28 de dezembro de 2025

Finasterida e dutasterida contra a calvície: benefícios, riscos e alertas das agências de saúde

Urologia
Atualizado em 08/09/2025 06:00

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Finasterida e dutasterida no uso da calvície (Foto: g1)

A finasterida e a dutasterida são medicamentos da classe dos inibidores da 5α-redutase (5ARI). Elas atuam reduzindo a conversão da testosterona em di-hidrotestosterona (DHT), hormônio ligado à calvície androgenética e à hiperplasia prostática benigna (HPB).

Embora eficazes, ambas as drogas estão associadas a efeitos adversos sexuais e psiquiátricos, o que motivou alertas recentes de agências regulatórias como FDA (EUA), MHRA (Reino Unido) e ANVISA (Brasil).

Efeitos sexuais: o que mostram os estudos

Nos ensaios clínicos com finasterida 1 mg/dia (calvície), observou-se um pequeno aumento no risco de disfunção erétil e queda de libido em relação ao placebo:

  • Disfunção erétil: 1,3% com finasterida vs. 0,7% com placebo.
  • Queda de libido: 1,8% vs. 1,3%.

Uma revisão sistemática da literatura mostrou risco 66% maior de “qualquer disfunção sexual” em relação ao placebo. Porém, como a base é baixa, o aumento absoluto continua pequeno.

Na dose de 5 mg/dia (para hiperplasia prostática benigna) e também com a dutasterida 0,5 mg/dia, os números sobem: por exemplo, “impotência” em 8,1% dos pacientes no primeiro ano vs. 3,7% com placebo.

A maioria melhora com o tempo ou até sem suspender o medicamento. Os estudos mostram que a disfunção erétil ocorre sobretudo no primeiro ano, com remissão completa em metade dos pacientes após 12 meses e melhora progressiva depois (Wessels et al., 2003; Moinpour et al., 2007).

Efeitos persistentes e síndrome pós-5ARI

Tanto a finasterida quanto a dutasterida têm relatos de pacientes que mantiveram baixa libido, disfunção erétil e alterações de humor mesmo após interromper o uso.

  • A MHRA (agência regulatória do Reino Unido) incluiu em 2024 um alerta: disfunção sexual pode persistir, e médicos devem monitorar também depressão e ideação suicida.
  • Em junho de 2025, a ANVISA exigiu que as bulas de medicamentos contendo finasterida e dutasterida fossem atualizadas com advertências sobre riscos de saúde mental e disfunções sexuais.
  • O fenômeno, conhecido como “síndrome pós-finasterida” ou “pós-5ARI”, ainda é debatido, mas levou as agências a pedirem cautela e vigilância.

Possíveis mecanismos explicativos

  • O bloqueio da 5α-redutase no cérebro pode reduzir a formação de neuroesteroides, que regulam o desejo sexual (Gur et al., 2013).
  • O efeito nocebo também pode estar envolvido: quando o paciente sabe dos efeitos possíveis, a chance de relatá-los aumenta, mesmo sem relação direta com a ação da droga (Mondaini et al., 2007). Isso não anula os riscos reais, mas mostra que expectativa negativa pode amplificar sintomas.

Finasterida tópica: mito da segurança

Em abril de 2025, a FDA (EUA) emitiu um alerta sobre o uso de finasterida tópica manipulada (loções, sprays):

  • Não há produtos tópicos aprovados.
  • Foram registrados 32 casos de eventos adversos entre 2019 e 2024, incluindo disfunção erétil, ansiedade, depressão, insônia, dor testicular e confusão mental.
  • Os sintomas persistiram em parte dos pacientes mesmo após a suspensão.
  • Além dos riscos sistêmicos, há reações locais (irritação, descamação, ardência) e risco de exposição indireta a mulheres grávidas, que não devem ter contato com a substância.

Como reduzir riscos (em conjunto com seu médico)

  • Avaliar fatores prévios: libido, ereção, humor, uso de antidepressivos, apneia do sono, álcool e tabagismo.
  • Revisar periodicamente a necessidade, a dose e o tempo de uso.
  • Considerar alternativas ou combinações: minoxidil, microagulhamento, laser de baixa intensidade ou transplante capilar.
  • Se surgirem efeitos sexuais ou depressivos, não ignore: converse com o médico. Ajustes de dose, pausa, troca de tratamento ou tratamento específico podem ser necessários.
  • Evitar formulações tópicas manipuladas sem acompanhamento médico.

Conclusão

Tanto a finasterida quanto a dutasterida são eficazes, mas podem causar efeitos sexuais e psiquiátricos, geralmente em baixa frequência e muitas vezes reversíveis. A dutasterida, por ser mais potente e duradoura, pode ter risco maior e mais persistente de efeitos colaterais. Parte dos sintomas relatados pode estar ligada ao efeito nocebo, mas as agências de saúde reforçam: a informação clara e o acompanhamento médico são fundamentais.

Dr. Giuliano Aita, membro do Departamento de Andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia


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