Dados do Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil, divulgados em 2023, mostram que no ano passado foram registrados 18 casos de suicídio na comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil. Do total de casos registrados, 11 eram pessoas trans.
Conforme a organização, muitas cidades não têm meios de comunicação locais que registrem os casos, por exemplo, no interior do Brasil. O fato contribui para uma subnotificação nos registros. A partir desse cenário, a campanha Setembro Amarelo propõe discussões sobre a saúde mental da população.
Ao Portal ClubeNews, o escritor Paulo Narley relatou que durante muito tempo sofreu com a homofobia velada. Segundo ele, era comum ouvir discursos como “a gente só quer o seu bem”, “você é muito novo para entender o que quer da vida”.
“Hoje eu olho para trás e acredito que minha saúde mental foi muito afetada por esse controle que os discursos heteronormativos exercem em nossos corpos”, lembra Narley.
Narley comenta que era uma criança um tanto comunicativa, expansiva, mas quando falou abertamente sobre sua orientação sexual, e por valga de apoio da família, no pirmeiro momento, passou a ser mais tímido
“Alguns discursos começaram a podar meu modo de me colocar no mundo. Ouvir isso vindo da família acaba machucando ainda mais do que vindo de outras pessoas, foi algo que deixou resquícios até hoje. Acho que sou mais tímido, retraído, por conta disso”, declarou.
Paulo escreve livros voltados ao público LGBTQIAPN+. O escritor explica como a ajuda profissional foi fundamental no processo de lidar com a própria sexualidade:
“Cheguei a levar essas questões para a terapia. Isso me ajudou a entender que não devo podar minha maneira de ser, com medo do que os outros possam pensar ou julgar. Porém, são questões que me atravessam até hoje. Apesar disso, consigo não sentir mais a necessidade de esconder quem eu sou, o modo como amo e todas essas questões”, pontuou.
A importância da terapia
Com o psicólogo Mateus Rodrigues, a homofobia começou ainda no período escolar, uma fase que deixou marcas e durante muito tempo fez ele ter receio de frequentar o ambiente da escola.
“No período da escola eu já sofria violências, sobretudo agressões físicas por parte das outras crianças. Na adolescência comecei a sentir a violência psicológica; isso me fez perceber que realmente tinha algo diferente em mim. Sentia que eu era diferente da maioria das pessoas, e isso acabou me gerando muito medo. Percebi que o espaço escolar me trazia sentimentos de angústia e ansiedade; eu só vim superar isso na faculdade quando comecei o processo terapêutico”, relatou.
Hoje o profissional busca ajudar pessoas LGBTs a superar traumas e buscar uma vida mais saudável por meio da terapia.
“Atualmente, cerca de 80% dos meus atendimentos são de pessoas LGBTs, são pessoas que passaram por situações parecidas com as minhas. Acontece uma conexão com esses pacientes. Quando as pessoas sabem que eu também sou LGBT, elas acabam se sentindo mais à vontade para conversar”, destacou.
Segundo Mateus Rodrigues, os pacientes costumam chegar ao consultório com dilemas relacionados à autoestima e pensamentos enraizados, por exemplo, mudanças de comportamento e a busca por ser aceito no meio em que está inserido. O psicólogo ressalta a importância da terapia.
“Quando passamos por alguma dificuldade, costumamos pensar que aquilo é eterno, algo que não vai passar. Mas é importante pensar que aquilo é um momento, um piscar de olhos. Precisamos construir a resiliência, conseguir passar por esse momento de dificuldade com inteligência emocional. É necessário construir uma esperança que aquele momento vai passar, por isso a terapia é tão importante, passar por esses momentos de dificuldade com mais leveza”, pontuou.
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