6 de junho de 2025

Morre, aos 92 anos, a arqueóloga Niède Guidon

Guidon dedicou mais de cinco décadas à pesquisa da região do Parque Nacional da Serra da Capivara

Mayrla Torres

Repórter
Publicado há 2 dias
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Catarina Costa

Gerente de Web

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Niède Guidon (Foto: TV Clube)

A arqueóloga Niède Guidon morreu durante a madrugada desta quarta-feira (4), aos 92 anos. O falecimento foi confirmado por Marian Rodrigues, chefe do Parque Nacional da Serra da Capivara.

As causas da morte não foram divulgadas.

Guidon foi uma das mais importantes pesquisadoras da história brasileira. Dedicou mais de cinco décadas à pesquisa da região do Parque Nacional da Serra da Capivara, onde liderou escavações que transformaram o entendimento sobre o povoamento das Américas.

Ela foi pioneira ao defender, com base em evidências arqueológicas, que a presença humana no continente americano teria começado há mais de 100 mil anos, muito antes do que indicavam as teorias tradicionais.

Suas descobertas provocaram debates intensos na comunidade científica internacional e colocaram o Brasil no centro das discussões sobre a pré-história das Américas.

O corpo de Niède Guidon será velado das 15h desta quarta-feira (4) à meia-noite de quinta-feira (5) no auditório do Museu do Homem Americano, em São Raimundo Nonato (PI). A cerimônia será aberta ao público.

Histórico

Niède Guidon (Foto: Divulgação/Fundham)

Niède Guidon nasceu em Jaú, no interior de São Paulo. Integrante de uma família de classe média alta de ascendência francesa, formou-se em História Natural pela USP e, aos 28 anos, foi estudar arqueologia na Universidade de Paris-Sorbonne, onde fez doutorado.

Ela chegou ao retornar para o Brasil mas, por causa de sua militância política, voltou à França após o golpe militar de 1964. Lá, criou uma sólida carreira como arqueóloga.

Em 1970, Niéde Guidon como professora na França veio em missão até o Piauí para conhecer as pinturas rupestres em São Raimundo Nonato. A jovem pesquisadora fez uma das maiores descobertas arqueológicas ao encontrar desenhos datados de até quase 100 mil anos, que comprovam a existência do homem americano.

“Eu cheguei em São Raimundo Nonato e perguntei algumas pessoas sobre as pinturas nas paredes, e elas me mostraram alguns sítios. Eu vi a importância dessas pinturas completamente de tudo que se conhecia. Fotografei e consegui na França uma missão para vir até aqui. Em 1973, eu voltei com uma equipe de alunos e aqui ficamos mais de um mês fazendo o levantamento dessas pinturas e vimos a quantidade impressionante de sítios e a importância da região”, comentou.

Em 1978, as pesquisas de Niéde despertavam o interesse de biólogos e paleontólogos de todo o mundo, que resultou na missão Franco-Brasileira, que tinha o objetivo de estudar a parte pré-histórica, meio ambiente e meio social.

Pintura rupestres na Serra da Capivara (Foto: Carlienne Carpaso/Portal ClubeNews)

Foi por iniciativa dela que, em 1979, o governo brasileiro criou o Parque Nacional da Serra da Capivara. E também foi por meio da paulista que as descobertas no sítio arqueológico do Piauí ganharam destaque internacional, em 1986, ao serem publicadas na prestigiada revista científica britânica Nature.

Cedida pelo governo francês, Niède se mudou definitivamente para São Raimundo Nonato em 1991 para administrar o parque, que foi reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Em 2020, a arqueóloga e fundadora do Parque Nacional da Serra da Capivara, Niéde Guidon, tomou posse na cadeira de número 24 na Academia Piauiense de Letras (APL).

A arqueóloga Niède Guidon recebeu em 2024 o título Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Piauí (UFPI), pelos seus mais de 50 anos de trabalho à frente das pesquisas arqueológicas realizadas na Serra da Capivara.

“Eu agradeço todos que me ajudaram durante esses anos com as pesquisas e a criar o Parque Nacional Serra da Capivara”, declarou Niède.

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