Pedro Pires, Andressa Lopes e Ângela Bispo (TV Clube)
pedropires@tvclube.com.br
“O sentimento é de tristeza e revolta”, afirmou a dona de casa Denise Bezerra, após esperar por um ano a realização de um exame para sua filha no Hospital Getúlio Vargas e não ser atendida no dia marcado. O fato ocorrido na manhã desta quarta-feira (21), foi flagrado pela Tv Clube.
Denise aguardava o atendimento na porta do HGV, quando foi informada que entraria novamente na fila de espera. O motivo seria a mudança no agendamento de consultas, exames e cirurgias eletivas nos hospitais estaduais, que desde o dia 1º de agosto, e passaram a ser agendadas exclusivamente pelo Sistema Estadual de Regulação (Regula Piauí). Com exceção de Teresina, as demais secretarias municipais já migraram para o novo sistema, segundo a Secretaria de Saúde do Piauí.
“Na verdade, ele já está há um ano na lista de espera. Hoje era para ser o dia, mas não deu certo. Agora, precisamos cadastrá-la novamente no sistema. Antes, podíamos acompanhar pelo sistema do SUS, mas agora temos que vir aqui toda semana para verificar se foi aprovado. O sentimento é de tristeza e revolta, porque esse é o nosso sistema, né? Fazer o quê? É muito triste, porque a criança precisa do exame, e ele ainda não foi feito” disse Denise.
A situação afeta pessoas de diferentes faixas etárias, como a idosa Maria de Nazaré, moradora de Altos, cidade a 40 km de Teresina, que aguarda há três meses por um exame cardiológico.
A aposentada relata que saiu de casa nesta quarta-feira (21), às 3h, em jejum, para se consultar com o médico, mas não conseguiu atendimento.
“Saí de casa em jejum, não comi nada hoje. Não há previsão de uma nova consulta. Passei o mês de maio inteiro vindo aqui, capaz de dessa vez ainda não conseguir. Pior é que preciso ficar pagando transporte”.
De acordo com o Coordenador de Regulação, Controle e Auditoria da Fundação Municipal de Saúde (FMS), Esdras Avelino, a mudança foi feita de forma apressada e sem respeitar trâmites.
“Essa é uma invasão de competência do município de Teresina, da nossa competência como gestor pleno. Isso não poderia jamais ter ocorrido da forma como foi feita. Tem todo um trâmite que precisa ser respeitado, principalmente a assinatura de um termo de acordo com a operação, onde a Fundação como gestor pleno delegaria uma competência para o Estado poder realizar essa regulação. Então, até agora não há nada que justifique essa pressa e a forma como foi feita. Não havia razão para isso. Um sistema estava funcionando, as consultas e exames estavam sendo marcados.”
Ainda segundo o coordenador, o estado desconsiderou as consultas agendadas pela FMS.
“Se a gente tivesse assinado o termo de cooperação com o estado, teríamos colocado as condições, inclusive respeitar a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) na transferência de dados, porque os dados estão com a FMS. 111 mil consultas e exames estavam no nosso sistema, o estado iria regular a partir daí, mas ignoraram os agendamentos.”
Procurado pela TV Clube, o Secretário de Estado da Saúde, Antônio Luiz Soares, disse que o prejuízo é momentâneo, enquanto é feita a validação.
” Nós usamos uma lei de 2021 que fala de um sistema único de regulação no Piauí, usamos essa lei apenas para regular os serviços dos hospitais que são do estado. A prefeitura continua podendo mandar as pessoas que procuram ao município para os hospitais municipais sem nenhum problema. Porque como a prefeitura não está usando nosso sistema estadual, previsto em lei, não enxergamos as pessoas que estão com agendamento.”
O secretário acrescenta que o diálogo com a FMS continua e espera receber o documento com os pacientes que estão na lista de espera em Teresina.
“As pessoas que estão com esse agendamento da prefeitura, podem procurar o hospital para o qual estão agendados, lá tem uma equipe para receber e validar a data do agendamento ou revalidar para uma data mais próxima. Se a FMS enviasse um arquivo, com as pessoas que estão na fila, poderíamos fazer um controle das datas que estão no sistema. A partir de setembro os pacientes poderão marcar consultas, em Teresina, por meio do aplicativo Piauí Saúde Digital e vamos criar uma central para atendimentos com telesaúde”
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