19 de julho de 2025

Criar Luz em Tempos de Sombra

Gratidão não é alienação. Ser grato não significa ignorar o mal, calar diante da injustiça ou negar que há feridas profundas no mundo.

Kyslley Urtiga

Psicóloga
Publicado há 1 dia

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Foto: Freepik

Nem toda sombra lançada por alguém carrega malícia intencional. Muitas vezes, pessoas que projetam escuridão ao redor estão, na verdade, imersas nas próprias dores não curadas. Vivem em conflito com a luz porque, em algum momento, se esqueceram de como confiar nela. O mundo lhes foi duro, e a proteção se tornou ataque. Quando compreendemos isso com compaixão, aprendemos que não precisamos reagir na mesma frequência. É possível olhar com empatia sem absorver, sem repetir.

Gratidão não é alienação. Ser grato não significa ignorar o mal, calar diante da injustiça ou negar que há feridas profundas no mundo. Pelo contrário: reconhecer a dor é o primeiro passo para curá-la. Mas, quando as mãos estão ocupadas em criar, seja através de um trabalho significativo, de relações afetuosas, do descanso necessário ou do próprio crescimento, falta energia para destruir o que outros estão construindo. A alma que constrói está em outra frequência.

É possível reconhecer um sistema quebrado sem recorrer ao ataque pessoal. É possível apontar falhas sem perpetuar o mal. E, acima de tudo, é possível caminhar com firmeza sem deixar que a indignação se transforme em amargura. A gratidão, nesse sentido, atua como uma âncora: ela não nega a realidade, mas oferece clareza, discernimento e sobriedade.

Quem está em processo de criação, contribuição e alinhamento com seus próprios valores se torna menos vulnerável à inveja e à crítica gratuita. Porque quando o foco está em construir algo melhor não apenas para si, mas também para os outros, o espaço para comparar e atacar se reduz. A pessoa verdadeiramente grata reconhece o que há de bom em sua vida e, por isso mesmo, não precisa se ocupar do que julga estar faltando na vida alheia.

Experimente trocar o julgamento pela curiosidade, a reclamação pela gratidão e a reação automática por uma resposta consciente. O mundo pode continuar imperfeito, mas sua experiência com ele se transforma. Você começará a ver beleza onde antes havia apenas caos. Notará resiliência onde antes via fraqueza. E reconhecerá pequenos sinais de progresso onde só via escassez.

As pessoas mais magnéticas não são aquelas que vivem intocadas pelas dificuldades, mas aquelas que, apesar delas, escolhem a dignidade e ainda encontram espaço para agradecer. Elas não vivem numa ilusão apenas decidiram que a esperança é uma forma legítima de resistência.

Porque quando se está em paz com a própria vida, a luz do outro não ameaça, não incomoda, não compete. Ela apenas brilha junto. E o que antes parecia ser uma disputa por espaço, torna-se uma oportunidade de expandir a luz coletiva.

No fim, o que conta não é apagar a sombra do outro, mas aprender a acender sua própria luz e ajudar, se possível, a criar mais luz para todos.

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