Apadrinhamento afetivo: um encontro que transforma vidas e constrói laços de esperança

Ao se tornar madrinha afetiva, Maísa Barbosa descobriu no vínculo com sua afilhada uma nova forma de amor e propósito em sua vida em Teresina

Maísa Barbosa e sua afilhada (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Malu Barreto
malubarreto@tvclube.com.br

O primeiro encontro aconteceu no dia do treinamento de padrinhos, quando duas meninas ainda estavam sem madrinha. Desde o início, algo especial aconteceu. “Me apaixonei pela minha afilhada logo de cara. Ela era tão esperta, alegre, comunicativa… uma graça de criança”, conta Maísa Barbosa, com os olhos cheios de emoção.

Ela e sua filha, que também participava do programa de apadrinhamento afetivo, logo criaram grandes expectativas. A resposta veio pouco depois. “Eu torcia muito para ser ela, e deu certo. Foi um momento mágico, que vou levar para a vida inteira.”

Assim, Maísa, paulista que mora em Teresina há pouco menos de um ano, descreveu a sensação de se tornar madrinha afetiva de uma criança acolhida por um abrigo na capital. Sua trajetória como madrinha afetiva começou no início do ano, quando chegou à cidade. Ao se deparar com a realidade de um lugar novo, sem laços afetivos, ela começou a questionar seu propósito.

Sempre envolvida em trabalhos voluntários e comunitários, buscava uma forma de se conectar ao novo ambiente. “Comecei a pedir a Deus por uma direção”, relembra. Foi então que, durante uma pesquisa nas redes sociais, encontrou o perfil do abrigo Casa Reencontro. Curiosa, passou a conhecer o trabalho da instituição e se encantou com o projeto de apadrinhamento.

A Casa de Acolhimento Reencontro é uma instituição que acolhe crianças de 0 a 12 anos, vítimas de violação de direitos. Oferecendo acolhimento temporário, o espaço atende crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, afastados do convívio familiar por medida protetiva judicial. No local, há 11 padrinhos afetivos cadastrados.

Casa de Acolhimento Reencontro, em Teresina (Foto: Divulgação)

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) reforça a importância de garantir o direito à convivência familiar e comunitária, estabelecendo que crianças e adolescentes devem ser acolhidos em ambientes que favoreçam seu desenvolvimento integral.

Nesse contexto, o apadrinhamento afetivo configura-se como uma prática eficaz para garantir esse direito, criando vínculos que promovem um futuro mais saudável e esperançoso para aqueles que mais necessitam.

Segundo a assistente social do abrigo, Alessandra Sobral Bezerra, quando as crianças saem de suas famílias de origem para morar no abrigo, o projeto de apadrinhamento cria uma referência social e familiar por meio dos padrinhos e madrinhas, que têm a oportunidade de participar de passeios e até passar os finais de semana com essas famílias.

Atualmente, Teresina conta com 10 serviços de acolhimento, onde vivem provisoriamente crianças e adolescentes retirados de suas famílias devido a maus-tratos, negligência, abandono, abusos, entre outros. Conforme dados divulgados pelo Ministério Público do Piauí – MPPI, a capital contabiliza 22 crianças apadrinhadas, em quatro abrigos da cidade.

Para incentivar o apadrinhamento afetivo, o Ministério Público do Piauí realizou a campanha “Apadrinhar é Transformar Vidas”, com o objetivo de promover o direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária.

A promotora Joselisse Carvalho, coordenadora do Centro de Apoio da Infância e Juventude do MPPI, ressaltou que ser padrinho é um ato de solidariedade com a situação em que a criança se encontra no acolhimento. Ela também explica que há uma confusão entre adoção e apadrinhamento, que são processos diferentes, e enfatiza que padrinhos afetivos não podem ser candidatos à adoção da criança apadrinhada.

“Você não se habilita para ser padrinho com o intuito de adotar. A adoção é outro procedimento. Ser padrinho é uma forma de ajudar, amenizando a situação que a criança está vivendo temporariamente. O padrinho oferece à criança a oportunidade de passar tempo em família, ir ao cinema, tomar um sorvete, viajar. Muitas famílias se afeiçoam às crianças e proporcionam oportunidades, como cursos e escolinhas de futebol.”

Para a promotora, o projeto também contribui para que as crianças modifiquem seu conceito de família e facilita o processo de adoção.

“Muitas crianças vêm de lares onde a família é agressora ou negligente, e isso acaba sendo seu referencial de família. A partir do momento em que elas têm contato com outra realidade, de referências melhores, de cuidado e amparo, começam a entender que aquele lugar de onde vieram não é adequado. Isso as abre para a possibilidade de adoção”.

Para quem participa do projeto de apadrinhamento afetivo, o sentimento é único. “Uma das maiores lições que aprendo a cada encontro com minha afilhada é que, muitas vezes, pensamos que somos nós que estamos oferecendo algo a ela. No entanto, o que recebemos em troca é muito maior. Ver uma criança que, apesar de todas as adversidades que enfrentou em tão pouco tempo de vida, continua a viver com felicidade e esperança é a maior lição que a vida pode nos dar”, conta Maísa.

O que faz uma madrinha ou um padrinho afetivo?

Uma madrinha ou um padrinho afetivo torna-se uma referência na vida de uma criança, ou adolescente. Os candidatos a esse papel participam de um curso no qual são incentivados a refletir sobre seus desejos, motivações e expectativas, além de compreender as particularidades das crianças e adolescentes em situação de acolhimento

Para ser padrinho ou madrinha, é necessário ter disponibilidade para criar vínculos, honrar compromissos e assumir responsabilidades. Essencialmente, é incluir o afilhado ou afilhada em sua rede pessoal, proporcionando vivências afetivas que assegurem seu desenvolvimento, a construção de seu projeto de vida e a promoção da sua autonomia.

 

Para ser padrinho ou madrinha afetivo, é necessário:

  • Ter no mínimo 18 anos
  • Ter uma diferença de idade de 16 anos em relação ao afilhado
  • Ter disponibilidade para conviver com a criança ou adolescente por um longo período
  • Não estar na fila para adoção

 

Confira a lista de Serviços de Acolhimento Institucional e Familiar existentes em Teresina

Lar da Criança Maria João de Deus  – (86) 3213-1770

Casa De Punaré –  (86) 99466-0866

Abrigo Feminino –  (86) 9 9482-6447

Abrigo Masculino – Av. Centenário, 2235, Aeroporto

Casa Reencontro – (86) 99813-8139

Casa de Acolhimento Savina Petrilli – (86) 2106- 2676

Acolhimento Em Família Acolhedora Partilhando Cuidado – (86) 3234- 1652

Centro De Reintegração O Familiar E Incentivo À Adoção – Cria –  (86) 9 8851-0479

Casa Dom Barreto –  (86) 3225-1860

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