21 de julho de 2025

Analgésicos causando dor: deixe a informação entrar para a dor sair

Máriton Borges

Otorrinolaringologista
Publicado há 10 horas

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Uso indiscriminado de analgésicos (Foto: Freepik)

O dia a dia do consultório de otoneurologia é, em grande parte, ocupado por um perfil conhecido de pacientes: os portadores de enxaqueca (ou migrânea, como mais recentemente também tem sido chamada). Estes pacientes têm um perfil de sintomas muito típicos que vão muito além da dor de cabeça e incluem sensibilidade à luz (fotofobia), sensibilidade a sons (fonofobia), sensibilidade a cheiros (osmofobia), náuseas, vertigens e tonturas. A maioria já relata seus medicamentos de uso habitual quando aquela dor de cabeça aperta, já que não é fácil suportar as crises sem ajuda de algum analgésico de gaveta. Aí que chega o problema…

O uso de analgésicos de maneira indiscriminada sem o controle dos gatilhos ou tratamento adequado da doença de base pode agravar mais ainda o caso, determinando dores mais intensas e cada vez mais frequentes, uma vez que o uso repetido destas medicações pode deixar o sistema nervoso mais sensível à dor. O intervalo das crises pode encurtar a ponto de os pacientes relatarem o uso diário e por várias vezes ao dia das chamadas medicações abortivas da crise dolorosa. Desenvolve-se então  um novo diagnóstico: a cefaleia crônica induzida por analgésicos.

Na prática clínica, sempre averiguamos qual a frequência de uso de medicação abortiva da dor para determinarmos a intensidade do quadro e adequarmos a estratégia a ser tomada para prevenção das crises. Para início do tratamento, é sempre essencial explicar ao doente o caminho que deveremos percorrer até termos êxito no seu cuidado à saúde. Este cuidado integral passa por orientar (e cobrar a realização!) medidas comportamentais (identificação e prevenção de gatilhos; ajuste no sono, dieta e hidratação; estímulo à atividades físicas; tratamento adequado e controle de comorbidades físicas ou psicológicas) bem como avaliar a necessidade de uso de medicações que visam prevenir os episódios dolorosos, além, é claro, de suspender o uso frequente dos analgésicos de cronificaram o quadro.

A vida real mostra que, muitas vezes, uma boa consulta — com escuta atenta e orientações que realmente entrem na cabeça do paciente — já é suficiente para transformar a rotina, reduzir a frequência das dores e, com isso, diminuir também a dependência dos analgésicos. Informação, compreensão e mudança de hábitos caminham juntas no cuidado de quem convive com dor.

Máriton Borges – Otorrinolaringologista com subespecialidade em otoneurologia

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