Teresina completa, neste sábado (16), 173 anos de fundação. A capital planejada surgiu após o então presidente da província, José Antônio Saraiva, comunicar às demais autoridades do Império que a cidade passaria a ser a nova capital do Piauí. O centro histórico de Teresina carrega histórias, lutas e conquistas e, atualmente, vem sendo ocupado por diversos projetos que funcionam nas ruas e praças da região central.
O Portal ClubeNews destacou iniciativas que ajudam a revitalizar o Centro, como o Vem pra Saraiva, realizado na Praça Saraiva, que leva o nome do responsável pela fundação da capital, e o Boca da Noite, criado em 1997 e retomado recentemente.
Ações públicas e privadas resistem às dificuldades e fortalecem a cultura da cidade por meio da música, da arte, do incentivo ao empreendedorismo, do artesanato e de outras formas de atrair pessoas para o Centro, movimentando a região à noite e nos fins de semana.
Vem Pra Saraiva(Foto: Lucas Dias/Semcom)
Vem pra Saraiva
O projeto foi idealizado pela Prefeitura de Teresina com o objetivo de oferecer opções de lazer e atrair visitantes ao Centro. Os encontros acontecem nas manhãs de domingo e tiveram início em julho deste ano.
Vem pra Saraiva (Foto: Lucas Marreiros / G1)
No local histórico, o projeto conta com apresentações musicais, exposição, comercialização de produtos artesanais, gastronomia, oficinas e recreação infantil. A iniciativa é um convite para os teresinenses saírem de casa e prestigiarem o que a cultura local tem a oferecer, resgatando a memória da capital.
O titular da Superintendência de Desenvolvimento Urbano Centro (SDU/Centro), Eulálio Campelo, explicou à TV Clube que há a possibilidade de expansão das atividades para outras praças da região.
O Superintendente da SDU Centro, Eulálio Campelo (Foto: Semcom)
“A ideia, em um primeiro momento, é que ele permaneça na Praça Saraiva, mas nós percebemos que outras praças estão se movimentando para isso. Na Praça Pedro II já estão acontecendo alguns eventos, que é uma praça tradicionalmente ligada à cultura na cidade. Nós vamos sentar, reavaliar os eventos que estão ocorrendo. Vamos traçar um diagnóstico de novas ações; e, assim, decidir qual caminho tomar”, afirmou.
Para quem participa, além de diversão, o evento é uma oportunidade de empreender. É o caso da artesã Lygia Melo, que expõe seus produtos artesanais de costura como panos de prato, toalhas, aventais, etc.
Lygia Melo (blusa rosa) e uma cliente (Foto: arquivo pessoal)
Residente do bairro Noivos, na zona Leste, a empreendedora avalia que o projeto traz lembranças positivas de sua infância, quando assistia à missa com os pais na Igreja de Nossa Senhora das Dores e, em seguida, prestigiavam feiras na praça.
“Era um programa que eu amava fazer aos domingos. Então, estar na Saraiva como feirante, é um resgate afetivo de um tempo muito bom na minha vida. Levar às famílias para a praça, no Centro, aos domingos, é um lindo projeto de revitalização e resgate afetivo. Divulga o trabalho dos artesãos de Teresina, leva cultura e entretenimento para pessoas não só da zona leste, onde inicialmente as feiras se concentram, mas tornando-as mais acessíveis a moradores de todas as zonas de Teresina”, ressaltou Lygia.
Produtos de Lygia no Vem pra Saraiva (Foto: arquivo pessoal)
Boca da Noite
Também de iniciativa pública, o projeto Boca da Noite acontece no Centro de Teresina, levando apresentações musicais gratuitas todas as quartas-feiras, no Espaço Osório Júnior, localizado no Complexo Clube dos Diários.
Fundado em 13 de agosto de 1997, pelo Governo do Estado e promovido pela Secretaria de Estado de Cultura, o Boca da Noite busca valorizar a música autoral piauiense.
Apresentação no Boca da Noite (Foto: Secult)
O projeto se expandiu e, atualmente, é realizado em mais nove cidades piauienses, além da capital. O objetivo é valorizar e dar visibilidade aos músicos do Piauí, divulgando o trabalho e dando oportunidade aos artistas locais.
Umas das bandas que se apresentará no evento é a Floral da Terra Quente. O grupo surgiu em 2018, a partir da ideia de juntar amigos de amigos para repercutir de maneira coletiva as músicas de cada integrante. Para uma das vocalistas, Maria Clara Leite, o Boca da Noite abre espaço para a cultura na cidade.
“Acho um projeto superimportante! Ele abre espaço para muita arte, música e cultura na cidade. É uma movimentação legal até mesmo por ser algo que acontece no Centro da cidade. É uma forma de fortalecer a cena cultural de Teresina”, relatou Maria.
Juscelino Alves também é integrante da banda e contou ao Portal ClubeNews que cresceu ouvindo falar sobre o projeto, como ele ajudava o cenário cultural e transformava a música local.
“Meu sonho era participar de algo nesse estilo. Nós, da Florais, temos muita sorte de poder estar participando do retorno do projeto. Esperamos dar tanto orgulho para o público de agora quanto os artistas das gerações passadas deram nas edições anteriores”, pontuou.
Banda Florais da Terra Quente (Foto: arquivo pessoal)
O secretário da Secult, Rodrigo Amorim, destacou a importância do projeto em valorizar a música piauiense ajudando o artista do cenário local a expandir suas músicas. Além disso, segundo ele, a iniciativa reflete na valorização da cultura alinhada à revitalização do Centro.
O secretário de Cultura do Piauí, Rodrigo Amorim (Foto: Secult)
“O Boca da Noite tem o papel importante de valorizar o artista piauiense. O Boca da Noite tem mais de 20 anos, é um projeto que busca valorizar e estimular a criação de composições piauienses”, analisou.
Seis e Meia
Com a proposta de colocar artistas locais e nacionais para se apresentarem no Centro de Teresina, nasceu o projeto Seis e Meia. Com quase 30 anos de existência, a iniciativa foi retomada em 2015 pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult).
Os eventos acontecem no Teatro 4 de Setembro, oferecendo ao público música de qualidade e dando oportunidade a artistas da terra mostrarem seu talento. Grandes nomes do cenário nacional também já se apresentaram no palco, como Frejat, Adriana Calcanhoto, Zeca Baleiro, Alcione, Elza Soares e outros.
O cantor piauiense Flávio Moura no projeto Seis e Meia (Foto: Secult)
Na mais recente edição, que aconteceu na última quarta-feira (12), o cantor e compositor Peninha se apresentou no teatro. O projeto tornou-se referência na cultura da capital, contribuindo para atrair o público para o Centro de Teresina.
O cantor Peninha no projeto Seis e Meia (Foto: Secult)
O secretário da Secult, Rodrigo Amorim, explicou ao Portal ClubeNews que o projeto convida as pessoas a visitarem o Centro, reforçando que há um reforço na segurança, além da revitalização de prédios patrimoniais do Governo do Estado, como o Teatro 4 de Setembro e o Cine Rex, que vai se transformar em uma escola de cinema.
“Essas atividades culminam com a nossa intenção de fazer o Centro se destacar pela sua estrutura, pelo histórico patrimonial. Então, a gente consegue vender uma cidade que tem uma história, uma identidade e que esses prédios guardam muita coisa do que é da nossa cidade em termos históricos e culturais”, pontuou.
Diante do sucesso, em 2016 o Seis e Meia foi ampliado para outras cidades piauienses como Floriano, Piripiri, Parnaíba, Corrente, Bom Jesus e Oeiras. As atividades no interior do estado devem acontecer no segundo, nos meses de outubro e novembro.
Samba no Coreto
A paixão pelo samba e pelo Centro de Teresina uniu um grupo de amigos no dia 2 de dezembro de 2008, o Dia Nacional do Samba, na Praça Pedro II para comemorar a data. O evento foi um sucesso e tornou-se uma tradição mantida há 16 anos, conhecida como ‘Samba no Coreto’.
Os encontros acontecem sempre na segunda quarta-feira de cada mês, no mesmo local, contando com a participação de convidados especiais, promovendo uma roda de samba aberta ao público.
Samba no Coreto (Foto: arquivo pessoal)
O diretor do projeto, Fábio Santos, contou ao Portal ClubeNews que a proposta é levar mais pessoas para o Centro estimulando sua ocupação com cultura, além da valorização do samba, estilo musical tradicional do Brasil.
“A proposta do Samba no Coreto é valorizar o samba e o sambista, mostrando que no Piauí existe samba de qualidade. Além disso, o projeto busca revitalizar o Centro de Teresina, que por muito tempo esteve parado e esquecido, promovendo cultura e ocupação positiva do espaço público”, comentou.
Fábio conta que o projeto Samba no Coreto ajuda no desenvolvimento da economia da cidade, com o incentivo de pequenos empreendedores, que conseguem comercializar seus produtos nos dias de evento. “Também contribui para o fortalecimento econômico da região, gerando emprego e renda para ambulantes e comerciantes que atuam no entorno durante os eventos”, pontuou.
Samba no Coreto (Foto: arquivo pessoal)
Casa Barro
Com a proposta de oferecer experiências culturais que incluem apresentações musicais, eventos temáticos, feiras, exposições e momentos de convivência, a Casa Barro nasceu em 2018. Localizada na Rua Lisandro Nogueira, no Centro, o espaço reúne artistas, públicos diversos e agitadores culturais.
Show na Casa Barro (Foto: Ascom)
A produtora do local, Suellen Morais, destacou que a ideia é conectar criadores e público, fomentando a economia criativa e incentivando a valorização da arte de Teresina e do Nordeste. “Surgiu da vontade de criar um lugar que fosse mais do que um bar ou casa de shows, um ambiente onde a arte e a cidade pudessem se encontrar de forma orgânica”, pontuou.
Atividades da Casa Barro (Foto: Ascom)
Ainda de acordo com Suellen, a escolha do Centro deve-se ao seu valor simbólico e histórico. O funcionamento do local varia conforme a programação, quase sempre nas noites de quinta-feira a domingo, além de eventos especiais em datas específicas.
“É uma região que carrega a memória e a identidade da cidade, além de estar em um ponto acessível para diferentes públicos. A presença da Casa Barro no Centro também dialoga com o movimento de reocupar e revitalizar a área central, trazendo vida e novas experiências para um espaço que já foi e pode voltar a ser um grande polo cultural”, disse.
Labirintus Gourmet
Entre os locais que movimentam o Centro de Teresina, existem aqueles cuja história se mistura com a da cidade. É o caso do Labirintus Gourmet, que existe há 22 anos e reúne frequentadores de todas as regiões do município.
Labirintus Gourmet (Foto: Ascom)
Em entrevista ao Portal ClubeNews, a chefe de cozinha e fundadora do estabelecimento, Claudia Sales, contou que o empreendimento começou como uma lanchonete que fornecia comida para uma escola de reforço.
O sucesso foi tanto que ganhou proporção maior até se tornar um restaurante que conquistou frequentadores fiéis que buscam, além de degustar a culinária regional, ouvir uma boa música, sobretudo samba.
Samba no Labirintus Gourmet (Foto: Ascom)
“Hoje a nossa proposta de lazer é, além de proporcionar os nossos clientes uma boa alimentação regional e bem caseira, trazermos grandes artistas e fazermos festas de vários estilos e gostos, mais o principal é o samba. Sempre morei no Centro de Teresina, e meu meio de convivência foi aqui e vai continuar sendo, por ser o melhor lugar do mundo”, disse a chefe de cozinha.
O Labirintus funciona de segunda a sábado, para almoço, e com shows à noite, a partir das 17h. Para a fundadora, a valorização dos artistas locais é uma maneira de incentivar a revitalização do ‘coração de Teresina’.
“Nossa colaboração para ajudar fortalecer a cultura em Teresina é nos mantermos onde estamos, fazendo o que já fazemos, e trazendo cada vez mais os melhores artistas, fazendo nossos eventos de acordo com cada época do ano, e continuar com nosso boa culinária”, concluiu.
Seu Javas
Outro estabelecimento localizado no Centro que, recentemente, conquistou o gosto dos teresinenses é o Seu Javas, situado na Rua Doutor Arêa Leão. O espaço nasceu do desejo dos sócios Fábio Nery, Fabrício Nery, Bruno Rodrigues e Matheus Gabriel de criar um bar no estilo “butequinho de esquina”, aliado a um ambiente que transmitisse familiaridade e oferecesse fácil acolhimento a todos que quisessem participar.
Inaugurado em maio de 2025, o Seu Javas tem inspiração nos bares de rua das grandes cidades e atrai um público diversificado. A proposta vai além do espaço interno: as calçadas e a rua tornam-se parte da experiência, proporcionando um ambiente para apreciar os diversos artistas que se apresentam no local.
Seu Javas (Foto: arquivo pessoal)
Matheus Gabriel conta que o Centro é uma região bastante carente em termos de opções de lazer e cultura, e o bar surgiu justamente com a proposta de ocupar as ruas com vida e expressão cultural, suprindo uma necessidade sentida por muitos moradores. Assim, os amigos queriam mostrar que, apesar do abandono e dos desafios estruturais, a região ainda tinha um grande potencial.
“O Centro, é bem carente, não temos tantas opções, o bar veio para ocupar a rua com cultura. Acredito que as pessoas sintam falta disso”, comentou o sócio.
Para muitos, o empreendimento representa uma novidade, mas, para outros, como Matheus, morador da área, o espaço desperta memórias afetivas. Ele relembrou uma época em que a região era mais movimentada, com bares tradicionais e eventos culturais marcantes, como o Boca da Noite, que agora volta a fomentar a cultura na capital.
Público se divertindo (Foto: arquivo pessoal)
“Eu tenho memórias, pois sou morador do Centro. Tivemos vários bares legais no passado, eventos tipo o Boca da Noite, que está voltando. Nosso público mais jovem, eu creio que não tenha tantas boas lembranças assim, mas o público mais velho creio que compartilhe das mesmas lembranças“, avaliou.
O Seu Javas não só conquistou o público, como também reacendeu o debate sobre a importância de revitalizar os espaços urbanos com música e cultura.
Todos os projetos e estabelecimentos citados nesta reportagem especial mostram o potencial que o Centro de Teresina tem para atrair o público com a proposta de proporcionar alegria e memórias marcantes na mente de quem tem amor pela ‘Terra do Sol do Equador’.