Mayrla Torres e Jonas Carvalho
mayrlatorres@tvclube.com.br
A Catedral Metropolitana Nossa Senhora das Dores, localizada na Praça Saraiva, no Centro-Sul de Teresina, tem pessoas enterradas nas paredes. A prática de enterrar bispos, padres e outros membros importantes da Igreja em templos religiosos tem raízes históricas profundas.
Desde a Idade Média, era comum enterrar figuras religiosas de destaque no interior das igrejas, como forma de honrá-los e para que pudessem estar próximos do altar, simbolizando a conexão com o divino.
Essa tradição também refletia a importância do posição religiosa e social, e a crença de que ficar enterrado em solo sagrado poderia garantir uma posição mais favorável na vida após a morte.
Proibição e mudanças
O professor de História, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Ricardo Arraes, explica que, com a chegada da era moderna e as mudanças no entendimento de saúde pública, especialmente em relação à higiene, muitos países começaram a regulamentar ou proibir enterros dentro de igrejas.
No Brasil, essa prática foi formalmente proibida durante a Primeira República, em parte devido a preocupações com a salubridade e também como um reflexo do processo de laicização do Estado. Entretanto, em alguns locais, essa prática continuou de forma excepcional ou cerimonial.
Capela da Ressurreição
À esquerda do altar da Catedral de Nossa Senhora das Dores está a Capela da Ressurreição. Três arcebispos estão enterrados no espaço: Dom Severino Vieira de Melo (1955), Dom Miguel Fenelon Câmara Filho (2018) e Dom Celso José Pinto da Silva (2018).
Dom Severino, que dá nome à avenida na zona Leste de Teresina, é o único que está sepultado na parede da capela. O ex-arcebispo chegou a ser enterrado no chão, mas teve o corpo exumado e os seus restos mortais foram transferidos para a parede.
O costume se repete por uma tradição da igreja. Assim, os corpos de Dom Miguel e Dom Celso, que estão no chão, também deverão ser sepultados na parede nos próximos anos. No entanto, não há prazo determinado, após a morte, para o desenterramento dos religiosos.
“Era costume, especialmente até o período imperial no Brasil, fazer enterramentos no pátio ou na lateral das igrejas. Era uma prática comum, mas a República proibiu isso. Porém, a lei aqui no Brasil foi burlada e continuou-se a fazer esses enterros dentro de igrejas do Piauí. Em Teresina, temos a igreja de Nossa Senhora das Dores. Lá foram enterrados nas paredes os bispos e arcebispos da cidade”, conta o professor.
Em outras cidades, como em Monsenhor Gil (PI), os fies assistem às missas em cima de catacumbas. Os bancos da igreja estão em cima das lápides de várias famílias importantes do município. Na igreja de São Raimundo Nonato (PI), também existem pessoas enterradas há muitos anos, segundo o historiador.
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