Três jovens relataram terem sido vítimas de agressões físicas, humilhações e abuso sexual por parte de policiais militares no município de Simplício Mendes (PI). O caso aconteceu no dia 2 de junho, na PI-249, e está sendo investigado pelo Ministério Público do Piauí.
As vítimas são dois irmãos do município de Nova Santa Rita e um primo, natural de São João do Piauí. Segundo os relatos, eles estavam a caminho da localidade Morro dos Cavalos, quando o carro em que estavam perdeu o controle em uma curva e capotou várias vezes. O acidente ocorreu por volta das 11h.
Após o acidente, os jovens foram encaminhados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ao Hospital Estadual José de Moura Fé. No entanto, ao chegarem à unidade de saúde, a vítima mais jovem relatou que foi obrigado por policiais militares a voltar ao local do acidente.
“Me jogaram no chão e começaram a bater”, diz vítima
Francis Junior, 18 anos, relatou em depoimento ao Ministério Público que foi levado ao local do acidente e agredido ainda no hospital. “Perguntaram o que eu fui fazer lá, me jogaram no chão, colocaram um pano no meu rosto e jogaram um balde de água. Eu não conseguia respirar”, disse. Segundo ele, as agressões continuaram mesmo após ser levado ao Quartel da PM.
O irmão dele, Francis de Sousa, 23 anos, também foi levado à sede da PM, onde afirma ter sido forçado a assistir ao espancamento de Ryckelme e a permanecer em silêncio sob ameaças. “Eles diziam que iam matar ele se eu não confessasse alguma coisa. Mas a gente não tinha feito nada”, declarou.
“Colocaram um cabo de rodo nas nossas partes íntimas”, relata primo
Ryckelme Harry Leite, de 21 anos, primo dos dois irmãos, também foi vítima. Ele afirmou ter sido agredido e submetido a abusos. Para ele, o trauma será permanente: “vou levar isso para o resto da vida”.
“Me botaram no chão e começaram a chutar o meu peito. Depois abaixaram a minha roupa e chegaram a aproximar um rodo atrás de mim, mas não penetraram. Aí mandaram o menino subir em cima de mim e ficar se esfregando. Eles também enfiaram uma arma na minha boca”, contou Ryckelme.
Investigação foi transferida para Teresina
O advogado das vítimas, Eduardo Marques, contou que soube do caso por familiares no dia 5 de junho e, no mesmo dia, levou Francis e Francis Junior à Promotoria de Justiça de Simplício Mendes, onde foi aberto um procedimento investigatório.
“Eles estavam com medo de ir à delegacia, com receio de confundir Polícia Civil e Militar. No dia seguinte, fomos até Picos para fazer o exame de corpo de delito. E na segunda-feira (9), o procedimento foi enviado à 9ª Promotoria de Teresina, que tem competência para investigar esse tipo de caso”, explicou o advogado.
Marques também afirmou que os três jovens não possuem antecedentes criminais e que, além das agressões físicas, foram alvos de ofensas racistas e humilhações. “Foram chamados de bandidos, saci-pererê e ‘neguinho’, de forma depreciativa”, denunciou.
O que diz a Polícia Militar
A Polícia Militar do Piauí se pronunciou informando que instaurou um procedimento administrativo para apurar a conduta dos agentes de segurança apontados na denúncia.
O Comandante da 2ª/CIA/14º BPM informa que instaurou procedimento investigatório para apurar de forma inequívoca e transparente as acusações veiculadas pela imprensa e redes sociais, em que jovens da cidade Nova Santa Rita alegam que supostamente foram vítimas de condutas ilegais e/ou irregulares por parte de policiais militares na cidade de Simplício Mendes.
O Comando da 2ª CIA/14º BPM reforça o compromisso, a imparcialidade e o zelo de bem servir a sociedade.