O quarto episódio da série Minha Fé, exibido nesta quinta-feira (17) pela TV Clube, retratou duas religiões de matriz africana distintas: a Umbanda e o Candomblé. A reportagem abordou a relação entre o céu e os guias espirituais, mostrando como a fé se manifesta por meio dos orixás e entidades.
O Candomblé surgiu como forma de resistência religiosa durante o período da escravidão, quando os africanos eram proibidos de expressar sua fé nas senzalas. Os rituais acontecem nos terreiros, espaços sagrados onde tambores marcam o ritmo das cerimônias e ocorrem incorporações de entidades espirituais. A religião valoriza a ancestralidade e a natureza, reverenciando os orixás, divindades que representam forças naturais e aspectos da vida cotidiana.
A Umbanda, religião de origem brasileira, também reverencia os orixás e trabalha com suas falanges espirituais. “O orixá é a própria natureza. Nós, que somos umbandistas, trabalhamos com os falangeiros dos orixás. Ou seja, quando a gente está trabalhando na linha das águas com nossa mãe Iemanjá, estamos pedindo as forças daqueles marinheiros que trabalhavam incansavelmente ali para trazer o peixe para sua família”, explicou Mãe Eufrazina de Iansã.
Entre os orixás, destacam-se: Xangô, que representa a justiça; Iansã, a tempestade que transforma caminhos; Oxum, rainha das cachoeiras e símbolo das riquezas; Ogum, orixá da guerra, da tecnologia e dos caminhos abertos; Iemanjá, a mãe de todos os orixás, ligada à fertilidade e ao mar; Oxóssi, caçador das matas, associado à prosperidade e proteção no trabalho.
Batismo e ancestralidade
Cada mãe ou pai de santo tem um orixá protetor e cada médium é batizado de acordo com a entidade que se manifesta durante os rituais. A partir desse momento, o iniciado passa a ser identificado também pelo nome do orixá. As roupas, cores e símbolos usados nos rituais carregam significados profundos e remetem à ancestralidade e às energias de cada divindade cultuada.
Exemplo de fé
A médium e farmacêutica Liana Maria relatou um momento marcante em sua vida espiritual. Após um parto complicado, em que sua filha precisou ser retirada com o uso de fórceps, o procedimento resultou em um ferimento na cabeça do bebê. Diante do sofrimento, Liana buscou auxílio espiritual.
“Em uma gira determinada, com Simão da Bahia, um mentor da casa, ele chamou eu e o pai da minha filha para que a gente levasse a neném até ele. Ele pediu para ir atrás de uma erva bem conhecida e entregamos para ela todo dia, como ele pediu. Hoje ela é uma menina saudável e inteligente”, contou.
Ela completou emocionada: “Eu tive muito medo de perdê-la, mas a fé, no momento certo, agiu e deu tudo certo”.
Candomblé
A reportagem também abordou o Candomblé, religião de origem africana que cultua os orixás e ancestrais, segundo ensinamentos transmitidos por reis e rainhas da África. O babalorixá Ítalo de Logun Edé explicou que a religião é profundamente simbólica e ritualística, e que cada elemento possui um sentido espiritual.
“Cada vez que a gente usa uma cor, estamos reverenciando aquela linha, aquela energia. Cada linha, cada cor, cada insígnia, tudo que usamos tem um significado e um fundamento. Nada é colocado por adereço ou porque se acha bonito”, explicou.
Diferenças entre Umbanda e Candomblé
Embora ambas sejam religiões afro-brasileiras que cultuam os orixás e valorizem a ancestralidade, a Umbanda mistura elementos do espiritismo kardecista, do catolicismo e das religiões indígenas brasileiras, com foco na caridade e nas mensagens dos guias espirituais como caboclos, pretos-velhos e crianças. Já o Candomblé preserva os rituais africanos, com hierarquias religiosas, culto exclusivo aos orixás e uso da língua iorubá em seus cânticos e práticas.
Veja também:
Vídeo: série mostra rotina de ir à novena e de agradecer pelos milagres