16 de setembro de 2025

‘Não sou guerreira, minha filha é’: mãe atípica luta contra a romantização e invisibilidade

Repórter
Publicado em 11/05/2025 15:00

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Para o Dia das Mães, o Portal ClubeNews dá voz a histórias de maternidades atípicas. Carla Fernanda é mãe de Cinthia de Araújo, uma menina de 11 anos diagnosticada com paralisia cerebral, hidrocefalia e outras quatro condições de saúde.

Desde o primeiro mês de vida da filha, Carla vive a rotina intensa da maternidade atípica, marcada por reabilitação, internações e uma luta diária para garantir o mínimo de dignidade e direitos. “É cansativa, desgastante. Às vezes queremos chorar. A gente não chora na frente dos nossos filhos, mas a gente chora”, desabafou.

A gestação parecia tranquila até a 35ª semana, quando Cinthia sofreu uma sinapse cerebral provocada por enrolamento no cordão umbilical. Aos 28 dias de vida, a bebê voltou à maternidade com meningite neonatal e permaneceu quatro meses internada.

“Quando a gente saiu (do hospital), ela já tinha feito vários procedimentos cirúrgicos na cabeça. Hoje, Cinthia tem hidrocefalia, tem duas válvulas por conta da meningite. Ela não tem só paralisia cerebral. São seis diagnósticos”, explicou.

Carla Fernanda e Cinthia de Araújo (Foto: Arquivo Pessoal)

A mãe comentou sobre a romantização da maternidade atípica, que costuma reduzir a complexidade da experiência ao estereótipo da “guerreira”.

“Nós não somos guerreiras, somos mães humanas. Eu não aceito ser chamada de guerreira. Quem luta para sobreviver é minha filha. Ela passa por todo o sofrimento. A reabilitação e procedimentos cirúrgicos são cansativos. Ela já fez incontáveis cirurgias. Eu não senti nada, eu não senti dor, eu não fui cortada, eu não fui para uma UTI nem nunca fui intubada. Eu não sou guerreira. A minha filha sim”, relatou.

Carla Fernanda e Cinthia de Araújo (Foto: Arquivo Pessoal)

A rotina de mãe e filha atualmente envolve uma equipe multidisciplinar e terapias constantes. “São quase onze anos de equipe multidisciplinar. A gente nunca parou. A vida da Cínthia consiste em reabilitação, exames e médico. Essa é a nossa rotina”, disse.

Carla também relata o quanto é necessário lutar por direitos básicos que, embora previstos em lei, muitas vezes são negados na prática. Para Carla, tanto as mães quanto os filhos ainda são invisíveis para a sociedade.

“A maioria das realidades de mães atípicas é uma vida cansativa, frustrante. A gente se frustra bastante, porque nenhuma mãe quer ter um filho atípico. Nenhuma mulher quer ser mãe de uma criança típica. A vida atípica não é só um dia, não é só um mês, é contínuo. Todos os dias é a mesma rotina. E nós como mães não podemos falar isso, a sociedade não aceita que a gente canse. Somos silenciadas”, concluiu.


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