
O YCT-529 é um anticoncepcional masculino oral em fase de testes clínicos, desenvolvido pela empresa YourChoice Therapeutics. Ele atua inibindo o receptor de ácido retinoico alfa (RAR-α), uma proteína essencial para a produção de espermatozoides, sem afetar significativamente outras funções biológicas do corpo.
Em camundongos, os machos receberam a substância por quatro semanas mostraram que ela demonstrou 99% de eficácia na prevenção de gestações, após duas semanas de uso.
Qual o perfil de segurança e efeitos colaterais dele que se sabe até o momento? É considerado promissor?
Em estudos pré-clínicos com animais, o YCT-529 demonstrou alta eficácia contraceptiva (reduzindo a contagem espermática em 99%) com mínimos efeitos colaterais. Até o momento, não foram observados efeitos adversos hormonais significativos, como perda de libido ou alterações importantes no metabolismo. Isso faz com que ele seja considerado extremamente promissor em relação a tentativas anteriores.
No que se sabe até agora, a reversão da fertilidade seria imediata, como acontece na maioria dos anticoncepcionais femininos?
Os dados em modelos animais, publicados na Communications Medicine indicam que a fertilidade foi completamente restaurada em 15 semanas após a interrupção do uso. Espera-se que algo semelhante aconteça em humanos, mas isso ainda precisa ser confirmado nos ensaios clínicos em andamento.
Ref.: Mannowetz N, Chung SSW, Maitra S, Noman MAA, Wong HL, Cheryala N, Bakshi A, Wolgemuth DJ, Georg GI. Targeting the retinoid signaling pathway with YCT-529 for effective and reversible oral contraception in mice and primates. Commun Med (Lond). 2025 Mar 13;5(1):68.
Ele tem alguma ação hormonal? Qual é a diferença para os outros anticoncepcionais masculinos que já tentaram desenvolver?
O YCT-529 não atua diretamente nos hormônios sexuais masculinos, como a testosterona, o que é uma grande inovação. A maioria dos outros anticoncepcionais masculinos tentados no passado envolvia supressão hormonal (testosterona ou combinações hormonais), o que trazia efeitos colaterais como alterações de humor, disfunção erétil e perda de massa muscular.
O que falta para esse medicamento poder ser efetivamente usado? O que ele precisa performar nas pesquisas em andamento?
Ele precisa demonstrar segurança e eficácia em humanos, em grande escala. Ou seja, os testes clínicos devem comprovar que o medicamento impede a concepção de forma confiável, reversível e sem efeitos colaterais graves. Além disso, será necessário validar a dosagem ideal e garantir que a reversão da fertilidade seja previsível.
Há um estudo conduzido na Nova Zelândia que está aberto para o recrutamento de voluntários que estão em espera para vasectomia ou que não desejam mais ter filhos, conforme registrado no site Clinical Trials (Open Label, Repeat Dose Study Evaluating YCT-529 in Healthy Males ClinicalTrials.gov ID NCT0654223)
Há outras pesquisas em andamento de outros anticoncepcionais masculinos? Se sim, quais seriam os mais promissores? Existe algum que já passou da fase pré-clínica?
Sim, há outros projetos avançados. Um exemplo é o gel contraceptivo hormonal NES/T (noretisterona + testosterona), que é aplicado sobre a pele diariamente e já está em fase 2 de estudos clínicos. Há também o contraceptivo não hormonal EPPIN, que bloqueia a função espermática, ainda em fase pré-clínica. Além disso, dispositivos como o Vasalgel — uma espécie de “tampão” reversível nos canais deferentes — estão sendo desenvolvidos como alternativas não-hormonais.
Por que é tão desafiador desenvolver um anticoncepcional masculino?
Há várias razões: a produção de espermatozoides é contínua e abundante (cifra de milhões), exigindo um bloqueio mais eficiente do que o necessário nos anticoncepcionais femininos. Além disso, há grande preocupação em não comprometer permanentemente a fertilidade e em evitar efeitos colaterais hormonais que possam impactar a saúde geral e a sexualidade.
Pensando na possível resistência masculina a usar anticoncepcionais. O que um anticoncepcional precisaria ter para não afastar esse público?
Para vencer a resistência, o anticoncepcional masculino precisa ser:
- Eficaz e confiável;
- Fácil de usar (preferência por via oral ou tópica);
- Sem impacto sobre a libido, desempenho sexual ou características físicas;
- Com reversão comprovada e rápida da fertilidade;
- Com mínimos ou nenhum efeito colateral perceptível.
- Além disso, campanhas educativas seriam fundamentais para mudar a percepção social e reforçar que a responsabilidade pela contracepção pode (e deve) ser compartilhada.
Giuliano Aita – Urologista