
O uso excessivo do celular entre os jovens levanta preocupações sobre dependência tecnológica e saúde mental. Enquanto muitos adolescentes se sentem incapazes de passar um dia sem seus dispositivos, as redes sociais impõem uma pressão intensa, afetando especialmente as meninas e aumentando a pressão social. Essa combinação de vício digital e influência das mídias sociais está moldando uma geração com desafios únicos e profundos.
Segundo a psicóloga Samila Marques Leão, a dependência tecnológica tem se tornado um problema de saúde pública, entrando na também na Classificação Internacional de Doenças (CID) gerida e mantida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Nos chama a atenção pensar no uso abusivo e frequência, a quantidade de tempo que o jovem passa nas telas, o comprometimento das atividades, a questão da qualidade do seu sono e da alimentação. Isso acontece porquê o jovem de fato não consegue administrar o seu tempo em relação a fazer o uso da internet e fazer as suas outras atividades”, explica a psicóloga.
Agressividade atrelada ao uso
A psicóloga relata que o uso excessivo do celular entre os jovens pode levar a comportamentos agressivos devido à dependência e à frustração digital, especialmente quando há interrupções no acesso ou interações negativas online, que podem chegar até agressões verbais e físicas.
“Nos já observamos casos de que adolescentes cometeram algum tipo de comportamentos agressivos devido ao uso excessivo. Alguns exemplos são conflitos interpessoais de agressão física com os pais, por conta do controle que foram excessivos sobre o uso dos aparelhos tecnológicos”.
A estudante Eliane Carvalho conta que passava cerca de cinco horas diárias nas redes sociais. O uso excessivo a deixou mais ansiosa e prejudicou na execução das atividades da sua vida cotidiana. Além disso, a jovem relata que demorou para perceber o que estava passando.
“Percebi quando minha mãe tomou meu celular e entrei em desespero. Vi que tinha alguma coisa errada e que estava fora de controle. Eu já era maior de idade, mas mesmo assim eu não estava percebendo que eu estava mal por conta disso. A pandemia foi crucial para me colocar mais dentro desse vício. Até chegar ao ponto de discutir por causa do celular”, conta.
Pressão das redes
As redes sociais, embora importantes para informar, também exercem pressão significativa sobre as mulheres, promovendo padrões de beleza e comportamentos que podem ser prejudiciais à autoimagem e ao bem-estar feminino. De acordo com a Samila Leão, as meninas são as que mais sofrem.
“As redes sociais produzem uma série de imagens. Essa produção está voltada para atender as expectativas sociais gerando problemas com a autoimagem do próprio corpo, a ideia de magreza e da perfeita. A jovem entende de que precisa atender o padrão daquela rede social, que a leva a muitos adoecimento como anorexia, bulimia, depressão e ansiedade”, explica a psicóloga.
Como usar de forma saudável
A OMS estabelece diretrizes claras sobre o tempo de tela recomendado para crianças, enfatizando a importância de um uso equilibrado para evitar impactos negativos no desenvolvimento. Segundo a organização, crianças menores de 2 anos não devem ser expostas a telas, enquanto crianças de 2 a 5 anos devem limitar o tempo de tela a uma hora por dia, sempre com conteúdo de qualidade e supervisão dos pais.
A orientação parental é crucial para garantir que o uso de dispositivos não interfira em atividades essenciais, como o sono, o estudo, as brincadeiras ao ar livre e as interações sociais, promovendo assim um desenvolvimento saudável e equilibrado. Para os jovens a redução do uso do celular também é fundamental para um melhor desenvolvimento e bem-estar no dia a dia.
“Desativei minha rede social para tentar diminuir o uso excessivo. Está melhor nos dois aspectos, consigo fazer minhas atividades cotidianas e me sinto melhor mentalmente. Buscar um equilíbrio é muito mais saudável. Também estou praticando exercícios físicos, o que ajuda bastante. Estou reduzindo aos poucos e quero reduzir mais”, diz Eliane.