19 de julho de 2025

Do mar para o prato: a beleza salgada do nosso litoral

Culinariamente com Herschel Veras

Chef de cozinha
Publicado há 5 horas

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Prato com ostras (Foto: Herschel Veras)

Na França, tem chef que chora emocionado ao servir uma ostra. No Japão, o povo reverencia um atum como se fosse imperador. E na Espanha, camarão cru é tratado como joia rara. Já aqui, no nosso litoral do Piauí — que é pequeno no mapa, mas gigante na produção — ainda tem quem olhe torto pro peixe do dia achando que é “simples demais”.

Simples? Quem dera!

Montando o cardápio de um jantar em Barra Grande, inspiração de sobra com a vista: pense num pôr do sol que parecia pintura e num vento que dava gosto. Ali, decidi apostar no ariacó — um peixe que muita gente trata como coadjuvante, mas que, quando bem tratado, dá show de Oscar. Resultado? Um filé de ariacó grelhado, servido com purê de ervilhas e farofa crocante. Um prato digno de tapete vermelho e foto de capa (sim, vamos pôr a imagem na matéria e prepare-se para salivar).

É curioso: enquanto chefs mundo afora se derretem por tudo que vem do mar, aqui a gente às vezes esquece que o litoral do Piauí — esse pedacinho de costa entre Parnaíba, Luís Correia e Barra Grande — é um dos maiores tesouros gastronômicos do Brasil.

Ostras (Foto: Herschel Veras)

Foi comprovado que o litoral piauiense é muito mais do que “coadjuvante” no cenário nacional de frutos do mar. Em 2019, o Piauí produziu 2.319,7 toneladas de camarão-cinza (Litopenaeus vannamei), tornando-se o 7.º maior produtor do Brasil em carcinicultura. Ainda nos viveiros, nossa tilápia alcançou impressionantes 5.130 toneladas, refletindo a força da aquicultura local. Nos manguezais entre Parnaíba e Luís Correia, são extraídas mais de 1.200 toneladas de caranguejo-uçá anualmente, com fiscalização rigorosa e defeso regulamentado entre dezembro de 2024 e abril de 2025.

Os números não deixam dúvida: os pescados do litoral piauiense têm qualidade, técnica e reconhecimento. E estão prontos para conquistar qualquer cozinha do mundo. E o melhor? Tem sabor com sotaque, com história, com calor. Cada ingrediente conta um pedaço do nosso litoral.

Do mar para o prato (Foto: Herschel Veras)

Nosso ceviche de peixe branco, por exemplo, é um resumo do verão: refrescante, colorido e cheio de bossa. E o fettuccine com mexilhões, camarões e polvo é de deixar qualquer italiano desconfiado da própria macarronada.

E o que falta para a gente valorizar mais isso tudo? Só parar de achar que o bonito é o que vem de fora. Porque, meu povo, o mar do Piauí é pequeno, mas é fundo de riqueza. É só saber olhar, saber pescar — e principalmente, saber servir com carinho e coragem.

Então, da próxima vez que vir um peixe “simples” na peixaria, lembre-se: às vezes é o que falta é só um bom empratamento, um toque de criatividade… e um bocado de orgulho do que é nosso.

Sirva com amor, coma com os olhos e celebre o que vem do mar.

Até, com uma pitada de saudade e uma panela de novidades!

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