chuva financeiro para eventualidades e dar espaço para que o outro dê sua opinião”, sugere Gaudencio, ressaltando que construir uma reserva de capital pode poupar o casal de conflitos frente aos possíveis imprevistos.

Além do mais, a economista sugere que cada um responda a duas questões cruciais: “Estou disposto a abrir as informações da minha vida financeira ao meu parceiro?, e também ‘Estou disposto a me relacionar com alguém que se comporta como eu?”.

E em relações antigas, como puxar esta conversa?

Caso a relação seja de longa data e a vida financeira do casal não esteja clara para todos os envolvidos, a especialista resgata um dos principais pontos para a saúde de qualquer relacionamento: a honestidade.

“Procure o seu parceiro ou parceira e fale como se sente em relação a essa falta de transparência. Deixe claro que o objetivo não é fiscalizar, nem ferir a individualidade, mas organizar as finanças da casa para que juntos consigam realizar sonhos, enquanto indivíduos e casal”, diz Mila.

DICAS PARA PLANEJAMENTO FINANCEIRO

A consultora destaca algumas etapas importantes para instituir a prática do planejamento financeiro a dois:

– A primeira delas é saber a renda total do casal, uma vez que a partir do montante mensal é possível estipular o limite de gastos. Desta forma, os dois conseguem acordar o teto máximo das despesas mensais para se manterem dentro do planejamento.

– Sabendo das entradas mensais, o segundo passo diz respeito à divisão das despesas. Neste momento, Gaudencio defende que não existe certo ou errado, e sim o que funciona melhor para o casal.

“Existem modelos nos quais as despesas são divididas meio a meio ou uma divisão proporcional a depender das respectivas rendas”, explica. Independentemente da configuração escolhida, Mila ressalta que o importante é ambos estarem confortáveis com a divisão: “Ninguém deve se sentir prejudicado neste acordo”.

A especialista desaconselha fortemente uma vigilância invasiva. “A ideia aqui não é prestar contas de cada mínimo gasto. Pelo contrário, é essencial que cada um mantenha a sua individualidade em relação ao dinheiro”, pontua.

“É possível ter visibilidade do fluxo de caixa do casal sem ser invasivo individualmente”, justifica Mila, sugerindo que uma possível solução é estabelecer uma quantia mensal para que cada parceiro possa usar livremente, sem prejudicar o planejamento financeiro e a relação.

Por fim, Mila diz que é importante que os parceiros tenham metas em conjunto. “Trabalhar em prol de um objetivo comum contribui no fortalecimento da relação. O objetivo pode ser a compra de um imóvel, uma viagem em família, a troca de carro ou até a construção de um guarda-chuva financeiro. Isso ajuda a construir uma postura colaborativa e a desenvolver mais empatia entre o casal”, conclui.

 

 

📲 Siga o Portal ClubeNews no Instagram e no Facebook.
Envie sua sugestão de pauta para nosso WhatsApp e Entre na nossa comunidade.
Confira as últimas notícias: clique aqui! 



∴ Compartilhar