25 de junho de 2025

Memórias da Ditadura: piauienses que lutaram contra a censura

Lays Viana

Repórter
Publicado em 22/04/2025 23:00

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Em alusão aos 61 anos do início da Ditadura Militar no Brasil, a TV Clube exibiu nesta terça-feira (22) o primeiro episódio da série Memórias da Ditadura no Piauí, com relatos de pessoas que enfrentaram a censura em defesa da liberdade.

O golpe de Estado de 31 de março de 1964 retirou do poder o então presidente João Goulart (PTB) e instaurou um regime que durou 21 anos. Documentos históricos apontam que o período foi marcado por tortura, repressão e violência também no Piauí.

Militares nas ruas durante a Ditadura (Foto: Arquivo Nacional)

Entre os alvos dos militares estavam estudantes, sindicatos e artistas. Para controlar a informação, os agentes do regime se infiltravam em universidades, redações jornalísticas e outros espaços estratégicos. Segundo o sociólogo Antônio José Medeiros, os estudantes sabiam que estavam sendo vigiados.

“As faculdades de Filosofia promoviam muitos debates, reuniões de protesto e manifestações ali mesmo, na Praça Saraiva. Eles infiltraram algumas pessoas, a gente sabia. Até alguns militares, cabos do Exército, fizeram o vestibular para conviver com a gente”, relembra.

Palavras vetadas

Na Universidade Federal do Piauí (UFPI), o grupo de resistência se reunia em encontros secretos. O Serviço Nacional de Informações (SNI) monitorava todos, desde o vestibular, com o objetivo de silenciar as vozes dissidentes.

Reuniões de universitários durante a Ditadura Militar (Foto: arquivo pessoal)

Nos primeiros anos do regime, diversas medidas foram adotadas pelo Governo para silenciar os opositores. Livros foram retirados das bibliotecas, peças de teatro foram proibidas e palestras acadêmicas passaram a exigir aprovação prévia.

Segundo o economista Kleber Montezuma, palavras consideradas perigosas ao regime eram vetadas. “Os artistas, antes de lançar um disco; um poeta, antes de publicar um livro de poesias; um romancista, antes de lançar seu romance; um teatrólogo, antes de estrear uma peça… todos tinham que submeter o material a um departamento da Polícia Federal, onde agentes avaliavam se aquele conteúdo era considerado ‘subversivo’, ou seja, se atentava, como diziam, contra a ordem”, relata.

Resistência

No fim dos anos 1960, mesmo sob ameaças, grupos de jovens começaram a reagir e enfrentar diretamente a ditadura. Inspirados por movimentos de outras regiões do país, estudantes piauienses também se mobilizaram contra o regime, o que não foi tolerado pelos que estavam no poder.

Manifestações na Ditadura (Foto: arquivo pessoal)

O resultado para quem desobedecia era a prisão. Foi o caso do historiador Manoel Domingos Neto, que, após ser libertado, foi impedido de estudar no Brasil.

“Fui expulso da universidade. Saí da cadeia no final de 1973 e a primeira oportunidade que tive para retomar os estudos foi na Universidade de Paris. Fui para lá porque não podia estudar em nenhuma universidade brasileira. Não tenho, até hoje, nenhum diploma brasileiro”, relata.

 

 

 

 

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