
Quando se fala em saúde, a maioria das pessoas pensa logo na ausência de doenças. Mas especialistas destacam que essa visão é limitada. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.
Essa definição, criada em 1948, foi considerada revolucionária por ir além do corpo físico, incluindo fatores emocionais e sociais. No entanto, no século XXI, o conceito ganhou novas camadas. Hoje, viver com saúde significa manter um equilíbrio entre diferentes dimensões da vida: corpo, mente, ambiente, relações sociais e até espiritualidade.
Para o médico e pesquisador William Amzallag, autor do livro A Promessa da Imortalidade, saúde não deve ser entendida como algo estático, mas como um equilíbrio dinâmico, também chamado de homeostase biológica.
A homeostase é a capacidade do organismo de manter estáveis suas funções internas, mesmo quando o ambiente externo muda. É ela que mantém, por exemplo, a temperatura corporal próxima dos 37 °C, regula a glicose no sangue, controla o equilíbrio de sais minerais, ajusta o pH e estabiliza a pressão arterial.
“Estar vivo é estar em homeostase”, afirmam pesquisadores. Quando esse mecanismo falha gravemente, a vida entra em risco.
Amzallag reforça que um organismo saudável não é aquele que nunca enfrenta problemas, mas aquele que consegue se adaptar, regenerar e corrigir desequilíbrios de forma eficiente. Em sua visão, saúde está ligada à capacidade de o corpo e a mente se renovarem constantemente, preservando vitalidade e qualidade de vida mesmo com o avanço da idade.
Dois casos ilustram bem a limitação de pensar saúde apenas como ausência de sintomas:
- Atletas jovens e aparentemente saudáveis: estima-se que a cada ano, entre 1 em 50.000 a 1 em 80.000 atletas jovens sofram morte súbita, muitas vezes por cardiopatias não diagnosticadas como miocardiopatia hipertrófica. Estudos ampliam essa estimativa para entre 1 em 40.000 a 1 em 80.000 atletas-ano (NCBI, PubMed). Em eventos como maratonas, taxas de parada cardíaca diminuíram graças à rápida atuação de serviços médicos e uso de desfibriladores, mas ainda foram registrados 176 casos de parada cardíaca e 59 mortes em 29,3 milhões de corredores entre 2010 e 2023 (The Washington Post).
- Adultos ativos com rotinas intensas: no Brasil, dados da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC) indicam que a morte súbita é responsável por cerca de 300 a 320 mil mortes por ano, ou seja, uma pessoa a cada dois minutos (Prefeitura de São Paulo, pinzon.com.br). Isso ocorre mesmo em indivíduos sem sintomas aparentes, especialmente em homens entre 45 e 75 anos, mas também atinge jovens e atletas.
Esses exemplos mostram que saúde não pode ser reduzida a “não sentir dor” ou “não estar doente”. O corpo pode esconder desequilíbrios sérios que só se revelam em situações críticas.
Além das mortes súbitas, as doenças cardiovasculares (DCV) são uma das principais causas de mortalidade global e no Brasil:
- No mundo, as doenças cardiovasculares são responsáveis por aproximadamente 18 milhões de mortes por ano, o que representa cerca de 30% de todas as mortes globais (SciELO).
- No Brasil, em 2022, cerca de 400 mil pessoas morreram por doenças cardiovasculares, incluindo infarto e AVC — cerca de 1.096 mortes por dia (Observatório da Atenção Primária). Embora os números absolutos tenham aumentado devido ao envelhecimento populacional, a taxa ajustada por idade caiu de 356 para 158 mortes por 100 mil habitantes entre 1990 e 2022, uma redução de mais de 50% .
Esses dados reforçam que, mesmo com avanços, as DCV ainda representam um enorme desafio de saúde pública e sublinham a importância de enxergar a saúde além da ausência de sintomas.
Especialistas concordam que saúde deve ser vista como um processo contínuo, e não como um estado definitivo. Isso significa que escolhas diárias — como alimentação equilibrada, prática de exercícios, sono de qualidade, controle do estresse e boas relações sociais — são determinantes para fortalecer o organismo e sustentar sua homeostase.
Cuidar da saúde, portanto, é investir em um estilo de vida que favoreça a resiliência, apto a enfrentar os desafios da vida moderna, marcada por estresse, excesso de estímulos digitais, poluição e isolamento social.
O desafio do século XXI
O entendimento atual é que saúde envolve múltiplas dimensões:
- Física: manter o corpo ativo e nutrido.
- Mental: cuidar das emoções e preservar o equilíbrio psicológico.
- Social: ter relações de apoio e pertencimento.
- Ambiental: viver em condições que favoreçam a vida.
- Espiritual (para muitos): encontrar propósito e sentido.
Ao unir a definição da OMS com a visão de Amzallag, e amparar com dados reais, surge uma mensagem clara: saúde é equilíbrio dinâmico. É viver bem, com vitalidade e significado — em todas as fases da vida, e sobretudo como um processo ativo de adaptação e prevenção.
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